Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
Novamente, este ambiente líqui<strong>do</strong> ganha o status de amante, por substituir a figura <strong>do</strong><br />
jov<strong>em</strong> Lebrun. S<strong>em</strong> a companhia de Robert e ten<strong>do</strong> autonomia para controlar seu corpo<br />
dentro <strong>do</strong> mar, “Edna passava boa parte <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po na água” 193 (CHOPIN, 1994, p. 65). É<br />
nesta atividade que a heroína encontra sua única fonte de prazer na ilha de veraneio. Na<br />
iminência de ter que deixar o paraíso da ilha, Edna entrega-se às águas como se elas<br />
foss<strong>em</strong> capazes de lhe preencher o vazio deixa<strong>do</strong> por Robert. De certa forma, a imersão<br />
da heroína nas águas <strong>do</strong> Golfo <strong>do</strong> México atua como uma fonte de fortalecimento, uma<br />
vez que ela sai das águas revigorada: “Edna mergulhou e na<strong>do</strong>u com uma impetuosidade<br />
que a estimulou e revigorou” 194 (CHOPIN, 1994, p. 69). O revigoramento que as águas<br />
oferec<strong>em</strong> à personag<strong>em</strong> terá papel fundamental no mo<strong>do</strong> como ela volta para a terra<br />
firme, a cidade de New Orleans, depois que a t<strong>em</strong>porada de verão <strong>em</strong> Grand Isle termina.<br />
As experiências vividas por Edna Pontellier na ilha de veraneio exerc<strong>em</strong> um poder<br />
contrário ao espera<strong>do</strong> por esse tipo de vivência. Comumente, uma t<strong>em</strong>porada longe das<br />
atividades cotidianas renova as energias de uma pessoa para fazer com que ela volte à<br />
rotina. No caso de Edna, o que ela experimenta na ilha faz com que ela retorne a New<br />
Orleans ignoran<strong>do</strong> suas atividades como esposa e mãe, ou seja, ignoran<strong>do</strong> sua existência<br />
externa, moldada de acor<strong>do</strong> com les convenances. A nova forma de sentir o mun<strong>do</strong> a sua<br />
volta, que foi despertada durante a t<strong>em</strong>porada <strong>em</strong> Grand Isle, se materializa na cena que<br />
mostra o sentimento de Edna Pontellier <strong>em</strong> relação ao espaço <strong>em</strong> que habita <strong>em</strong> New<br />
Orleans:<br />
Edna olhava fixamente para a frente com expressão absorta. Não sentia<br />
interesse por qualquer coisa que a cercava. A rua, as crianças, o vende<strong>do</strong>r de<br />
frutas, as flores crescen<strong>do</strong> ali debaixo de seus olhos, tu<strong>do</strong> fazia parte de um<br />
mun<strong>do</strong> exterior que se tornava subitamente antagônico 195 (CHOPIN, 1994, p.<br />
75).<br />
A mudança no comportamento de Edna, ao retornar de Grand Isle, é vista por<br />
Léonce, seu mari<strong>do</strong>, como uma fraqueza mental; mas, como revela a voz <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r, o<br />
193 “She spent much of her time in the water” (CHOPIN, 2006, p. 927).<br />
194 “Edna plunged and swam about with an aban<strong>do</strong>n that thrilled and invigorated her” (CHOPIN, 2006, p. 930 –<br />
931).<br />
195 “Edna looked straight before her with a self-absorbed expression upon her face. She felt no interest in anything<br />
about her. The street, the children, the fruit vender, the flowers growing there under her eyes, were all part and<br />
parcel of an alien world which had suddenly become antagonistic” (CHOPIN, 2006, p. 935).<br />
178