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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

____________________________________________________________________<br />

representação de gênero dentro da literatura. A escolha de Frederico Moreau, de Educação<br />

sentimental, <strong>em</strong> detrimento a Emma, de Emma Bovary, mostra que os olhos <strong>do</strong> teórico<br />

escrutinam a obra de Gustave Flaubert que t<strong>em</strong> um hom<strong>em</strong> como protagonista, relegan<strong>do</strong><br />

a segun<strong>do</strong> plano a que t<strong>em</strong> uma mulher como personag<strong>em</strong> principal. Em sua escolha de<br />

protagonistas para a sua Teoria <strong>do</strong> romance, Lukács deixa de la<strong>do</strong> “as ideologias de gênero,<br />

construídas, ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, pela cultura” (ZOLIN, 2009, p. 218). Mas, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, oferece material para que possamos “tentar romper com os discursos sacraliza<strong>do</strong>s<br />

pela tradição” (ZOLIN, 2009, p. 218) quanto à representação <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> na literatura.<br />

Dessa forma, mesmo não sen<strong>do</strong> apontada como representante <strong>do</strong> gênero romanesco,<br />

buscamos na heroína de O <strong>Despertar</strong> e na de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> características <strong>do</strong> herói d<strong>em</strong>oníaco<br />

aponta<strong>do</strong> por Lukács.<br />

No gênero literário moderno, o romance, não há mais a homogeneidade épica,<br />

mas, sim, a distância entre o herói e a sociedade: “herói romanesco e mun<strong>do</strong> exterior são<br />

mutuamente agressivos” ou, ainda, “a relação <strong>sujeito</strong>/mun<strong>do</strong> no romance é mediada pela<br />

distância insuperável” (GOUVEIA, 2008, p. 109). Discutin<strong>do</strong> o pensamento de Lukács,<br />

Antunes mostra que há uma impossibilidade de reconciliação <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com a sociedade<br />

e que isso ocorre “devi<strong>do</strong> à desproporção entre as aspirações da alma e a objetividade da<br />

organização social” (ANTUNES, 1998, p. 183). Ao que parece, essa distância e<br />

agressividade criadas entre herói e mun<strong>do</strong> exterior são ainda maiores quan<strong>do</strong> se leva <strong>em</strong><br />

conta as relações de gênero destacadas pela crítica f<strong>em</strong>inista. Uma vez que a mulher foi<br />

vista na História social, cultural e fisicamente, como uma categoria inferior ao hom<strong>em</strong>,<br />

seguin<strong>do</strong> as ideias de Lukács, o interior <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> estaria <strong>em</strong> conflito de proporções<br />

maiores <strong>do</strong> que o que se instaura entre o masculino e o mun<strong>do</strong> exterior. Isso ocorre<br />

porque “não se pode pensar a mulher como uma entidade abstrata, mas como um ser<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de historicidade que procura traçar novos caminhos, estabelecen<strong>do</strong> elos entre a<br />

história passada e a vida presente” (ZINANI, 2006, p. 93).<br />

Em resumo, Lukács aponta o romance como o lugar da luta entre o indivíduo e a<br />

sociedade <strong>em</strong> que ele vive, uma vez que “o romance é o espaço <strong>do</strong> d<strong>em</strong>oníaco por<br />

excelência, potencializan<strong>do</strong> as possibilidades e imprevisibilidades humanas como nenhum<br />

outro” (GOUVEIA, 2008, p. 108). Nos romances <strong>em</strong> estu<strong>do</strong>, a luta entre as protagonistas<br />

e o mun<strong>do</strong> social <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong> ganha uma proporção mais grandiosa, quan<strong>do</strong> v<strong>em</strong>os que<br />

estas mulheres buscam para si algo que não seria permiti<strong>do</strong> para nenhuma delas dentro <strong>do</strong><br />

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