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acta pediátrica portuguesa - Sociedade Portuguesa de Pediatria

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Acta Pediatr Port 2010:41(5):S9<br />

dos casos a orientação do estágio foi atribuída a médicos <strong>de</strong> medicina geral e<br />

familiar. No entanto, 44% consi<strong>de</strong>ram que o estágio foi maioritariamente não<br />

tutelado e 46% que os orientadores não eram a<strong>de</strong>quados. Os principais motivos<br />

apontados foram a sua ausência, o facto <strong>de</strong> não ser pediatra, a falta <strong>de</strong><br />

interesse e disponibilida<strong>de</strong> para discutir os doentes e a falta <strong>de</strong> conhecimentos<br />

actualizados e <strong>de</strong> formação específica em pediatria.<br />

Meta<strong>de</strong> dos inquiridos afirmou que o estágio não correspon<strong>de</strong>u às suas expectativas.<br />

Os aspectos negativos mais frequentemente apontados foram: a duração<br />

excessiva; a orientação ina<strong>de</strong>quada; a ausência <strong>de</strong> um estágio estruturado<br />

e orientado para a aprendizagem e a má <strong>de</strong>finição do papel do interno no centro<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Outros aspectos referidos foram: a reduzida participação em<br />

acções <strong>de</strong> formação, <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> e saú<strong>de</strong> escolar (contrastando<br />

com a experiência <strong>de</strong> outros que referem um número excessivo <strong>de</strong> acções <strong>de</strong><br />

for mação); a ausência <strong>de</strong> pediatra; a reduzida aquisição <strong>de</strong> conhecimentos e<br />

a redução do papel do interno ao seguimento <strong>de</strong> crianças sem médico.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a possibilida<strong>de</strong> do Pediatra Consultor e do Pediatra do<br />

Ambulatório se tornarem uma realida<strong>de</strong>, 91% e 97% dos inquiridos, respectivamente,<br />

consi<strong>de</strong>ram que a participação nestas activida<strong>de</strong>s durante o internato<br />

seria importante. E, no segundo caso, po<strong>de</strong>ria substituir o estágio actual,<br />

<strong>de</strong> acordo com a maioria.<br />

Adicionalmente, 82% e 57% afirmaram que consi<strong>de</strong>rariam a hipótese <strong>de</strong> integrar<br />

a função <strong>de</strong> Pediatra Consultor e Pediatra do Ambulatório, respectivamente,<br />

após terminar o internato.<br />

O número <strong>de</strong> questionários respondidos e os comentários pertinentes<br />

<strong>de</strong>mons tram uma elevada preocupação dos internos com este tema. O grau <strong>de</strong><br />

insatisfação foi elevado, ficando clara a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instituir modificações<br />

com brevida<strong>de</strong>.<br />

A heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências e a ausência <strong>de</strong> orientação a<strong>de</strong>quada po<strong>de</strong>riam<br />

ser colmatadas com a atribuição mais criteriosa das idoneida<strong>de</strong>s dos centros<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e dos orientadores <strong>de</strong> estágio. Seria também importante uma<br />

melhor <strong>de</strong>finição do papel do interno no centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e existência <strong>de</strong><br />

acções <strong>de</strong> formação sobre o funcionamento dos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> primários.<br />

Foi consensual que a duração é excessiva. Uma redução disponibilizaria<br />

tempo para estágios igualmente importantes, po<strong>de</strong>ndo os mais interessados<br />

nesta área ter a opção <strong>de</strong> prolongá-lo. Seria, também, importante pon<strong>de</strong>rar<br />

outros “formatos” <strong>de</strong> estágio.<br />

Ficou ainda patente a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos para exercer pediatria extrahospitalar.<br />

A revisão do papel pediatra no ambulatório será fundamental para<br />

uma optimização dos cuidados e permitirá, por outro lado, dar maior sentido<br />

