capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
TEXTO 17 – A QUESTÃO DA COOPERAÇÃO ESTRAnGEIRA<br />
* Coor<strong>de</strong>nador <strong>da</strong> Conep<br />
** Professora <strong>de</strong> Bioestatística e m<strong>em</strong>bro <strong>da</strong> Conep.<br />
A leitura sist<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>s revistas médicas evi<strong>de</strong>ncia<br />
como a informação, nessa área, é complexa e diversifica<strong>da</strong>.<br />
Aparec<strong>em</strong> artigos originais, artigos <strong>de</strong> revisão, artigos <strong>de</strong><br />
divulgação e, ultimamente, meras análises. Os estudos<br />
se multiplicam com veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> espantosa e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
produz<strong>em</strong> resultados similares. E os médicos precisam<br />
aceitar ou rejeitar as conclusões apresenta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> tomar<br />
<strong>de</strong>cisões clínicas acerta<strong>da</strong>s. A toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão não é,<br />
porém, tarefa fácil; além <strong>de</strong> experiência e conhecimento<br />
sobre doenças e intervenções <strong>para</strong> fun<strong>da</strong>mentar o raciocínio<br />
lógico diante dos muitos resultados contraditórios, é preciso<br />
conhecimento <strong>da</strong>s técnicas científicas.<br />
As contradições encontra<strong>da</strong>s na literatura médica têm<br />
explicações diversas. Primeiro, a inferência estatística<br />
está sujeita a erros que não po<strong>de</strong>m ser esquecidos, mesmo<br />
quando associados a níveis baixos <strong>de</strong> probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os<br />
erros <strong>de</strong> inferência são inerentes à <strong>pesquisa</strong> científica, mas<br />
na <strong>pesquisa</strong> médica também ocorr<strong>em</strong> erros metodológicos,<br />
que os <strong>pesquisa</strong>dores estão apren<strong>de</strong>ndo a controlar. Até<br />
pouco t<strong>em</strong>po atrás, a maioria dos <strong>pesquisa</strong>dores não sabia<br />
o que era casualização, estratificação, controle negativo<br />
e controle positivo, experimentos cegos e duplos cegos,<br />
estudos prospectivos e estudos retrospectivos. Os erros<br />
metodológicos explicavam, portanto, gran<strong>de</strong> parte dos<br />
resultados contraditórios. Hoje, estes conceitos estão<br />
absorvidos. Explica-se, então, muito <strong>da</strong>s contradições <strong>da</strong><br />
literatura pelas diferenças <strong>da</strong>s amostras.<br />
Na <strong>pesquisa</strong> médica, umas poucas pessoas representam<br />
muitas pessoas. Só que os <strong>pesquisa</strong>dores n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
consegu<strong>em</strong> recrutar um número suficiente <strong>de</strong> pacientes<br />
<strong>para</strong> ter, <strong>em</strong> mãos, uma amostra <strong>de</strong> bom tamanho. Esta é,<br />
talvez, uma <strong>da</strong>s razões <strong>de</strong> a literatura não registrar evidência<br />
estatística <strong>para</strong> diferenças que têm significado clínico. É,<br />
pois, bastante possível que a gran<strong>de</strong> maioria dos ensaios<br />
“negativos” tenha, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pouco po<strong>de</strong>r estatístico<br />
(probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> rejeitar a hipótese <strong>da</strong> nuli<strong>da</strong><strong>de</strong>, quando<br />
ela é falsa), por conta <strong>de</strong> amostras muito pequenas.<br />
CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />
William Saad Hossne*<br />
Sonia Vieira**<br />
Para resolver esta questão, têm sido recomen<strong>da</strong>dos os<br />
estudos multicêntricos, isto é, estudos <strong>em</strong> que o mesmo<br />
experimento é conduzido <strong>em</strong> vários centros clínicos com<br />
o mesmo protocolo, simultaneamente. Os resultados<br />
assim obtidos são, <strong>em</strong> geral, mais convincentes do que os<br />
resultados <strong>de</strong> um único experimento.<br />
As razões disto são varia<strong>da</strong>s. Primeiro, a base <strong>para</strong><br />
a generalização é maior, <strong>da</strong><strong>da</strong> à maior variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />
pacientes. Segundo, como ca<strong>da</strong> centro fornece resultados<br />
praticamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, é possível analisar a variação<br />
entre centros e examinar a consistência dos resultados,<br />
o que, aliás, <strong>de</strong>veria ser obrigatório. Terceiro, como as<br />
populações estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s nos diversos centros são, <strong>em</strong> geral,<br />
diferentes, é possível e recomendável proce<strong>de</strong>r à análise dos<br />
subgrupos. Ain<strong>da</strong>, como ca<strong>da</strong> centro clínico terá condições<br />
<strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> seus pacientes, o tamanho <strong>da</strong> amostra aumenta<br />
s<strong>em</strong> prejuízo <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do atendimento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ca<strong>da</strong><br />
centro tenha participado, ou no mínimo, concor<strong>da</strong>do com<br />
o <strong>de</strong>lineamento do projeto e consi<strong>de</strong>rado os aspectos éticos<br />
e científicos.<br />
Os estudos multicêntricos são importantes ferramentas<br />
<strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong>. Mas uma característica <strong>de</strong>sses estudos que<br />
po<strong>de</strong> até ser entendi<strong>da</strong> como <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>, refere- se<br />
à natureza <strong>da</strong> estrutura organizacional. É preciso que os<br />
múltiplos centros trabalh<strong>em</strong> <strong>em</strong> conjunto. Só uma perfeita<br />
organização permitirá que os muitos <strong>pesquisa</strong>dores junt<strong>em</strong><br />
esforços <strong>para</strong> que as discussões e a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sejam<br />
feitas <strong>em</strong> reuniões e <strong>para</strong> que haja garantia <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência<br />
aos propósitos estabelecidos. S<strong>em</strong> organização, corr<strong>em</strong><br />
risco a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos <strong>da</strong>dos, a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos resultados e a<br />
legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s conclusões.<br />
Na execução <strong>de</strong> estudos multicêntricos, o primeiro<br />
passo é a busca <strong>de</strong> fundos. As atitu<strong>de</strong>s difer<strong>em</strong> muito,<br />
nesse aspecto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> é o responsável pelo<br />
início <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong>, se o <strong>pesquisa</strong>dor, ou o patrocinador.<br />
De qualquer forma, existe uma seqüência <strong>de</strong> passos que<br />
precisa ser obe<strong>de</strong>ci<strong>da</strong>. Começa-se, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, com<br />
145