tecnologia e intera - UTFPR
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o romance balzaquiano mudar sequer uma linha.<br />
O processo de apreensão, onde o leitor toma contato com o texto e, posteriormente com<br />
a história, faz do suporte grande guia para uma leitura. Desde a Bibliotèque Bleu no século<br />
XVII que Chartier (2002) estudou já existia uma separação entre tipos de livros e tipos de<br />
leitores. Os livros desta coleção em geral tinham grande parte de seu conteúdo eliminado, para<br />
que coubesse em um formato menor com letras maiores, para facilitar a leitura dos “iletrados”.<br />
A adaptação neste caso era feita com interesses puramente econômicos, e como Chartier (2002)<br />
nos alerta, não muito cuidadosa com o texto ou mesmo a coerência das frases e capítulos. O<br />
que efetivamente interessava aos editores era o consumo dos livros. Ainda que, como salienta<br />
Chartier (2002, p.175) hajam intervenções por parte dos editores que<br />
Em primeiro lugar, tem por objetivo remodelar a própria apresentação do texto,<br />
multiplicando os capítulos, ainda que essa divisão não resulte de qualquer necessidade<br />
narrativa ou lógica, e aumentando o número de parágrafos, o que torna menos densa<br />
a distribuição do texto na página (...) transformando uma leitura que não é de forma<br />
alguma virtuosa nem contínua, mas que pega no livro e o larga, que só decifra<br />
facilmente sequências breves e independentes, que exige identificações explícitas.<br />
Daí, também, a multiplicação (...) das recapitulações e dos resumos que permitem<br />
voltar a ligar o fio de uma leitura interrompida.<br />
Segunda intervenção editorial nos textos: uma estratégia da redução e da<br />
simplificação. (...) A primeira consiste em desbastar o texto, em abreviar alguns de<br />
seus episódios, em efetuar cortes por vezes drásticos. Nos romances passados a livro<br />
de cordel, tais reduções amputam os textos de relatos julgados supérfluos, e sobretudo<br />
das descrições das características sociais ou dos estados psicológicos das personagens,<br />
consideradas como inúteis para o desenrolar da ação. Um segundo conjunto de<br />
transformações redutoras situa-se à escala da própria frase, com a modernização de<br />
fórmulas envelhecidas ou difíceis, a contração de frases, depuradas das suas orações<br />
relativas ou intercalares, a supressão de numerosos adjetivos ou advérbios.<br />
A própria literatura sofre mutações de acordo com o suporte, que, por sua vez, pode<br />
ou não ser condicionado ao leitor, ao usuário. Torna-se claro que uma edição moderna de um<br />
livro qualquer tem diferentes apreensões devido ao seu formato, bem como a forma como<br />
este é apresentado ao seu público. Em uma livraria, por exemplo, a estante onde o livro se<br />
encontra pode ser determinante para sua venda (e eventual consumo). Segundo Chartier (1999)<br />
as pessoas seguem uma tendência de leitura, e modificar o status de um livro, seu rótulo, pode<br />
ser o fiel da balança para sua venda. Um livro de romance, ao ser posto à venda como “autoajuda”<br />
tem uma possibilidade maior de ser mais vendido do que quando é rotulado apenas como<br />
“romance”.<br />
A mudança do suporte pode transformar uma obra. Antes mesmo do suporte digital à<br />
leitura, Manguel (1997) nos mostra como o editor Allen Lane, em 1935 decidiu criar a Penguin<br />
Books, principal editora de livros de bolso ativa atualmente. Segundo Manguel (1997, p.169),<br />
este editor estava na casa da escritora de livros policiais Agatha Christie e, ao ir embora, na<br />
estação de trem deparou-se com a falta de livros que fossem, ao mesmo tempo, bons e baratos.<br />
Ou Lane compraria um livro ruim barato ou um livro de acabamento requintado, portanto caro.<br />
Surgiu então a idéia de criar uma série de livros cujo conteúdo estivesse entre os melhores