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Representações do sujeito feminino em O Despertar e Riacho Doce ...

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<strong>Representações</strong> <strong>do</strong> <strong>sujeito</strong> <strong>f<strong>em</strong>inino</strong> <strong>em</strong> O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong>: um estu<strong>do</strong> comparativo<br />

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*****<br />

O <strong>Despertar</strong> e <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> mostram uma natureza revestida de humanização,<br />

apresentan<strong>do</strong> um espaço líqui<strong>do</strong> que fala, acaricia, abraça, instiga, convida, aquece, e<br />

seduz. Espaço de alento e rejuvenescimento, mas também com forte teor de destruição e<br />

perdas, o mar é o espaço primeiro destas duas mulheres, pois a ele se entregam por<br />

completo. Edna Pontellier solta-se no mar, buscan<strong>do</strong> alcançar um ponto onde nenhuma<br />

mulher foi antes. Já Edna de <strong>Riacho</strong> <strong>Doce</strong> t<strong>em</strong> o mar como amante, lugar de aconchego e<br />

espaço de entrega sexual. No final da narrativa, ela recorre a ele numa busca desesperada<br />

para encontrar novamente o amante perdi<strong>do</strong>, o prazer e a suposta felicidade, fazen<strong>do</strong> com<br />

que este espaço líqui<strong>do</strong> ganhe o poder de fazer tu<strong>do</strong> (re)nascer: “Tu<strong>do</strong> agora ia nascer<br />

outra vez. As <strong>do</strong>res morreriam, os sofrimentos se acabariam. O mun<strong>do</strong> ia nascer outra<br />

vez” (REGO, 2003, p. 325).<br />

No romance de Kate Chopin, o mo<strong>do</strong> como a narrativa termina, mostran<strong>do</strong> Edna<br />

exausta e atingin<strong>do</strong> um ponto de onde não poderia mais voltar, sugere que a personag<strong>em</strong><br />

está mais próxima da morte <strong>do</strong> que da vida. Já o romance de José Lins, com seu final que<br />

aponta para uma voz chaman<strong>do</strong> Edna/Eduarda não para a morte, mas para a vida, sugere<br />

a afirmação da vida e não um encontro com a morte: “[...] Edna nadava, nadava para ele<br />

[o sol], como se Nô estivesse de lá chaman<strong>do</strong>-a, chaman<strong>do</strong>-a para a vida. Na<strong>do</strong>u, na<strong>do</strong>u”<br />

(REGO, 2003, p. 326).<br />

Mesmo apontan<strong>do</strong> para a morte de Edna Pontellier, o final de O <strong>Despertar</strong> não<br />

pode ser li<strong>do</strong> como um sinal de fraqueza da protagonista. Pelo contrário, este final, na<br />

verdade, mostra a força <strong>em</strong>ocional de Edna Pontellier <strong>em</strong> lutar para se afastar das<br />

ameaças que a terra firme, símbolo <strong>do</strong> patriarca<strong>do</strong>, representa para o <strong>f<strong>em</strong>inino</strong>. Seu na<strong>do</strong><br />

solitário e exaustivo é sinônimo da força f<strong>em</strong>inina se insurgin<strong>do</strong> contra o patriarca<strong>do</strong>.<br />

Embora não vença esse sist<strong>em</strong>a de poder, Edna mostra que é possível fugir <strong>do</strong><br />

patriarca<strong>do</strong>, mesmo que isso signifique desistir “<strong>do</strong> não-essencial” (CHOPIN, 1994, p.<br />

67), mesmo que tenha que dar sua própria vida, desde que não tenha que dar a si própria,<br />

ou seja, se anular como <strong>sujeito</strong> de vontade. No romance de José Lins, o final inconcluso e<br />

a chegada de um novo dia apontam para a continuação da vida de Edna/Eduarda, que<br />

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