tecnologia e intera - UTFPR
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202<br />
compreender o segundo e o terceiro quadrinhos graças ao primeiro.<br />
Dahmer percebe aí uma chance de questionar a construção das notícias e das informações<br />
das mídias de massa, bem como os processos de divulgação e edição dessas informações.<br />
A partir do momento que nada é necessariamente real na internet, tudo pode ser mentira e,<br />
isto posto, pode-se argumentar qualquer coisa a partir da negação das informações vindas da<br />
internet. Desta forma forma-se a piada no último quadrinho: são as tartarugas que tentam matar<br />
os humanos, diz o pai contrariando o que a internet nos diz, criando nova ironia para mostrar a<br />
trama tecida entre o real e o virtual.<br />
Dahmer denuncia a falsidade e o crime de plágio na internet, fazendo piada com estas<br />
características. Na figura 163, vemos uma personagem escrevendo um texto seu e assinando<br />
como o escritor português José Saramago, ou seja, praticando o crime de falsidade ideológica.<br />
E a outra personagem plagiando o falsário, achando que é Saramago.<br />
Figura 163. Tira 568<br />
Fonte: acesso em 12/01/09<br />
Ambas as personagens agem criminosamente, roubando no primeiro caso o nome e a<br />
notoriedade de um grande e conhecido escritor e no segundo caso a produção literária de um<br />
suposto grande escritor.<br />
As personagens não são apresentadas como criminosas, e sim como pessoas comuns 27 , e<br />
a quantidade de falsificações é tão grande, que Dahmer, através do narrador, sublinha a grande<br />
quantidade de falsificações, e indica estarmos vivendo uma era de incertezas. Incertezas acerca<br />
das identidades, como salientado por Hall (2006), mas também incertezas sobre quem somos e<br />
quem é o outro. Quando não se pode confiar em nenhum texto oriundo da internet, assim como<br />
não podemos confiar nas pessoas que ali estão, ou melhor, nas pessoas que dizem estar ali, tal<br />
qual a figura 164, onde percebemos que a personagem mente sobre suas formas para parecer ao<br />
outro mais bonita.<br />
27 Como o leitor sabe, este tipo de falsidade está presente em vários textos, fotos, documentos e perfis de<br />
usuários que circulam pela internet, como salientam Cotrin e Oliveira (2009). E há tanta falsidade cometida por<br />
pessoas comuns, não criminosas, porque, ainda segundo Cotrin e Oliveira (2009), muitos destes usuários não<br />
acreditam estar praticando o crime previsto no artigo 299 do código penal brasileiro. Parece que tais indivíduos<br />
simplesmente partem da premissa que, se está na internet, é público e, portanto, pode ser usado como e quando<br />
qualquer indivíduo desejar. Não há, conforme os autores do artigo, intenção de dolo em vários dos indivíduos<br />
que se apropriam de identidades falsas na grande rede.