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capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

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CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

<strong>em</strong> interpretar e sintetizar os resultados (<strong>em</strong>píricos)<br />

vindos <strong>da</strong>s disciplinas inferiores. Agora, ao contrário,<br />

essa hierarquia prévia se dissolveu <strong>de</strong> tal forma que a<br />

interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> assume um significado totalmente<br />

novo e parecer ser uma conquista dos últimos anos.<br />

Tenho assim caracterizado <strong>em</strong> que sentido a posição<br />

que sublinha a importância <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />

aceitável, e esclarecido o aspecto que parecia <strong>de</strong>mais<br />

genérico. Inicialmente, a bio<strong>ética</strong> nasce como reflexão<br />

limita<strong>da</strong> a análise <strong>de</strong> alguns probl<strong>em</strong>as específicos tais<br />

como a contracepção, o aborto, a suspensão <strong>da</strong>s terapias<br />

e a eutanásia, etc. Com o passar dos anos, as instituições<br />

consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s no caso <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a específico são<br />

estendi<strong>da</strong>s também a outros ângulos, tanto que nos<br />

últimos anos o <strong>de</strong>bate se t<strong>em</strong> tornado mais sist<strong>em</strong>ático,<br />

vindo a envolver t<strong>em</strong>as mais amplos e gerais que<br />

implicam todo o âmbito médico. É a esse ponto que<br />

<strong>em</strong>erg<strong>em</strong> algumas <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais peculiares <strong>da</strong><br />

nova reflexão, pois percebe-se que o abandono do Psv<br />

implica uma espécie <strong>de</strong> Gestalt switch, ou seja, que requer<br />

um salto <strong>de</strong> perspectiva, obrigando-nos a re<strong>de</strong>screver as<br />

situações e a rever a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira diferente <strong>da</strong><br />

visão tradicional. Mas essa mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> perspectiva não<br />

é s<strong>em</strong>pre fácil, seja porque, obviamente, exist<strong>em</strong> alguns<br />

que continuam a sustentar a perspectiva tradicional,<br />

seja <strong>de</strong>vido aos fortes sentimentos associados a essa<br />

perspectiva, assim é s<strong>em</strong>pre difícil ver claramente as<br />

conseqüências que <strong>de</strong>rivam <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça ocorri<strong>da</strong>.<br />

Para além <strong>de</strong>ssas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, parece que se <strong>de</strong>ve<br />

reconhecer que a medicina está numa vira<strong>da</strong> radical na<br />

sua história e que o abandono do PSV implica repensar<br />

radicalmente os próprios objetivos <strong>da</strong> medicina. De<br />

fato, alguns autores obsevam que no passado se tinha<br />

uma “medicina dos sintomas”, ten<strong>de</strong>nte a r<strong>em</strong>ediar as<br />

condições patológicas, ao passo que hoje começa a<br />

aparecer no horizonte a “medicina est<strong>ética</strong>, a paliativa,<br />

etc., não têm como objetivo a “terapia” <strong>de</strong> patologias,<br />

mas a satisfação dos <strong>de</strong>sejos <strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s.<br />

De to<strong>da</strong> forma, no estágio atual do <strong>de</strong>bate é difícil fazer<br />

previsões sobre o futuro, até porque o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>da</strong> reflexão não vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r somente <strong>da</strong>s razões <strong>de</strong><br />

caráter teórico e i<strong>de</strong>al, mas talvez mais <strong>de</strong> razões mais<br />

concretas <strong>de</strong> caráter histórico e <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Se é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro que após os anos 1970 no mundo<br />

2<br />

oci<strong>de</strong>ntal se tenha difundido uma moral s<strong>em</strong> absolutos,<br />

então se po<strong>de</strong> dizer que o novo nome “bio<strong>ética</strong>” t<strong>em</strong><br />

se tornado comum porque, <strong>de</strong> forma mais ou menos<br />

consciente, ele indica algo efetivamente. Se a <strong>ética</strong><br />

médica dos anos 1950 é a aplicação <strong>da</strong> <strong>ética</strong> tradicional<br />

(com <strong>de</strong>veres absolutos) ao âmbito médico, a bio<strong>ética</strong><br />

é a aplicação <strong>da</strong> “nova <strong>ética</strong>” (s<strong>em</strong> <strong>de</strong>veres absolutos)<br />

a esse âmbito. Exatamente, a afirmação <strong>de</strong>ssa “nova<br />

<strong>ética</strong>” explica o diverso “clima cultural” <strong>em</strong> matéria,<br />

ou, antes, esse novo clima cultural está tão enraizado e<br />

difundido que até alguns autores católicos negam que a<br />

<strong>ética</strong> tradicional tenha prescrito <strong>de</strong>veres absolutos, mais<br />

do que isso: tais autores afirmam que dizê-lo é fazer<br />

uma “caricatura” <strong>da</strong> <strong>ética</strong> tradicional, <strong>em</strong> particular,<br />

<strong>da</strong> <strong>ética</strong> católica. 12 Nessa perspectiva se afirma que,<br />

talvez, os <strong>de</strong>veres absolutos tenham sido afirmados<br />

pelo magistério eclesiástico, mas que, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, os<br />

teólogos morais têm admitido tantas exceções tornando<br />

praticamente s<strong>em</strong> efeito a interdição absoluta inicial.<br />

Essa objeção confirma, por um lado, a análise feita<br />

relativa à “nova moral”, mostrando o quanto ela esteja<br />

difundi<strong>da</strong> também no mundo católico, mas, por outro<br />

lado, ela é totalmente insustentável, pois – como t<strong>em</strong><br />

sido observado – a moral tradicional (a dos “manuais”)<br />

simplesmente aceitava como “auto-evi<strong>de</strong>nte” a<br />

existência <strong>de</strong> absolutos morais e, portanto, não se<br />

preocupando <strong>em</strong> justificá-los. 13 N<strong>em</strong> se <strong>de</strong>ve crer –<br />

como às vezes se pensa – que antigamente os teólogos<br />

morais foss<strong>em</strong> tão “omissos”, pois to<strong>da</strong> a “casuística”<br />

t<strong>em</strong> <strong>de</strong> fato sido uma tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir tudo<br />

aquilo que era lícito fazer s<strong>em</strong> infringir as interdições<br />

absolutas. N<strong>em</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os esquecer que até pouco t<strong>em</strong>po<br />

atrás (pens<strong>em</strong>os no imperativo categórico kantiano) era<br />

opinião praticamente comum que a moral impõe <strong>de</strong>veres<br />

absolutos, e t<strong>em</strong>os <strong>de</strong> esperar a afirmação do utilitarismo<br />

e a secularização <strong>da</strong> cultura <strong>para</strong> começar a questionar<br />

esse ponto. Tampouco po<strong>de</strong>mos esquecer que qu<strong>em</strong><br />

afirma que a bio<strong>ética</strong> é a continuação <strong>da</strong> <strong>ética</strong> médica<br />

tradicional ain<strong>da</strong> hoje acredita nos absolutos como<br />

condição imprescindível <strong>da</strong> morali<strong>da</strong><strong>de</strong>, afirmando que<br />

o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro probl<strong>em</strong>a consiste <strong>em</strong> elaborar uma nova<br />

linguag<strong>em</strong> compreensível à mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea<br />

e capaz <strong>de</strong> tornar compreensíveis tais absolutos.<br />

Para os <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong>ssa posição, qu<strong>em</strong> afirma a

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