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Relatório Azul 2008 - DHnet

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O estatuto do cárcere (BARROS, 2006, p. 5) no item quatro diz que "a<br />

contribuição daqueles que estão em liberdade com os irmãos que estão<br />

dentro da prisão, através de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares e ação<br />

de resgate".<br />

O item sete estabelece que "aquele que estiver em liberdade — bem<br />

estruturado —, mas que esquecer de contribuir com os irmãos na cadeia,<br />

será condenado à morte sem perdão".<br />

Uma das primeiras regras do PCC era condenar o que ocorria na<br />

totalidade das prisões do país — o estupro entre os presos.<br />

Em entrevista a revista Caros Amigos em 2006 e nos depoimento a<br />

CPI do Tráfico de Armas Marcola declarou: "Foi feita uma linha ética: o cara<br />

que estuprasse tinha de ser executado. E o PCC acabou com o estupro<br />

dentro da prisão. O Estado não fez isso, o Estado vendia o preso para outro.<br />

Dava um pacote de cigarro para o agente que levava o cara até a cela onde<br />

seria violentado". Informa também que além dos estupros tinha que conter a<br />

epidemia de dependência do crack, a cocaína sintética que ocupava cada vez<br />

mais espaço nos presídios. "A degradação tomava conta dos presos. Não<br />

tinha como controlar o crack dentro da prisão. Então, foi simplesmente<br />

abolido. Como se abole uma droga que faz o cara roubar a mãe, matar a mãe<br />

e tudo mais? É difícil. Então, tem que mostrar a violência e falar: 'Ó cara, se<br />

você usar isso, pode te acontecer'".<br />

No ano de 2000, o desembargador Renato Talli relata à CPI do<br />

Narcotráfico que cinco organizações criminosas disputam a liderança nos<br />

presídios, cadeias públicas e delegacias de São Paulo. "Não se pode admitir<br />

que as lideranças de presos extrapolem os limites, passando a controlar<br />

penitenciárias, corromper funcionários e exercer o domínio entre detentos.<br />

Anote-se que a maioria das muitas mortes registradas nas prisões de São<br />

Paulo, nos últimos anos, foram provocadas entre as diversas facções". Na<br />

ocasião informou que cinco grupos criminosos estavam tentando a<br />

desestabilização do sistema penitenciário. As facções eram, além do PCC, o<br />

Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade, a Comissão<br />

Democrática de Liberdade, Seita Satânica e o Comando Jovem Vermelho da<br />

Criminalidade, possuem armas, planejam roubos e resgates de presos,<br />

controlam o tráfico de entorpecentes, patrocinam mortes, financiam e<br />

promovem rebeliões (SOUZA, 2006).<br />

A possibilidade de criação e articulação do crime organizado a partir<br />

do sistema prisional é constatada por Foucault (1987) em "Vigiar e Punir".<br />

Segundo o autor, "a prisão torna possível, ou melhor, favorece a organização<br />

de um meio de delinqüentes solidários entre si, hierarquizados, prontos para<br />

todas cumplicidades futuras".<br />

Não é possível reduzir a força do crime organizado sem a alteração<br />

do sistema prisional vigente, é necessário que o estabelecido na Constituição<br />

RELATÓRIO AZUL <strong>2008</strong> 120

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