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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

de Nô, as mãos dele viriam com aquela carícia das ondas” (REGO, 2003, p. 232); “O<br />

hom<strong>em</strong> [Nô] e o mar tinham fica<strong>do</strong> <strong>do</strong>nos dela” (REGO, 2003, p. 290); “A força que ele<br />

[Nô] tinha era como a força <strong>do</strong> mar, espalhava-se, confundia-se com o que era seu”<br />

(REGO, 2003, p. 303).<br />

Operan<strong>do</strong> de forma diferenciada <strong>do</strong> que ocorre no romance de Kate Chopin,<br />

<strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> mostra uma simbiose entre as águas <strong>do</strong> mar e a protagonista. Nesse espaço<br />

líqui<strong>do</strong>, Edna/Eduarda será identificada sob a forma de <strong>do</strong>is seres marítimos: as sereias e<br />

os peixes. A associação entre a protagonista e as águas <strong>do</strong> mar é revelada explicitamente<br />

quan<strong>do</strong> o narra<strong>do</strong>r mostra como a heroína se sente <strong>do</strong>na e parte das águas <strong>do</strong> mar:<br />

“Na<strong>do</strong>u para os arrecifes. O mar era seu. [...] To<strong>do</strong> o mar era seu. Estendeu-se sobre as<br />

águas como se fosse um el<strong>em</strong>ento ali de dentro. Boiou. O seu corpo se deixou levar,<br />

sozinha” (REGO, 2003, p. 195) (Grifos nossos). O outro mo<strong>do</strong> de mostrar a<br />

integralização entre a protagonista e o mar é identifica<strong>do</strong> na visão que alguns mora<strong>do</strong>res<br />

da comunidade de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> têm sobre a sueca. Para Neco de Lourenço,<br />

Edna/Eduarda, imersa no mar, é a imag<strong>em</strong> de uma sereia: “Neco de Lourenço dizia que<br />

ela tinha corpo de sereia. Qu<strong>em</strong> visse a galega boian<strong>do</strong> com aqueles cabelos louros de<br />

rainha, diria que era uma sereia, esperan<strong>do</strong> o besta para puxar para dentro das águas”<br />

(REGO, 2003, p. 171). Como afirmam Gilbert e Gubar (1984, p. 79), para a concepção<br />

pautada no patriarcalismo, a mulher que d<strong>em</strong>onstrasse fugir da estereotipia <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>,<br />

como o faz Edna/Eduarda através <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio sobre as águas <strong>do</strong> mar, é vista “como<br />

terríveis objetos – Górgonas, Sereias, Silas, Lâmias, Mães da Morte ou Deusas da<br />

Noite” 230 (GILBERT & GUBAR, 1984, p. 79).<br />

A imag<strong>em</strong> criada por Neco aparecerá momentos seguintes, <strong>em</strong> uma repetição <strong>do</strong><br />

trecho anterior, para, b<strong>em</strong> ao mo<strong>do</strong> de José Lins <strong>do</strong> Rego, constituir uma assertiva de<br />

relevância para a caracterização da protagonista: “Neco de Lourenço vira a sereia que<br />

tinha o corpo da galega com os cabelos louros de rainha boian<strong>do</strong> sobre as águas”<br />

(REGO, 2003, p. 173 – 174).<br />

O próprio narra<strong>do</strong>r, algumas vezes, vale-se da associação entre Edna/Eduarda e as<br />

sereias, para mostrar o mo<strong>do</strong> como ela se incorpora ao mar. Mas, ao usar essa<br />

aproximação, ele não deixa transparecer o teor negativo que a fala <strong>do</strong> personag<strong>em</strong> Neco<br />

230 “from a male point of view, women who reject the submissive silence of <strong>do</strong>mesticity have been seen as terrible<br />

objects – Gorgons, Sirens, Scyllas, Serpent-Lamias, Mothers of Death or Goddess of Night”.<br />

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