à formação nesta área durante internato.<br />

Todos terão a ganhar com esta optimização do estágio, os internos do internato<br />

complementar <strong>de</strong> pediatria, os médicos <strong>de</strong> medicina geral e familiar e<br />

sobretudo as crianças!<br />

Workshop 1<br />

O Exame Objectivo em Reumatologia Pediátrica<br />

Manuel Salgado<br />

Introdução<br />

As doenças reumáticas po<strong>de</strong>m envolver todo e qualquer órgão e sistema do<br />

organismo. Por exemplo os olhos são um dos órgãos frequentemente afectados.<br />

Porém as manifestações musculo-esqueléticas são as que mais vezes trazem<br />

os doentes à consulta. Contudo, o exame musculo-esquelético (ME) é frequentemente<br />

<strong>de</strong>scurado nas formações pré e pós graduadas da generalida<strong>de</strong><br />

dos médicos, tanto na Medicina da vida realizada em doentes adultos, assim<br />

como nas ida<strong>de</strong>s pediátricas (1) .<br />

Em RP a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> artrite é: tumefacção articular não <strong>de</strong>vida a causas<br />

mecânicas ou pelo menos dois dos seguintes sinais: a) limitação dos movimentos;<br />

b) sensibilida<strong>de</strong> ou dor nos movimentos; c) calor. Assim, a presença<br />

<strong>de</strong> dor não é obrigatória para se <strong>de</strong>finir artrite. Efectivamente não é raro a<br />

ausência <strong>de</strong> dor articular em reumatologia pediátrica (RP), em especial nas<br />

artrites idiopáticas juvenis (AIJs).<br />

Não são raras as infecções osteo-articulares com dois ou mais focos (rondam<br />

8% a 10%), que po<strong>de</strong>rão in<strong>de</strong>vidamente sugerir uma “doença reumática”.<br />

Regras gerais no exame musculo-esqulético:<br />

a) Embora existam articulações mais vezes afectadas - exemplo as gran<strong>de</strong>s<br />

articulações dos membros inferiores - toda e qualquer articulação po -<br />

<strong>de</strong>rá ser envolvida numa doença reumática, justificando a necessida<strong>de</strong><br />

do exame <strong>de</strong> todas as articulações;<br />

b) O exame ME <strong>de</strong> rastreio articular – com a exploração rápida das arti -<br />

culações do membro superior, coluna e do membro inferior – permitem<br />

a observação <strong>de</strong> praticamente todas as articulações, sinalizando aquelas<br />

que justificam <strong>de</strong>pois uma observação mais pormenorizada (2,3) ;<br />

c) Deve-se explorar as articulações adjacentes – acima e abaixo do local<br />

das queixas dolorosas – para além da zona entre as articulações assim<br />

<strong>de</strong>finidas;<br />

d) Deve-se quantificar a dor (intensa, mo<strong>de</strong>rada, ligeira ausente);<br />

e) Tentar avaliar qual é a postura antálgica;<br />

f) Comparar sempre com o outro membro;<br />

g) Ver como assenta o pé no chão;<br />

h) Ver se amiotrofias ou não;<br />

i) Explorar o local <strong>de</strong> inserção dos tendões e fáscias (enteses);<br />

Aspectos práticos<br />

- A postura antálgica duma artrite é em semi-flexão; toda a postura bizarra<br />

<strong>de</strong>ve questionar o diagnóstico <strong>de</strong> artrite;<br />

- A presença <strong>de</strong> rubor <strong>de</strong>ve questionar uma doença crónica (um reumatismo);<br />

- Toda a dor muito intensa <strong>de</strong>ve sugerir infecção, reumatismo agudo (artrite<br />

reactiva, febre reumática), dor amplificada, infiltração maligna;<br />

- A presença <strong>de</strong> inflamação numa entese (entesite) <strong>de</strong>ve sugerir espondiloartropatia<br />

ou osteocondrose;<br />

- Assentar no chão primeiro a ponta do pé e não o calcanhar <strong>de</strong>ve sugerir<br />

causa neuropática;<br />

- A utilização <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> apoio sem uma explicação óbvia, asso -<br />

ciada a dor com características neuropáticas (alodinia, hiperalgesia) <strong>de</strong>ve<br />

evocar sindroma <strong>de</strong> dor amplificada.<br />

Bibliografia:<br />

1. Meyers A, McDonagh JE, Gupta K, et al. More “cries from joints”: assessment of the musculoskeletal<br />

system is poorly documented in routine paediatric clerking. Rheumatology<br />

2004;43:1045-9.<br />

2. Southwood TR, Malleson PN. The clinical history and physical examination. Bail Clin<br />

Paeditr 1993;1:637-64.<br />

3. Foster HE, Kay JL, Friswell M, Coady D, Myers A. Musculoskeletal screening examination<br />

(pGALS) for school-age children based on the adult GALS screen. Arthritis & Rheumatism<br />

