capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
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Textos Básicos <strong>de</strong> Referência:<br />
TEXTO 12 – PESQUISA EnVOLVEnDO SERES HUMAnOS<br />
Des<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1996 (há dois anos, portanto) o Brasil<br />
dispõe <strong>de</strong> uma nova regulamentação sobre <strong>pesquisa</strong>s<br />
envolvendo seres humanos. Trata-se <strong>da</strong> Resolução nº<br />
196/96 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS), que veio a<br />
substituir a Resolução nº 1/88.<br />
A Resolução nº 196/96 apresenta particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />
algumas inovadoras e pioneiras, que a consagraram<br />
no cenário internacional – particularmente no latinoamericano<br />
– como peça relevante <strong>da</strong> Bio<strong>ética</strong>.<br />
Essa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> merece ser ressalta<strong>da</strong> e é <strong>de</strong>ntro do<br />
espírito e <strong>da</strong> conceituação doutrinária <strong>da</strong> Bio<strong>ética</strong> que<br />
a Resolução nº 196/96 <strong>de</strong>ve ser recebi<strong>da</strong> e, sobretudo,<br />
exercita<strong>da</strong>.<br />
Assim, <strong>de</strong> início há que se <strong>de</strong>ixar claro que a<br />
resolução não preten<strong>de</strong> ter características <strong>de</strong> código,<br />
<strong>de</strong>creto, lei, regimento ou até <strong>de</strong> estatuto, autoaplicável.<br />
Ela é muito mais.<br />
Em sua essência e forma, ela é um documento que<br />
exige - <strong>para</strong> compreensão e exercício – reflexão <strong>de</strong><br />
natureza <strong>ética</strong>, e não apenas respeito a valores morais ou<br />
<strong>de</strong> cunho <strong>de</strong>ontológico.<br />
Para muitos, moral e <strong>ética</strong> seriam diferentes apenas<br />
quanto à orig<strong>em</strong> <strong>da</strong> palavra: latim, no caso <strong>de</strong> moral e<br />
grego, no caso <strong>da</strong> <strong>ética</strong>.<br />
Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a diferença é b<strong>em</strong> maior. Os valores<br />
morais são valores <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> usos e costumes,<br />
consagrados pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> área<br />
geográfica, <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado momento. Ating<strong>em</strong>-nos, <strong>de</strong><br />
certa forma, vindos <strong>de</strong> “fora <strong>para</strong> <strong>de</strong>ntro”; entretanto,<br />
tais valores não são por nós ativamente eleitos, mas sim,<br />
na maior parte <strong>da</strong>s vezes, passivamente incorporados e<br />
obe<strong>de</strong>cidos.<br />
A <strong>ética</strong>, ao contrário, exige-nos uma reflexão crítica,<br />
um juízo <strong>de</strong> valores vindos <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ntro <strong>para</strong> fora”. Esse<br />
processo envolve razão, sentimentos, <strong>em</strong>oções, vivências,<br />
patrimônio genético, processo educacional, personali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />
* William Saad Hossne<br />
* Professor <strong>em</strong>érito (Cirurgia e Ética) <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Botucatu; fun<strong>da</strong>dor e primeiro presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong><br />
Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Bio<strong>ética</strong> e presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Comissão Nacional <strong>de</strong> Ética e Pesquisa (Conep), do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />
Saú<strong>de</strong><br />
condicionamentos e também valores morais.<br />
Por isso, o exercício <strong>da</strong> <strong>ética</strong>, não raro, po<strong>de</strong> criar<br />
<strong>de</strong>sconforto, ansie<strong>da</strong><strong>de</strong>, “angústia” – angústia essa, porém,<br />
mobilizadora <strong>de</strong> nossas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s racionais e <strong>em</strong>ocionais,<br />
vale dizer mobilizadora <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e evolução do ser<br />
humano.<br />
Em <strong>de</strong>corrência, a análise <strong>ética</strong> pressupõe como<br />
condição sine qua non a liber<strong>da</strong><strong>de</strong>; liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>para</strong> eleger<br />
valores, isto é, <strong>para</strong> fazer opções, por mais penoso que<br />
isto possa ser.<br />
S<strong>em</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> não existe reflexão <strong>ética</strong>. A liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
t<strong>em</strong> como contraponto a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>para</strong> ter responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>para</strong> ter<br />
liber<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para a <strong>ética</strong>, além <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> opção<br />
(e conseqüente responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>) outras condições<br />
são indispensáveis. Dentre elas, <strong>de</strong>stacam-se o nãopreconceito,<br />
a não-coação, a humil<strong>da</strong><strong>de</strong> no respeito aos<br />
valores <strong>de</strong> outr<strong>em</strong> e a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> espírito <strong>para</strong> mu<strong>da</strong>r<br />
pontos <strong>de</strong> vista pessoais.<br />
É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto que a Resolução nº 196/96<br />
se insere, acresci<strong>da</strong> do enfoque bioético.<br />
A Bio<strong>ética</strong> t<strong>em</strong>, hoje, compreensão e abrangência<br />
diversas <strong>da</strong>quelas <strong>de</strong> há 25 anos, quando o neologismo<br />
foi proposto. Bio<strong>ética</strong> não é mais apenas a junção <strong>de</strong><br />
bio (vi<strong>da</strong>) e <strong>ética</strong>, representando uma idéia <strong>de</strong> simples<br />
barreira ao mau uso dos avanços <strong>da</strong> biotecnologia.<br />
Bio<strong>ética</strong> implica <strong>ética</strong> (<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> concepção acima<br />
sumariza<strong>da</strong>) <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do meio ambiente,<br />
<strong>em</strong> visão multi e, sobretudo, transdisciplinar. A<br />
Resolução nº 196/96 incorpora esse aspecto <strong>da</strong> Bio<strong>ética</strong>,<br />
<strong>de</strong>stacando <strong>de</strong> imediato dois pontos relevantes <strong>em</strong> sua<br />
essência: 1º) ela se aplica a to<strong>da</strong> e qualquer <strong>pesquisa</strong> que<br />
envolva o ser humano, realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> qualquer campo<br />
ou área, e não apenas às <strong>pesquisa</strong>s biomédicas; 2º) a<br />
multi e a transdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> conti<strong>da</strong>s na sua estrutura<br />
e prática – o que se evi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> maneira concreta na<br />
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