capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />
TEXTO 8 – O QUE FAZ QUE A PESQUISA CLÍnICA SEJA COnSIDERADA ÉTICA?<br />
SETE REQUISITOS ÉTICOS FUnDAMEnTAIS<br />
Introdução<br />
O que faz com que uma <strong>pesquisa</strong> clínica envolvendo<br />
seres humanos seja consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>ética</strong>? O termo <strong>de</strong><br />
consentimento livre e esclarecido é, provavelmente,<br />
a resposta que <strong>da</strong>riam a maioria dos <strong>pesquisa</strong>dores<br />
americanos, os bioeticistas e os m<strong>em</strong>bros dos Comitês<br />
<strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa – CEP. 2 Tal resposta reflete a<br />
prepon<strong>de</strong>rância do direcionamento existente na condução<br />
<strong>ética</strong> <strong>da</strong>s <strong>pesquisa</strong>s e a consi<strong>de</strong>rável ênfase coloca<strong>da</strong> no<br />
princípio <strong>da</strong> autonomia, o que segue o <strong>de</strong>lineamento<br />
fornecido pela bio<strong>ética</strong> estaduni<strong>de</strong>nse. No entanto, o<br />
consentimento livre e esclarecido apenas, não seria<br />
necessário e tão pouco suficiente, como garantia <strong>para</strong> que a<br />
<strong>pesquisa</strong> seja consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>ética</strong>. Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> algumas<br />
circunstâncias, como no caso <strong>da</strong>s <strong>pesquisa</strong>s realiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />
situações <strong>de</strong> urgência ou <strong>em</strong>ergência po<strong>de</strong>m ser realiza<strong>da</strong>s<br />
s<strong>em</strong> a assinatura do consentimento esclarecido. Além disso,<br />
muitas <strong>da</strong>s controvérsias cont<strong>em</strong>porâneas relaciona<strong>da</strong>s<br />
aos conflitos éticos provenientes <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong> clínica não<br />
inclu<strong>em</strong> o termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido.<br />
A <strong>pesquisa</strong> clínica nos países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, a<br />
utilização <strong>de</strong> placebo, a proteção <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que<br />
participam <strong>da</strong>s <strong>pesquisa</strong>s, a inclusão <strong>de</strong> crianças nos<br />
experimentos, entre outros aspectos, não estão centra<strong>da</strong>s<br />
no termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido, mas<br />
sim, na etici<strong>da</strong><strong>de</strong> relaciona<strong>da</strong> à seleção dos sujeitos, no<br />
balanço entre riscos e benefícios, no valor <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong><br />
<strong>para</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo. Delineamos um marco<br />
<strong>de</strong> sete requisitos <strong>para</strong> avaliar a <strong>ética</strong> dos protocolos <strong>de</strong><br />
<strong>pesquisa</strong>s clínicas que traz<strong>em</strong> códigos mais coerentes e<br />
sist<strong>em</strong>áticos, além <strong>da</strong>s <strong>de</strong>clarações tradicionais sobre as<br />
<strong>pesquisa</strong>s envolvendo seres humanos. Estes requisitos<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> guiar a avaliação <strong>ética</strong> dos protocolos <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong><br />
clínica pelos <strong>pesquisa</strong>dores, pelos m<strong>em</strong>bros dos Comitês<br />
<strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa, pelas instituições que financiam<br />
<strong>pesquisa</strong>s, entre outros.<br />
Classificação sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>stes requisitos éticos.<br />
Por que a <strong>pesquisa</strong> clínica necessita <strong>de</strong> requisitos<br />
éticos especiais? Por que uma boa <strong>pesquisa</strong> científica não é<br />
Ezekiel Emanuel 1<br />
suficiente apenas por si mesma? A boa ciência não equivale<br />
à boa <strong>ética</strong>? Estas perguntas são freqüentes, especialmente<br />
por parte dos <strong>pesquisa</strong>dores clínicos.<br />
O principal objetivo <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong> clínica é gerar<br />
conhecimento generalizável que sirva <strong>para</strong> melhorar a<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e o b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong>s pessoas e, ain<strong>da</strong>, <strong>para</strong><br />
aumentar a compreensão sobre a biologia humana. Desta<br />
forma, os sujeitos que <strong>de</strong>la participam seriam apenas um<br />
meio <strong>para</strong> assegurar a produção <strong>de</strong>sse conhecimento.<br />
Como conseqüência, <strong>em</strong> to<strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong> clínica existe a<br />
potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> exploração, quando se colocam os sujeitos<br />
<strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong> <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> prejudicados <strong>em</strong><br />
prol do b<strong>em</strong> <strong>de</strong> outros. Os requisitos éticos <strong>para</strong> a <strong>pesquisa</strong><br />
clínica estão direcionados a reduzir ao mínimo a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> exploração, com o objetivo <strong>de</strong> assegurar que os sujeitos<br />
<strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong> não sejam somente usados, mas, tratados com<br />
respeito, enquanto contribu<strong>em</strong> <strong>para</strong> o b<strong>em</strong> social.<br />
Durante os últimos 50 anos, as principais fontes <strong>de</strong><br />
orientação <strong>ética</strong> sobre a realização <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong>s clínicas têm<br />
sido o Código <strong>de</strong> Nur<strong>em</strong>bergue (1947), a Declaração <strong>de</strong><br />
Helsinque (1964 e versões posteriores), o Relatório Belmont<br />
(1978) e as normas do CIOMS (1993; 2003). 3 Entretanto,<br />
estes documentos foram elaborados <strong>em</strong> resposta a<br />
fatos específicos e ten<strong>de</strong>m a centrar-se nos t<strong>em</strong>as<br />
que lhes <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong>. O Código <strong>de</strong> Nur<strong>em</strong>bergue,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, constituiu parte <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão jurídica que<br />
con<strong>de</strong>nou as atroci<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos médicos nazistas. A<br />
Declaração <strong>de</strong> Helsinque se <strong>de</strong>senvolveu <strong>para</strong> preencher<br />
as lacunas percebi<strong>da</strong>s no Código <strong>de</strong> Nur<strong>em</strong>bergue,<br />
especialmente àquelas relaciona<strong>da</strong>s com os médicos que<br />
realizavam <strong>pesquisa</strong>s <strong>em</strong> pacientes. O Relatório Belmont foi<br />
elaborado <strong>para</strong> <strong>de</strong>limitar um marco filosófico e regulatório<br />
<strong>de</strong>senvolvidos <strong>para</strong> respon<strong>de</strong>r aos escân<strong>da</strong>los <strong>da</strong>s <strong>pesquisa</strong>s<br />
estaduni<strong>de</strong>nses, como os conhecidos Estudos Tuskegee e<br />
Willowbrook. As normas do CIOMS foram concebi<strong>da</strong>s <strong>para</strong><br />
impl<strong>em</strong>entar a aplicação <strong>da</strong> Declaração <strong>de</strong> Helsinque “nos<br />
países <strong>em</strong> vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento... (<strong>em</strong> particular <strong>para</strong>)<br />
ensaios <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> escala sobre vacinas e medicamentos”,<br />
especialmente <strong>para</strong> a Aids. Em conseqüência disso, os<br />
documentos se fixam <strong>em</strong> certos requisitos éticos específicos