2006;55:709-16.0<br />

“Dores <strong>de</strong> Crescimento”<br />

Margarida Paula Ramos<br />

Assistente Hospitalar Graduada, Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Reumatologia.<br />

Área <strong>de</strong> <strong>Pediatria</strong> Médica, Hospital <strong>de</strong> Dona Estefânia, Lisboa<br />

Resumo: O termo “ dores <strong>de</strong> crescimento”, utilizado pela primeira vês em<br />

1823 pelo médico Francês, Dr. Duchamp M., é controverso pela sua imprecisão.<br />

As dores nos membros referidas pelas crianças, <strong>de</strong>screvendo muitas<br />

vezes a sua localização <strong>de</strong> maneira imprecisa, não são causadas pelo crescimento.<br />

Estas dores, actualmente também <strong>de</strong>nominadas “dores benignas da<br />

infância”, representam cerca <strong>de</strong> 1% das situações clínicas que motivam os<br />

pais a levarem as suas crianças a uma consulta com o pediatra.<br />

Evans A.M. faz referência a estudos sobre a prevalência <strong>de</strong>ste diagnóstico, os<br />

quais apresentam estimativas <strong>de</strong> 2,6 a 49,4% da população pediátrica, e alguns<br />

estabelecem uma prevalência <strong>de</strong> 37% em crianças entre os 4 e os 6 anos. A literatura<br />

reporta uma pequena prevalência do sexo feminino, mas não existe<br />

nenhuma <strong>de</strong>scrição etiológica precisa e cientificamente comprovada.<br />

As “dores <strong>de</strong> crescimento” correspon<strong>de</strong>m tipicamente a dores intermitentes<br />

e recorrentes, em crianças entre os 2 e os 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> apareci mento<br />

agudo, <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada a severa, localizadas predominantemente na<br />

superfície <strong>de</strong> extensão dos membros inferiores, bilaterais ou alternadamente<br />

à esquerda e à direita. Nunca surgem <strong>de</strong> manhã ao acordar e são mais frequentes<br />

ao fim da tar<strong>de</strong> ou à noite, geralmente associadas a uma activida<strong>de</strong><br />

física diurna mais intensa. Uma massagem suave é habitualmente suficiente<br />

para um alívio das queixas, raramente necessitando <strong>de</strong> um analgésico. O<br />

exame físico é normal, não existindo quaisquer limitações funcionais do<br />

aparelho locomotor.<br />

O diagnóstico é clínico, <strong>de</strong>finido por critérios <strong>de</strong> inclusão e <strong>de</strong> exclusão.<br />

É frequente existir uma história familiar <strong>de</strong> sintomatologia semelhante, <strong>de</strong>terminando<br />

uma predisposição familiar para a dor.<br />

.Os resultados dos exames complementares <strong>de</strong> diagnóstico, muitas vezes realizados<br />

para acalmar e retirar a preocupação familiar, são completamente normais.<br />

O diagnóstico <strong>de</strong> “dores <strong>de</strong> crescimento” é por vezes utilizado in<strong>de</strong>vida -<br />

mente, sendo preocupante quando se trata <strong>de</strong> uma patologia grave e que nada<br />

tem a ver com a situação clínica, nomeadamente artrites idiopáticas juvenis,<br />

tumores benignos ou neoplasias malignas. Estas são doenças que necessitam<br />

um diagnóstico precoce e uma instituição terapêutica em tempo útil e que não<br />

justificam este equívoco <strong>de</strong> diagnóstico, que po<strong>de</strong>rá ser evitado se efectuada<br />

uma anamnese e realizado um exame objectivo cuidados.<br />

S9

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