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Relatório Azul 2008 - DHnet

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que cada Estado usa critérios diferentes de seleção e exclusão no<br />

status de cidadão ». ( PEIRANO, 1982 :3)<br />

No Brasil, durante as últimas décadas, o Estado sustentou a<br />

acumulação do capital com a manutenção de práticas oligárquicas de<br />

apropriação do aparelho estatal, preservando assim as relações<br />

sociais autoritárias e excludentes. O modelo de desenvolvimento<br />

perpetua-se através de um processo de elitização, como resultado da<br />

brutal concentração de renda. Com isso retroagimos a uma realidade<br />

social do século XIX com um « exército de reserva » que, sem<br />

emprego e sem perspectivas de futuro, engrossa as fileiras da<br />

63<br />

marginalidade constituindo-se nas chamadas classes perigosas .<br />

Ou seja, há, pelo menos, dois séculos mantêm-se as<br />

estruturas de dominação da sociedade capitalista, com grandes<br />

transformações é verdade, mas com a permanência inescapável do<br />

predomínio hegemônico de uma classe sobre a outra – e este é o liame<br />

invisível que une indivíduos, grupos, comunidades e classes sociais<br />

às esferas do poder e do Estado. Em um nível macro, temos a<br />

sociedade capitalista periférica, hierárquica e desigual com<br />

componentes difusos e fragmentados e um enfraquecimento<br />

preocupante das instituições em que a Escola não mais ensina, o<br />

trabalho é temporário e instável, a prática política está obscurecida<br />

pelo clientelismo e atividades escusas o que dá margem a uma<br />

decadência da moral coletiva e um estímulo ao individualismo<br />

hedonista e fútil. Isto para não falarmos no contexto social anômico no<br />

qual eclodem todas as formas de violência, das quais a violência<br />

praticada pelos excluídos do sistema é a mais visível.<br />

EXCLUSÂO SOCIAL, PODER E VIOLÊNCIA<br />

O caminho sociológico para se compreender a violência segue<br />

pela reconstrução da complexidade das relações sociais, nas quais<br />

localizamos relações de poder que se exercem de múltiplas formas<br />

em torno do eixo de estruturação do social. Estes eixos podem ser, no<br />

pensamento sociológico contemporâneo, dispostos em cinco<br />

63 O conceito de classes perigosas « [...] la société criminelle - l'évolution de la description des<br />

groupes criminels présente de mêmes caractères. Le crime cesse de coller étroitement aux<br />

classes dangereuses, pour s'étendre, tout en changeant de signification, à de larges masses de<br />

population, à la plus grande partie des classes laborieuses. Le mot « misérables » désigne des<br />

moins en moins souvent les criminels, de plus en plus souvent les malheureux, qu'ils soient ou<br />

non criminels. [...] CHEVALIER ( op cit. : 200) - A sociedade criminal - a evolução da descrição dos<br />

grupos criminais apresenta as mesmas características. O crime deixa de vincular-se<br />

especificamente às classe perigosas, para estender-se, mudando de significado, a grandes<br />

massas de população, em sua maioria pertencente à classe trabalhadora. O termo « miserável<br />

» define cada vez menos os criminosos e mais os infelizes, quer sejam ou não criminosos. (<br />

tradução livre).<br />

RELATÓRIO AZUL <strong>2008</strong> 290

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