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capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

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convicções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> bioeticistas europeus. A<br />

filosofia na Europa s<strong>em</strong>pre se preocupou muito com os<br />

t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentação, talvez até exagera<strong>da</strong>mente,<br />

diz<strong>em</strong> alguns. Por outro lado, o pragmatismo norteamericano<br />

ensinou a cui<strong>da</strong>r dos procedimentos. Nesse<br />

sentido, pergunta-se se a integração <strong>da</strong>s duas tradições<br />

não seria algo a ser perseguido.<br />

Duas tradições distintas – é possível dialogar e integrar?<br />

Numa perspectiva dialogal entre as tradições <strong>da</strong><br />

bio<strong>ética</strong> norte-americana e <strong>da</strong> européia é interessante<br />

ouvir o bioeticista James Drane, estudioso <strong>de</strong> <strong>ética</strong> clínica<br />

e que se t<strong>em</strong> preocupado com a bio<strong>ética</strong> na dimensão<br />

transcultural. Para ele, a <strong>ética</strong> européia é mais teórica<br />

e se preocupa com questões <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentação última<br />

e <strong>de</strong> consistência filosófica. Diz: “ao estar na Europa<br />

e ao i<strong>de</strong>ntificar-me com o horizonte mental e com as<br />

preocupações <strong>de</strong> meus colegas, observo o caráter<br />

pragmático e casuístico <strong>de</strong> nosso estilo <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a<br />

partir <strong>de</strong> vossa perspectiva. Certamente, nossa forma<br />

<strong>de</strong> fazer <strong>ética</strong> não é a correta e as outras são erra<strong>da</strong>s.<br />

De fato, estou convencido <strong>de</strong> que todos nós t<strong>em</strong>os <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r uns com os outros” 12 .<br />

Existe nos Estados Unidos uma forte corrente<br />

pragmática, liga<strong>da</strong> à maneira como os norte-americanos<br />

li<strong>da</strong>m com os dil<strong>em</strong>as éticos. Tal estilo é influenciado<br />

por John Dewey (1859-1952), consi<strong>de</strong>rado o pai do<br />

pragmatismo, que aplicou os métodos <strong>da</strong> ciência na<br />

resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as éticos. Pragmatismo que se<br />

<strong>de</strong>senvolve como corolário do <strong>em</strong>pirismo <strong>de</strong> Francis<br />

Bacon e do utilitarismo <strong>de</strong> Jer<strong>em</strong>y Bentham e John<br />

Stuart Mill – que mais tar<strong>de</strong> avançará <strong>para</strong> o positivismo<br />

lógico. Dewey pensava que a <strong>ética</strong> e as outras disciplinas<br />

humanistas progrediam muito pouco porque <strong>em</strong>pregavam<br />

metodologias envelheci<strong>da</strong>s. Criticou a perspectiva clássica<br />

grega, segundo a qual os homens são espectadores <strong>de</strong> um<br />

mundo invariável <strong>em</strong> que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é absoluta e eterna.<br />

Dewey elaborou uma <strong>ética</strong> objetiva, utilizando o método<br />

científico na filosofia. Para ele, a <strong>de</strong>terminação do b<strong>em</strong> ou<br />

do mal era uma forma <strong>de</strong> resolver os probl<strong>em</strong>as práticos<br />

<strong>em</strong>pregando os métodos próprios <strong>da</strong>s ciências, <strong>para</strong><br />

chegar a respostas que sejam funcionais na prática. A<br />

tendência é <strong>de</strong> assumir uma perspectiva conseqüencialista<br />

com critério utilitarista. Não po<strong>de</strong>mos esquecer que como<br />

reação a esta orientação dominante surge John Rawls e<br />

CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

sua reflexão sobre a justiça como eqüi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Drane critica a perspectiva <strong>da</strong> bio<strong>ética</strong> “ma<strong>de</strong> in USA”,<br />

que não leva <strong>em</strong> conta o caráter, as virtu<strong>de</strong>s, mas fica pura<br />

e simplesmente polariza<strong>da</strong> numa reflexão racional sobre<br />

as ações humanas. S<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, este enfoque é parcial. A<br />

<strong>ética</strong> não trata somente <strong>de</strong> ações, mas também <strong>de</strong> hábitos<br />

(virtu<strong>de</strong>s) e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s (caráter). Nesse sentido, o enfoque<br />

ético europeu, fort<strong>em</strong>ente marcado pela idéia <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong><br />

e caráter, po<strong>de</strong> ser compl<strong>em</strong>entar ao norte-americano.<br />

A <strong>ética</strong> médica dos Estados Unidos se <strong>de</strong>senvolveu num<br />

contexto relativista e pluralista, porém se inspira na ciência<br />

e se apóia no postulado científico que exige submeter to<strong>da</strong><br />

proposta à sua operacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> na vi<strong>da</strong> real.<br />

Segundo Drane, por mais importantes que sejam<br />

as questões críticas sobre fun<strong>da</strong>mentação, não seria<br />

imprescindível resolvê-las antes que se possa progredir. De<br />

fato, começar a partir <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real (fatos e casos <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> situação clínica) t<strong>em</strong> muita vantag<strong>em</strong> sobre o<br />

procedimento no sentido inverso, no caso do método <strong>de</strong>dutivo<br />

baseado <strong>em</strong> elegantes teorias. Na visão <strong>de</strong>ste bioeticista<br />

norte americano “um dos aspectos mais inesperados e<br />

gratificantes <strong>da</strong> experiência americana <strong>em</strong> <strong>ética</strong> médica é<br />

ver os inúmeros acordos conseguidos <strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as médicos<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, numa cultura pluralista, quando o<br />

processo começa com el<strong>em</strong>entos reais e trata <strong>de</strong> encontrar<br />

uma solução prática e provável, mais do que uma resposta<br />

certa e teoricamente correta” 13 .<br />

Outro aspecto importante enfatizado por Drane<br />

é quando ele afirma que a <strong>ética</strong> médica salvou a <strong>ética</strong>,<br />

enquanto refletiu seriamente sobre o lícito e o ilícito <strong>em</strong><br />

contato com os probl<strong>em</strong>as reais. Colocou novamente<br />

a <strong>ética</strong> <strong>em</strong> contato com a vi<strong>da</strong>. Stephen Toulmin fala<br />

do renascimento <strong>da</strong> filosofia moral <strong>em</strong> sua obra Como<br />

a Ética Médica Salvou a Vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Filosofia Moral. A<br />

filosofia moral reencontrou o mundo <strong>da</strong> ação e a teologia<br />

moral libertou-se do moralismo.<br />

A contribuição <strong>da</strong> <strong>ética</strong> teológica neste contexto foi<br />

importante e não <strong>de</strong>ve ser esqueci<strong>da</strong>. Ela nunca se afastou <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e foi capaz <strong>de</strong> tomar a iniciativa quando a atenção<br />

voltou-se <strong>para</strong> os probl<strong>em</strong>as médicos. Pouco a pouco,<br />

também os especialistas leigos <strong>de</strong> <strong>ética</strong> se incorporaram<br />

neste movimento. Muitos dos probl<strong>em</strong>as com os quais a<br />

<strong>ética</strong> teológica se preocupava, por ex<strong>em</strong>plo, as questões<br />

relaciona<strong>da</strong>s com o início e fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, procriação e morte,<br />

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