Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
O tipo “Anjo <strong>do</strong> lar” não era o único modelo de mulher existente naquele perío<strong>do</strong><br />
social, <strong>em</strong>bora ele fosse o <strong>do</strong>minante. Mesmo dentro da estrutura <strong>do</strong>méstica, a mulher<br />
começava a buscar mudanças. É o que se conheceu mais tarde como “a nova mulher”<br />
(LEDDGER, 1997). Contrastan<strong>do</strong> com o tipo “Anjo <strong>do</strong> lar”, este outro modelo <strong>f<strong>em</strong>inino</strong><br />
era conheci<strong>do</strong> “por sua educação, independência e desprezo pelos antigos valores<br />
familiares, além de ignorar os limites entre os comportamentos masculino e <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>”<br />
(MORAES, 2009, p. 34). Percebe-se que a literatura representou tal época, ao criar figuras<br />
f<strong>em</strong>ininas que correspondiam ou ao ideal da mulher Vitoriana ou fugiam dele. O romance<br />
de Kate Chopin é um ex<strong>em</strong>plo de como os escritores lidavam com estas representações<br />
<strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> na sociedade vitoriana. O <strong>Despertar</strong> apresenta a caracterização <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos<br />
de mulheres dessa sociedade: aquela que se enquadra no estereótipo <strong>do</strong> “Anjo <strong>do</strong> lar” e<br />
aquela que foge completamente dele. É o caso das personagens Adèle Ratignolle e Edna<br />
Pontellier. Para se entender melhor a caracterização de Edna como o oposto da figura<br />
pre<strong>do</strong>minante da mulher da Era Vitoriana é necessário apresentar o tipo de mulher que<br />
simbolizava tal sociedade – Adèle.<br />
Adèle Ratignolle, a amiga creole de Edna, é apresentada na narrativa num momento<br />
<strong>em</strong> que o narra<strong>do</strong>r, <strong>em</strong> consonância com a protagonista da estória, caracteriza o que seria<br />
a mulher tipo maternal – o protótipo da Grande Mãe:<br />
As mulheres <strong>do</strong> tipo maternal pareciam pre<strong>do</strong>minar, naquele verão, <strong>em</strong> Grand<br />
Isle. Era fácil reconhecê-las, esvoaçan<strong>do</strong> por ali com asas abertas e protetoras<br />
s<strong>em</strong>pre que algum dano, real ou imaginário, ameaçava sua preciosa cria. Eram<br />
mulheres que i<strong>do</strong>latravam seus filhos, a<strong>do</strong>ravam seus mari<strong>do</strong>s, e valorizavam<br />
como um privilégio divino anular<strong>em</strong>-se como indivíduos e cultivar<strong>em</strong> asas qual<br />
anjo tutelares (CHOPIN, 1994, p. 19) 89.<br />
Logo <strong>em</strong> seguida, ela é caracterizada como o ex<strong>em</strong>plo da Mulher-Mãe: “[...] uma<br />
delas era a corporificação de toda a graça e charme <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>s. [...] Ela se chamava Adèle<br />
Ratignolle” 90 (CHOPIN, 1994, p. 19). Como se percebe, nesses trechos, a mulher<br />
89 “The motherwomen se<strong>em</strong>ed to prevail that summer at Grand Isle. It was easy to know th<strong>em</strong>, fluttering about with<br />
extended, protecting wings when any harm, real or imaginary, threatened their precious brood. They were women<br />
who i<strong>do</strong>lized their children, worshiped their husbands, and este<strong>em</strong>ed it a holy privilege to efface th<strong>em</strong>selves as<br />
individuals and grow wings as ministering angels” (CHOPIN, 2006, p. 888).<br />
90 “[…] one of th<strong>em</strong> was the <strong>em</strong>bodiment of every womanly grace and charm […] Her name was Adele Ratignolle”<br />
(CHOPIN, 2006, p. 888).<br />
113