tecnologia e intera - UTFPR
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Em ambos os casos, a narrativa completa-se na capacidade de compreensão do leitor<br />
e em seu conhecimento prévio de determinadas questões. A compreensão da piada, tomando<br />
como base as teorias de Chartier (1999), parece fazer-se mais graças ao leitor, e menos graças<br />
ao artista. As questões culturais são novamente entendidas como a forma pela qual os leitores<br />
compreendem determinado texto, seja ele em quadrinhos ou não.<br />
9<br />
3.2 Requadro<br />
Há, nos quadrinhos, uma divisão clara dos momentos em que se passa cada ação da<br />
história contada. Esta divisão é chamada de requadro. Para Ramos (2009), cada requadro<br />
condensa uma série de elementos da cena narrativa que, pela capacidade de agrupamento, possui<br />
grande grau informativo. No espaço de um requadro, o autor da história em quadrinhos constrói<br />
um recorte da realidade. O quadro é a unidade básica da história em quadrinhos. Quella-Guyot<br />
(1994) diz que cada requadro é a unidade mínima que forma o desenho completo, são momentos<br />
congelados da história, ainda que, segundo Saraceni (2003), raramente apresentem apenas um<br />
instante da história. O autor explica que o conteúdo do requadro pode representar mais de um<br />
instante da história a partir do momento que se desenrola um diálogo dentro dele. Um diálogo<br />
é mais longo do que o instantâneo de uma fotografia, por exemplo. O requadro pode ser visto<br />
como o instante pregnante da imagem, conforme Aumont (1993). Neste momento escolhido<br />
pelo artista, pretende-se passar a maior porção possível de informação ao leitor.<br />
Cagnin (1975) explica que o requadro é normalmente um retângulo delimitado por<br />
linhas retas bem definidas, no entanto sua forma pode variar. Para o autor, existem histórias<br />
em que todos os quadrinhos são perfeitamente iguais, principalmente nas tiras diárias, onde<br />
seu tamanho é imposto pela diagramação do jornal. Já nas revistas próprias de quadrinhos esse<br />
formato pode variar, e podemos encontrar desde requadros irregulares, redondos, quebrados ou<br />
mesmo a ausência de requadros.<br />
Sua forma e tamanho dependem muito da disposição orgânica da página em que eles<br />
estão inseridos, assim como a ordem hierárquica ou estética da composição da página como um<br />
todo e a carga dramática desejada pelo autor da história. O requadro quadrado na figura 41 faz<br />
com que o leitor perceba mais claramente a carga dramática que os autores desejaram imprimir<br />
na cena. Ao fazer um requadro de fundo vermelho e “quebrado”, faz-se uma natural analogia ao<br />
fato do herói estar sendo também “quebrado” por um vilão.<br />
9 Usaremos a terminologia requadro em consonância com o termo adotado por Eisner (2001). Para<br />
referir-se ao mesmo elemento das histórias em quadrinhos, Carrier (2000), Mendo (2008) e McCloud (2005), por<br />
exemplo, utilizam a terminologia “quadro”, enquanto Saraceni (2003) utiliza “painel” e Quella-Guyot (1994) e<br />
Ramos (2009) utilizam “vinheta”, adotando o termo cunhado por Fresnault-Deruelle.