03.04.2013 Views

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

TEXTO 10 – HEnRy BEECHER E A GÊnESE DA BIOÉTICA<br />

HEnRy BEECHER AnD THE GEnESIS OF BIOETHICS<br />

Foi <strong>para</strong>lelamente à publicação do livro Bioethics:<br />

bridge to the future <strong>de</strong> Van Rensselaer Potter, criador do<br />

neologismo Bio<strong>ética</strong>, que Henry Beecher divulgou o artigo<br />

que mais assombro provocou na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica<br />

mundial, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o anúncio <strong>da</strong>s atroci<strong>da</strong><strong>de</strong>s cometi<strong>da</strong>s pelos<br />

médicos engajados no nazismo. Beecher era um médico<br />

anestesista, que colecionava relatos <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong>s científicas<br />

publica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> periódicos internacionais envolvendo seres<br />

humanos <strong>em</strong> condições pouco respeitosas 1 . Da compilação<br />

original <strong>de</strong> 50 artigos, Beecher publicou, <strong>em</strong> Ethics and<br />

Clinical Research, 22 relatos <strong>em</strong> que os alvos <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong><br />

eram os tradicionalmente tidos como subumanos: internos<br />

<strong>em</strong> hospitais <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, adultos com <strong>de</strong>ficiências<br />

mentais, crianças com retardos mentais, idosos, pacientes<br />

psiquiátricos, recém-nascidos, presidiários, enfim, pessoas<br />

incapazes <strong>de</strong> assumir uma postura moralmente ativa diante<br />

do <strong>pesquisa</strong>dor e do experimento 2 . Da análise <strong>de</strong>sses relatos<br />

<strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong>s, uma <strong>da</strong>s conclusões teóricas <strong>de</strong> Beecher que<br />

ain<strong>da</strong> impressionam pelo vanguardismo foi sua crítica ao uso<br />

do termo <strong>de</strong> consentimento informado como mera prescrição<br />

<strong>de</strong> rotina científica 3 “...a idéia <strong>de</strong> que o consentimento foi<br />

obtido assume pouca importância a não ser que o sujeito<br />

ou seu responsável tenham capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o<br />

que está sendo feito…” 4 Ou seja, Beecher sugeria que não<br />

bastava o recolhimento do termo <strong>de</strong> consentimento como<br />

uma salvaguar<strong>da</strong> legal, mas que este <strong>de</strong>veria representar<br />

CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

Debora Diniz*<br />

* Antropóloga. Consultora <strong>de</strong> Bio<strong>ética</strong> do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina. Pesquisadora do Núcleo <strong>de</strong> Estudos e<br />

Pesquisas <strong>em</strong> Bio<strong>ética</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.<br />

RESUMO: O artigo analisa o impacto causado pela publicação do artigo “Ethics and Clinical Research”, no qual Henry<br />

Beecher <strong>de</strong>nuncia vinte e dois experimentos envolvendo seres humanos <strong>em</strong> condições precárias <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong>. Avalia também o<br />

quanto as acusações <strong>de</strong> Beecher foram fun<strong>da</strong>mentais à estruturação <strong>da</strong> Bio<strong>ética</strong> como disciplina.<br />

UNITERMO: Bio<strong>ética</strong><br />

SUMMARY: The author analyses the impact caused by publication of the article “Ethics and Clinical Research”, in which<br />

Henry Beecher <strong>de</strong>nounces twenty two experiments involving human beings, carried out un<strong>de</strong>r poor research conditions. She also<br />

evaluates to what extent Beecher’s accusations were fun<strong>da</strong>mental for structuring Bioethics as an aca<strong>de</strong>mic subject.<br />

KEYWORD: Bioethics<br />

uma compreensão livre quanto ao experimento, uma idéia<br />

que hoje é consensual entre os bioeticistas. Mas, <strong>em</strong> nome<br />

<strong>de</strong>ssa fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> do termo <strong>de</strong> consentimento e <strong>de</strong> um certo<br />

vácuo ético que dominava a <strong>pesquisa</strong> científica no período<br />

pós-Segun<strong>da</strong> Guerra, o autor sugeria uma freqüência <strong>de</strong><br />

<strong>pesquisa</strong>s envolvendo maus-tratos com humanos <strong>em</strong> torno<br />

<strong>de</strong> 1/4 do total dos estudos publicados. Ora, os números e<br />

os <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> Beecher, além do óbvio mérito <strong>de</strong>nunciatório,<br />

tiveram um efeito secundário inesperado, um suave sabor<br />

<strong>de</strong> horror trágico: <strong>de</strong>monstrou-se que a imorali<strong>da</strong><strong>de</strong> não<br />

era exclusiva dos médicos nazistas. Foi assim que Beecher<br />

conseguiu uma proeza <strong>de</strong> fazer inveja aos sensacionalistas<br />

mo<strong>de</strong>rnos: trouxe o horror <strong>da</strong> imorali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ciência, dos<br />

confins dos campos <strong>de</strong> concentração, <strong>para</strong> o meio científico e<br />

acadêmico heg<strong>em</strong>ônico.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> provocação irônica que os <strong>da</strong>dos<br />

<strong>de</strong> Beecher sugeriam <strong>em</strong> relação ao autoritarismo ético que<br />

alguns países exerc<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação ao restante do mundo, a<br />

compilação dos maus-tratos <strong>em</strong> <strong>pesquisa</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou outro<br />

tipo <strong>de</strong> análise, além, é claro, do susto original provocado pela<br />

<strong>de</strong>núncia. Vale conferir a mais interessante <strong>de</strong>las, sugeri<strong>da</strong> por<br />

David Rothman, autor do livro Strangers at the Bedsi<strong>de</strong>, um<br />

estudo histórico que <strong>de</strong>sven<strong>da</strong> o lado perverso do surgimento<br />

<strong>da</strong> Bio<strong>ética</strong>: “…O julgamento dos médicos nazistas <strong>em</strong><br />

Nur<strong>em</strong>berg, por ex<strong>em</strong>plo, recebeu pouca cobertura <strong>da</strong><br />

imprensa e, antes <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, o próprio código raramente<br />

105

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!