03.04.2013 Views

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> bio<strong>ética</strong> mundial v<strong>em</strong><br />

ultimamente privilegiando preocupações <strong>ética</strong>s típicas <strong>de</strong><br />

países tais como os <strong>da</strong> América Latina e Caribe. Daniel<br />

Wikler, na palestra conclusiva do III Congresso Mundial<br />

<strong>de</strong> Bio<strong>ética</strong>, realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> São Francisco, EUA, <strong>em</strong> 1996,<br />

intitula<strong>da</strong> “Bioethics and social responsibility”, diz que<br />

ao olharmos o nascimento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> bio<strong>ética</strong><br />

t<strong>em</strong>os já claramente <strong>de</strong>linea<strong>da</strong>s quatro fases: a) primeira<br />

fase: t<strong>em</strong>os os códigos <strong>de</strong> conduta dos profissionais. A<br />

bio<strong>ética</strong> é praticamente entendi<strong>da</strong> como sendo <strong>ética</strong><br />

médica; b) segun<strong>da</strong> fase: entra <strong>em</strong> cena o relacionamento<br />

médico-paciente. Questiona-se o paternalismo, começase<br />

a falar dos direitos dos pacientes (autonomia, liber<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc.); c) terceira fase: questionamentos a respeito<br />

do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, incluindo organização e estrutura,<br />

financiamento e gestão. Os bioeticistas têm que estu<strong>da</strong>r<br />

economia e política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Callahan, 1980); e d) quarta<br />

fase: é a que estamos entrando, neste final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

90. A bio<strong>ética</strong>, prioritariamente, vai li<strong>da</strong>r com a saú<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

população, com a adição, entre outros t<strong>em</strong>as can<strong>de</strong>ntes,<br />

<strong>da</strong>s ciências sociais, humani<strong>da</strong><strong>de</strong>s, saú<strong>de</strong> pública, direitos<br />

humanos e a questão <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong><strong>de</strong> e alocação <strong>de</strong> recursos<br />

(21) . Esta agen<strong>da</strong> programática t<strong>em</strong> tudo a ver com o<br />

momento ético <strong>da</strong> América Latina.<br />

b) O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma mística <strong>para</strong> a bio<strong>ética</strong><br />

Estaria incompleta nossa reflexão se não<br />

apontáss<strong>em</strong>os a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>safiante <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver<br />

uma mística <strong>para</strong> a bio<strong>ética</strong>. Po<strong>de</strong> até parecer estranho<br />

<strong>para</strong> um pensamento marcado pelo pragmatismo e pelo<br />

culto <strong>da</strong> eficiência sugerir que a bio<strong>ética</strong> necessite <strong>de</strong><br />

uma mística. A bio<strong>ética</strong> necessita <strong>de</strong> um horizonte <strong>de</strong><br />

sentido, não importa o quanto estreito ou amplo seja,<br />

<strong>para</strong> <strong>de</strong>senvolver suas reflexões e propostas. Ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, não po<strong>de</strong>mos fazer bio<strong>ética</strong> s<strong>em</strong> optar no mundo<br />

<strong>da</strong>s relações humanas. Isto <strong>em</strong> si mesmo é uma indicação<br />

<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma forma <strong>de</strong> mística, ou <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> significados fun<strong>da</strong>mentais que aceitamos e<br />

a partir dos quais cultivamos nossos i<strong>de</strong>alismos, faz<strong>em</strong>os<br />

nossas opções e organizamos nossas práticas.<br />

Não é fácil <strong>de</strong>finir <strong>em</strong> poucas palavras uma mística<br />

libertadora <strong>para</strong> a bio<strong>ética</strong>. Ela necessariamente incluiria<br />

a convicção <strong>da</strong> transcendência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que rejeita a<br />

noção <strong>de</strong> doença, sofrimento e morte como absolutos<br />

50<br />

intoleráveis. Incluiria a percepção dos outros como<br />

parceiros capazes <strong>de</strong> viver a vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

compreendê-la e aceitá-la como um dom. Esta mística<br />

seria, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, test<strong>em</strong>unha no sentido <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixar<br />

os interesses individuais egoístas se sobrepor<strong>em</strong> e<br />

calar<strong>em</strong> a voz dos outros (excluídos) e escon<strong>de</strong>r<strong>em</strong> suas<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Esta mística proclamaria, frente a to<strong>da</strong>s<br />

as conquistas <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do cui<strong>da</strong>do à saú<strong>de</strong>,<br />

que o imperativo técnico-científico, posso fazer, passa<br />

obrigatoriamente pelo discernimento <strong>de</strong> outro imperativo<br />

ético, logo <strong>de</strong>vo fazer? Ain<strong>da</strong> mais, encorajaria as<br />

pessoas, grupos dos mais diferentes contextos sóciopolítico-econômico-culturais,<br />

a unir-se na <strong>em</strong>preita<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

garantir uma vi<strong>da</strong> digna <strong>para</strong> todos, na construção <strong>de</strong> um<br />

<strong>para</strong>digma econômico e técnico-científico que aceita ser<br />

guiado pelas exigências <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> humana (22) .<br />

Algumas notas conclusivas<br />

1. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> análise teórica (<strong>para</strong>digma) principialista<br />

iniciado com o Relatório Belmont e impl<strong>em</strong>entado por<br />

Beauchamp e Childress é uma linguag<strong>em</strong> entre outras<br />

linguagens <strong>ética</strong>s. Não é a única exclusiva. A experiência<br />

<strong>ética</strong> po<strong>de</strong> ser expressa <strong>em</strong> diferentes linguagens,<br />

<strong>para</strong>digmas ou mo<strong>de</strong>los teóricos, tais como os <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong>s e<br />

excelência, o casuístico, o contratual, o liberal autonomista,<br />

o do cui<strong>da</strong>do, o antropológico humanista, o <strong>de</strong> libertação,<br />

só <strong>para</strong> l<strong>em</strong>brar alguns. Obviamente, a convivência<br />

com esse pluralismo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los teóricos exige diálogo<br />

respeitoso pelas diferenças <strong>em</strong> que a tolerância é um <strong>da</strong>do<br />

imprescindível. Todos esses mo<strong>de</strong>los ou linguagens estão<br />

intrinsecamente inter-relacionados, mas ca<strong>da</strong> um <strong>em</strong> si é<br />

incompleto e limitado. Um mo<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong> li<strong>da</strong>r b<strong>em</strong> com<br />

um <strong>de</strong>terminado aspecto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moral, mas ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po não com os outros. Não po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rálos<br />

como sendo exclusivos, mas compl<strong>em</strong>entares. As<br />

dimensões morais <strong>da</strong> experiência humana não po<strong>de</strong>m ser<br />

captura<strong>da</strong>s numa única abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>. Isto não surpreen<strong>de</strong>,<br />

pois a amplidão e a riqueza <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> experiência<br />

humana s<strong>em</strong>pre estão além do alcance <strong>de</strong> qualquer sist<strong>em</strong>a<br />

filosófico ou teológico. É esta humil<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sabedoria que<br />

nos <strong>de</strong>ixará livres do vírus dos “ismos” que são ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

parciais que tomam uma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

como sendo o todo.<br />

2. Os probl<strong>em</strong>as bioéticos mais importantes <strong>da</strong> América

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!