Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />
____________________________________________________________________<br />
noite <strong>do</strong> jantar de despedida, “Vênus <strong>em</strong>ergin<strong>do</strong> da espuma não teria apresenta<strong>do</strong> um<br />
espetáculo mais arrebata<strong>do</strong>r que a Sra. Pontellier, refulgin<strong>do</strong> de beleza e diamantes à<br />
cabeceira da mesa” 200 (CHOPIN, 1994, p. 148). A comparação entre Edna e<br />
Afrodite/Vênus nos r<strong>em</strong>ete ao início da narrativa, quan<strong>do</strong> a protagonista surge <strong>do</strong> mar, à<br />
s<strong>em</strong>elhança daquela deusa. Ao trazer para o final da narrativa a mesma imag<strong>em</strong> com que<br />
se inicia o romance, a narrativa ganha um caráter cíclico, mostran<strong>do</strong> que o espaço das<br />
águas, de onde surge a protagonista <strong>em</strong> <strong>do</strong>is momentos significativos da trama, no início e<br />
no fim <strong>do</strong> romance, é um espaço de destaque, de onde tu<strong>do</strong> brota e para onde tu<strong>do</strong><br />
converge. Ainda, o trecho da comparação reforça a ideia de nascimento, que já está<br />
expressa no início <strong>do</strong> romance quan<strong>do</strong> o narra<strong>do</strong>r apresenta a protagonista vinda <strong>do</strong> mar,<br />
como se ela acabasse de ser gerada pela espuma que surge quan<strong>do</strong> as águas tocam<br />
violentamente a praia.<br />
O caminho que Edna percorre <strong>do</strong> local onde encontra Victor e Mariequita até a<br />
praia é feito “quase que mecanicamente” 201 (CHOPIN, 1994, 149), como se algo mais<br />
poderoso <strong>do</strong> que ela lhe atraísse para o Golfo, distancian<strong>do</strong> os seus probl<strong>em</strong>as de seu<br />
pensamento. Ao que parece, dada à noite de vigília, às horas de reflexão, à viag<strong>em</strong> de<br />
barco de New Orleans a Grand Isle, e à fome que diz ter, Edna encontra-se exausta. Mais<br />
uma vez, ela busca rejuvenescimento, revigoramento para si nas águas <strong>do</strong> mar.<br />
A primeira imag<strong>em</strong> que a heroína t<strong>em</strong> das águas <strong>do</strong> mar diante de si é a de um<br />
espelho, que reflete as miríades de pequenos sois: “A água <strong>do</strong> Golfo se estendia à sua<br />
frente, faiscan<strong>do</strong> com os milhões de reflexos <strong>do</strong> sol” (CHOPIN, 1994, p. 50). Segun<strong>do</strong> o<br />
Dicionário de símbolos, o sol pode ser toma<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s símbolos que representam<br />
conhecimento e iluminação (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p. 836 - 841).<br />
Dessa forma, o que brilha para Edna nas águas <strong>do</strong> Golfo é o reflexo <strong>do</strong> entendimento que<br />
ela adquiriu <strong>em</strong> seu processo de despertar ocorri<strong>do</strong> ao longo da narrativa. O momento <strong>em</strong><br />
que Edna exterioriza essa certeza de que atingiu um esta<strong>do</strong> de iluminação encontra-se na<br />
cena <strong>em</strong> que ela diz para o <strong>do</strong>utor Mandelet: “talvez [fosse] melhor acordar, afinal,<br />
200 “Venus rising from the foam could have presented no more entrancing a spectacle than Mrs. Pontellier, blazing<br />
with beauty and diamonds at the head of the board” (CHOPIN, 2006, p. 997).<br />
201 “rather mechanically” (CHOPIN, 2006, p. 896).<br />
180