tecnologia e intera - UTFPR
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partir do mesmo plano, variar a representação em função dos valores a serem absorvidos pelo<br />
leitor. A direção padrão é a da personagem que olha para frente, com um ângulo de visão plano.<br />
As deformações começam quando o autor da história em quadrinhos insere outros tipos de<br />
visão, como a visão oblíqua, a inferior ou a superior. “a visão superior serve com frequência<br />
para reduzir uma personagem a fim de representar sua solidão, inferioridade ou precariedade. A<br />
visão inferior, inversamente, exalta, glorifica, acentua a superioridade de um ser”. O ponto de<br />
vista, de acordo com Saraceni (2003), ajuda o leitor a se identificar com a personagem, ajudando<br />
a compreender melhor suas motivações, acessando sentimentos e emoções que o autor da obra<br />
deseja passar.<br />
Há também o ponto de vista subjetivo, onde o autor da história coloca o leitor “nos olhos”<br />
da personagem, vendo o que a personagem vê. E, também, podemos perceber o encadeamento<br />
de planos, o travelling, onde uma série de imagens permitem ir para frente, para trás ou para os<br />
lados.<br />
Eco (2006) propõe que estes planos e ângulos foram importados do cinema, tendo<br />
também correspondentes na pintura. Eisner (2005) já explica que os quadrinhos influenciaram<br />
muito o cinema nas idéias de enquadramento e planos. Quella-Guyot (1994 p.23) diz “na<br />
origem, o cinema é que fazia empréstimos das histórias em quadrinhos”. Cirne (1975 p.27), por<br />
sua vez, afirma que ambas as expressões artísticas têm uma gênese comum, e que esta discussão<br />
pode ser estéril. O autor nos lembra que o mais importante seria perceber que ambas as mídias<br />
possuem interferências e interrelações desde seu início. E que estas interferências “são comuns<br />
às diversas práticas criativas fundadas na imagem”.<br />
3.4 Balões<br />
O balão de fala é mais do que mero acessório nos quadrinhos. Ele é o responsável por<br />
fazer com que o leitor escute o que a personagem ou o narrador está dizendo. Seu formato,<br />
suas convenções e seu conteúdo são, junto com as onomatopéias, o que confere o dinamismo<br />
auditivo do leitor, compondo uma espécie de metáfora biológica, onde ouve-se com os olhos.<br />
Esta percepção é tão forte que quando lê-se um quadrinho sem balões diz-se que ele é mudo.<br />
A figura estrutural do balão nas histórias em quadrinhos surge, sistematicamente<br />
e sendo recorrentemente utilizada, segundo Nicolau (2008), com a já citada tira Yellow Kid<br />
em 1895. Para Eco (2006), o balão é a “nuvenzinha 12 ” que, segundo certas convenções pode<br />
indicar uma pessoa falando, pensando, dormindo etc. A importância dos balões é tão grande<br />
para os quadrinhos que, segundo Saraceni (2003), é o elemento constituinte da linguagem que<br />
os indivíduos mais associam a ela. Carrier (2000) imagina que talvez os balões tenham sido<br />
criados por algum antigo cartunista que viu a fumaça corpórea sair da boca das pessoas durante<br />
o inverno e associou este elemento à fala.<br />
12 Na Itália, os balões são chamados fumetti, e, graças a eles, os quadrinhos são também assim chamados<br />
no país de origem do semiólogo