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capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

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CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

ABSTRACT<br />

The protective role of Research Ethics Committees for human beings<br />

This paper reflects on the concept of medicine humanization, and att<strong>em</strong>pts to apply this notion to clinical research,<br />

looking for a relationship one would assume to be respectful towards another person. It <strong>de</strong>fines the role of Research Ethics<br />

Committees (RECs) as one of social control, and provi<strong>de</strong>s a list of current challenges to effective action in an increasingly<br />

complex environment. Finally, it presents actual examples where the protection of subjects in pharmacological trials is<br />

at stake, calling upon RECs to increase their in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and fully pursue their mission of humanizing the relationship<br />

between researchers/institutions and research subjects.<br />

O termo “humanização”<br />

O conteúdo e a forma <strong>de</strong> algumas palavras têm<br />

tal po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração que são capazes <strong>de</strong> reverter<br />

situações ti<strong>da</strong>s como irreversíveis ou <strong>de</strong> criar situações<br />

aparent<strong>em</strong>ente impossíveis.<br />

Já no século XVII, John Locke dizia haver um duplo<br />

uso <strong>da</strong>s palavras: primeiro, <strong>para</strong> o registro <strong>de</strong> nossos<br />

próprios pensamentos; segundo, <strong>para</strong> a comunicação <strong>de</strong><br />

nossos pensamentos aos outros. Acrescentava, ain<strong>da</strong>, <strong>em</strong><br />

outro sentido, um outro duplo uso <strong>da</strong>s mesmas: uso civil<br />

(comunicação <strong>de</strong> pensamentos e idéias que possam servir<br />

<strong>para</strong> manter <strong>de</strong> pé a conversa e o intercâmbio cotidianos)<br />

e uso filosófico (<strong>para</strong> que possam transmitir as noções<br />

exatas <strong>da</strong>s coisas).<br />

Há, to<strong>da</strong>via, um aspecto acerca <strong>da</strong> importância<br />

<strong>da</strong>s palavras que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre, ou ao menos não<br />

freqüent<strong>em</strong>ente, é reconhecido. É o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s palavras<br />

<strong>para</strong> respon<strong>de</strong>r a perguntas que não calam, <strong>para</strong> as quais<br />

não t<strong>em</strong>os, ain<strong>da</strong>, nenhum tipo <strong>de</strong> resposta satisfatória; é<br />

também o uso <strong>da</strong>s palavras <strong>para</strong> enfatizar ou conscientizar<br />

situações que, <strong>em</strong>bora importantes, ain<strong>da</strong> não po<strong>de</strong>m ser<br />

b<strong>em</strong> <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s ou <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente caracteriza<strong>da</strong>s.<br />

É característica do ser humano (e talvez este seja o traço que<br />

se<strong>para</strong> o hom<strong>em</strong> dos <strong>de</strong>mais animais) interrogar-se e interrogar<br />

a natureza e, a ca<strong>da</strong> resposta, formular novas perguntas.<br />

Com a metodologia científica atual, o hom<strong>em</strong> busca<br />

a “ver<strong>da</strong><strong>de</strong> científica” como resposta à sua in<strong>da</strong>gação.<br />

Quando não a consegue, cria como resposta uma teoria<br />

ou uma hipótese; e quando, seja pela natureza <strong>da</strong> pergunta<br />

seja pela fase <strong>de</strong> conhecimentos, não consegue formular<br />

n<strong>em</strong> teoria n<strong>em</strong> hipótese, não suportando a “angústia”<br />

<strong>da</strong> pergunta não respondi<strong>da</strong>, apela <strong>para</strong> a s<strong>em</strong>ântica,<br />

utilizando neologismos - <strong>em</strong> geral, com raiz latina ou<br />

grega. Assim, por ex<strong>em</strong>plo, se fala <strong>em</strong> tiroidite idiopática,<br />

cirrose criptogen<strong>ética</strong>.<br />

1 8<br />

Há 300 anos, Locke alertava <strong>para</strong> o fato – e o risco<br />

– comum <strong>de</strong> se utilizar velhas palavras <strong>para</strong> novos e<br />

incomuns significados, ou o <strong>de</strong> se introduzir termos novos<br />

e ambíguos s<strong>em</strong> <strong>de</strong>fini-los.<br />

Po<strong>de</strong>-se admitir que tais fatos e usos surg<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> “angústia” <strong>de</strong>sperta<strong>da</strong>, por pergunta<br />

(que não cala) <strong>para</strong> a qual ain<strong>da</strong> não se t<strong>em</strong> resposta ou<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> “angústia” cria<strong>da</strong> <strong>para</strong> uma situação<br />

concreta, sim, mas s<strong>em</strong> melhor caracterização ou <strong>de</strong>finição.<br />

Assim <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter surgido as expressões “<strong>de</strong>senvolvimento”<br />

(palavra ca<strong>da</strong> vez mais adjetiva<strong>da</strong>) e “globalização” (que<br />

tipo?, qual?), por ex<strong>em</strong>plo.<br />

Se, por um lado, <strong>em</strong> tais casos <strong>de</strong> angústia a s<strong>em</strong>ântica<br />

funciona como “válvula <strong>de</strong> escape”, fornecendo as palavras<br />

como salvaguar<strong>da</strong> <strong>para</strong> perguntas não respondi<strong>da</strong>s, permitindo<br />

a comunicação entre as pessoas; por outro, existe o risco <strong>da</strong><br />

banalização, <strong>da</strong> fuga ao probl<strong>em</strong>a e <strong>de</strong> confusão.<br />

Aliás, Montaigne já dizia “La plus parts <strong>de</strong>s ocasions <strong>de</strong><br />

troubles du mon<strong>de</strong> sont grammairiennes” (A maior parte<br />

<strong>da</strong>s ocasiões <strong>de</strong> perturbações do mundo são gramáticas).<br />

Séculos após, acrescentava Balzac: “A côte du besoin <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finir, se trouve le <strong>da</strong>nger <strong>de</strong> s’<strong>em</strong>brouiller (Ao lado <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir, está o risco <strong>de</strong> se confundir).<br />

Tendo como mote o título do simpósio, cabe in<strong>da</strong>gar<br />

porque nos últimos anos se v<strong>em</strong> falando <strong>em</strong> “humanização<br />

<strong>da</strong> medicina” e agora, mais recent<strong>em</strong>ente, <strong>em</strong> “humanização<br />

na assistência à saú<strong>de</strong>”.<br />

Por que se criou a expressão? Que tipo <strong>de</strong> “situação<br />

angustiante se busca aplacar”? O que se preten<strong>de</strong> com a<br />

expressão?<br />

A pergunta parece instigante pois, à primeira vista (e <strong>em</strong><br />

essência), se trata <strong>de</strong> enfrentar (e analisar) um <strong>para</strong>doxo: o<br />

que, por <strong>de</strong>finição , é “humano”, po<strong>de</strong> ser “humanizado”?<br />

Ou dito <strong>de</strong> outra forma, po<strong>de</strong>-se “humanizar” o que não<br />

existe se não for “humanizado”?

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