capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...
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ESFORÇOS INTERNACIONAIS DE<br />
REGULAMENTAR ETICAMENTE PESQUISA<br />
EM SERES HUMANOS<br />
Como reação a estes abusos, apareceu uma série <strong>de</strong><br />
documentos e <strong>de</strong>clarações internacionais que procuravam<br />
especificamente regulamentar a <strong>ética</strong> <strong>em</strong> <strong>pesquisa</strong> <strong>em</strong><br />
seres humanos. Os mais famosos são: a Declaração <strong>de</strong><br />
Nur<strong>em</strong>berg (1947); 4 Princípios <strong>para</strong> os Envolvidos <strong>em</strong><br />
Pesquisa e Experimentação (1954); 5 Declaração <strong>de</strong><br />
Helsinque (1964, revisa<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1975, 1983, 1989, 1996<br />
e 2000) 6 e a Declaração <strong>de</strong> Manila (1981) (França,<br />
2000). Merec<strong>em</strong> igualmente atenção o texto do Conselho<br />
<strong>para</strong> Organizações Internacionais <strong>de</strong> Ciências Médicas<br />
(CIOMS) <strong>em</strong> colaboração com a Organização Mundial<br />
<strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), Diretrizes Éticas Internacionais <strong>para</strong><br />
Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos –<br />
Genebra – 1993 (Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Medicina, 1995)<br />
(que inclui como anexo a Declaração <strong>de</strong> Helsinque), a<br />
Declaração <strong>de</strong> Princípios Éticos dos Médicos do Mercosul,<br />
Assunção 1996 (cf. art. 7) (França, 2000) e o Manual <strong>de</strong><br />
Boas Práticas Clínicas – 1996 (EMEA, 1997).<br />
A Declaração <strong>de</strong> Nur<strong>em</strong>berg<br />
A Declaração <strong>de</strong> Nur<strong>em</strong>berg merece um pequeno<br />
comentário por causa <strong>da</strong> sua importância histórica e<br />
simbólica. Historicamente, t<strong>em</strong> importância por ser o<br />
primeiro <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> textos que procuram, <strong>em</strong> nível<br />
internacional, regulamentar eticamente <strong>pesquisa</strong>s <strong>em</strong> seres<br />
humanos. Simbolicamente, é importante por representar<br />
um novo começo após as barbari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra<br />
Mundial e um resgate <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>ética</strong> que já estava<br />
presente na Al<strong>em</strong>anha, que produziu as diretrizes sobre<br />
experimentação <strong>em</strong> seres humanos publica<strong>da</strong>s na Circular<br />
do Reichs Ministro do Interior <strong>de</strong> 1931 (Reich, 1995).<br />
Cui<strong>da</strong>dos com o b<strong>em</strong>-estar do sujeito <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong>, com<br />
sua vi<strong>da</strong> e sua saú<strong>de</strong>, e forte ênfase sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
obter seu consentimento são el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong>s diretrizes que<br />
vão se tornar constantes <strong>em</strong> documentos subseqüentes.<br />
O texto <strong>da</strong> Declaração <strong>de</strong> Nur<strong>em</strong>berg não é extenso,<br />
mas <strong>de</strong>ita, <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>z princípios que procuram<br />
<strong>de</strong>stacar várias consi<strong>de</strong>rações <strong>ética</strong>s <strong>em</strong> relação à <strong>pesquisa</strong><br />
<strong>em</strong> seres humanos, os alicerces <strong>para</strong> a regulamentação que<br />
v<strong>em</strong> <strong>de</strong>pois.<br />
O primeiro princípio a receber atenção, precisamente<br />
CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />
porque foi tão <strong>de</strong>sprezado nos campos <strong>de</strong> concentração, é o<br />
princípio <strong>de</strong> consentimento: “O consentimento voluntário<br />
do sujeito humano é absolutamente essencial”. Esta ênfase<br />
sobre consentimento vai se tornar um tipo <strong>de</strong> espinha<br />
dorsal dos documentos subseqüentes e vai aju<strong>da</strong>r a reforçar<br />
a <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> uma nova consciência <strong>da</strong> autonomia do<br />
doente, do paciente e do sujeito <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong> saudável. A<br />
Declaração <strong>de</strong>ixa claro que a questão <strong>de</strong> consentimento se<br />
esten<strong>de</strong> não apenas à licença <strong>para</strong> o <strong>pesquisa</strong>dor iniciar a<br />
<strong>pesquisa</strong>, mas também, ao direito <strong>de</strong> o sujeito <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong><br />
suspen<strong>de</strong>r este consentimento a qualquer momento e<br />
interromper sua participação na investigação.<br />
Outra preocupação <strong>da</strong> Declaração é com a cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong>, precisamente como uma exigência <strong>ética</strong>. O<br />
<strong>de</strong>senho <strong>da</strong> experiência <strong>de</strong>ve ser cientificamente sólido,<br />
baseado <strong>em</strong> estudos anteriores, também <strong>em</strong> animais,<br />
se for o caso, e conduzido por pessoas cientificamente<br />
qualifica<strong>da</strong>s. Para ser <strong>ética</strong>, a <strong>pesquisa</strong> precisa ser científica<br />
porque um projeto mal conceituado po<strong>de</strong> pôr <strong>em</strong> risco a<br />
vi<strong>da</strong> e a saú<strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas.<br />
Esta preocupação <strong>em</strong> não fazer mal, o princípio<br />
<strong>da</strong> não-maleficência, é outra característica forte <strong>da</strong><br />
Declaração. A experiência <strong>de</strong>ve ser conduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> tal<br />
forma que se evite todo traumatismo e sofrimento físico<br />
e mental <strong>de</strong>snecessários; <strong>de</strong>ve-se evitar <strong>pesquisa</strong>s on<strong>de</strong> se<br />
po<strong>de</strong> prever a morte do sujeito; 7 o risco nunca <strong>de</strong>ve ser<br />
<strong>de</strong>sproporcional ao benefício esperado; <strong>de</strong>ve-se tomar as<br />
medi<strong>da</strong>s cabíveis <strong>para</strong> evitar mesmo a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> r<strong>em</strong>ota<br />
<strong>de</strong> provocar na pessoa injúria, incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou morte e,<br />
porventura, se tal possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> surgir, o <strong>pesquisa</strong>dor <strong>de</strong>ve<br />
<strong>de</strong>scontinuar a experiência.<br />
Além <strong>de</strong> não fazer o mal, a <strong>pesquisa</strong> <strong>de</strong>ve fazer o<br />
b<strong>em</strong>: “O experimento <strong>de</strong>ve visar a resultados saudáveis<br />
à socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (n. 2), mas mesmo assim, somente <strong>de</strong>ve ser<br />
executado quando não houver outro meio <strong>para</strong> alcançar<br />
este b<strong>em</strong>.<br />
A Declaração <strong>de</strong> Helsinque (1964, 1975, 1983, 1989,<br />
1996, 2000)<br />
A Declaração <strong>de</strong> Nur<strong>em</strong>berg, a longo prazo, exerceu<br />
gran<strong>de</strong> influência, mas não <strong>de</strong> modo imediato, e o<br />
processo <strong>de</strong> conscientização dos <strong>pesquisa</strong>dores <strong>em</strong> relação<br />
a questões <strong>ética</strong>s foi lento, e levou bastante t<strong>em</strong>po.<br />
Um passo adiante foi a publicação dos “Princípios<br />
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