tecnologia e intera - UTFPR
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que haja uma percepção gestáltica existente pela própria diagramação da página ou desenhos<br />
da tira. McCloud (2005) chama este processo de conclusão. A conclusão é oriunda não só do<br />
processo mecânico da leitura, mas principalmente do processo cultural da leitura e apreensão<br />
da realidade existente. Os hábitos e modos de leitura são diversos nas diversas localidades do<br />
mundo ou, como salienta Munari (1968); são tantos quantos são os habitantes do planeta. A<br />
tentativa de compreensão será única para cada um dos leitores. Há, no leitor, além da função de<br />
receptor, de consumidor, a função de co-criador da obra. Para Chartier (1999) o leitor é produtor<br />
da obra e, portanto, cada obra tem dinâmica diferenciada de acordo com quem a lê.<br />
O texto lido não tem apenas o sentido que o autor tentou passar. Todo leitor tem a<br />
liberdade de subverter aquilo que o escritor parece lhe impor. As restrições do leitor estão<br />
associadas muito mais as próprias regras da sua cultura do que as regras impostas pelo livro em<br />
si. Nos quadrinhos e, principalmente nas tirinhas, estas regras parecem ser ainda mais flexíveis.<br />
O tempo de leitura, tempo de reflexão e o resultado obtido na leitura da sarjeta é próprio de<br />
cada leitor, ainda que o autor possa evidenciar um aumento ou diminuição do tempo por meio<br />
também das sarjetas.<br />
A sarjeta é a responsável pela essência dos quadrinhos. É na sarjeta que a imaginação<br />
humana capta duas imagens distintas e as transforma em uma única idéia. O leitor vale-se de<br />
seu repertório para concluir algo que não está nem desenhado e nem escrito, algo que está<br />
ausente, que permanece apenas no vácuo da sarjeta, como a capacidade do leitor de perceber<br />
que a personagem está ficando com sono, e que o último quadrinho representa o sonho dela.<br />
Os indicadores para esta percepção são, de certa forma, sutis, e o que deixa explícito o sono da<br />
personagem é justamente a experiência do leitor.<br />
Figura 24. Passagem do tempo.<br />
CREPAX, Guido. Valentina de botas. São Paulo: Conrad, 2007. p.20<br />
A elipse é completada pelo leitor, segundo Quella-Guyot (1994), a partir da análise dos<br />
dois requadros: o anterior e o posterior, além da diagramação da página, que influencia graças<br />
a escolha do autor no que tange à disposição dos quadros para a leitura. Além disso, há também<br />
o ato de virar a página, que altera a percepção da elipse por parte do leitor, uma vez que há uma<br />
quebra muito maior no movimento de virada de página do que no movimento de passar os olhos<br />
de um quadrinho à outro. Eisner (2001) diz que o artista deve ter cuidado ao fazer a transição