03.04.2013 Views

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ética<br />

Para Barton e Barton 4 a <strong>ética</strong> está representa<strong>da</strong> por um<br />

conjunto <strong>de</strong> normas que regulamentam o comportamento<br />

<strong>de</strong> um grupo particular <strong>de</strong> pessoas, como, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

advogados, médicos, psicólogos, psicanalistas, etc. Pois é<br />

comum que esses grupos tenham o seu próprio código <strong>de</strong><br />

<strong>ética</strong>, normatizando suas ações específicas.<br />

Nesta interpretação <strong>da</strong> <strong>ética</strong>, ela não se diferencia <strong>em</strong><br />

na<strong>da</strong> <strong>da</strong> moral, com a exceção <strong>de</strong> que a <strong>ética</strong> serviria <strong>de</strong><br />

norma <strong>para</strong> um grupo <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> pessoas, enquanto<br />

que a moral seria mais geral, representando a cultura <strong>de</strong><br />

uma nação, uma religião ou época. Não nos associamos<br />

a esse enfoque.<br />

Nossa compreensão <strong>de</strong> ÉTICA é a seguinte:<br />

Conforme já diss<strong>em</strong>os, a etici<strong>da</strong><strong>de</strong> está na percepção<br />

dos conflitos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> psíquica (<strong>em</strong>oção x razão) e na<br />

condição que po<strong>de</strong>mos adquirir <strong>de</strong> nos posicionarmos <strong>de</strong><br />

forma coerente, <strong>em</strong> face <strong>de</strong>sses conflitos. Consi<strong>de</strong>ramos,<br />

portanto, que a <strong>ética</strong> se fun<strong>da</strong>menta <strong>em</strong> três requisitos:<br />

1) percepção dos conflitos (consciência); 2) autonomia<br />

(condição <strong>de</strong> posicionar-se entre a <strong>em</strong>oção e a razão,<br />

sendo que essa escolha <strong>de</strong> posição é ativa e autônoma);<br />

e 3) coerência.<br />

Assim, fica caracterizado o nosso conceito <strong>de</strong> <strong>ética</strong>,<br />

reservando-se o termo etici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>para</strong> a aptidão <strong>de</strong> exercer<br />

a função <strong>ética</strong>.<br />

Kant estabeleceu como pressuposto <strong>de</strong> sua moral a<br />

condição <strong>de</strong> livre escolha, fun<strong>da</strong>mentando essa escolha na<br />

razão. Mas a razão também é um pressuposto, passível <strong>de</strong><br />

avaliação <strong>de</strong> fora. O que é razoável (ou racional) <strong>para</strong> uns po<strong>de</strong><br />

não ser <strong>para</strong> outros. Enten<strong>de</strong>mos que nossa conceituação<br />

<strong>de</strong> <strong>ética</strong>, que não se atém apenas à racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, é mais<br />

dinâmica e abrangente do que a kantiana.<br />

Admitimos, entretanto, que, mesmo preten<strong>de</strong>ndo<br />

pluralizar ao máximo o conceito <strong>de</strong> <strong>ética</strong>, distinguindoo<br />

<strong>de</strong> moral, não há como estabelecê-lo s<strong>em</strong> amarrá-lo a<br />

alguns valores preestabelecidos.<br />

Fica então claro que o nosso conceito <strong>de</strong> ÉTICA está<br />

vinculado a: 1) percepção dos conflitos; 2) autonomia; e<br />

3) coerência. Torna-se evi<strong>de</strong>nte, por ex<strong>em</strong>plo, que, <strong>para</strong><br />

nós, a postura religiosa não é autônoma, pois ela não se<br />

<strong>em</strong>basa nesses requisitos, sendo na prática equivalente a<br />

um posicionamento moralista.<br />

Entretanto, coerent<strong>em</strong>ente com o enfoque <strong>da</strong>do mais<br />

CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

acima à moral e à religião; mas, <strong>em</strong> função do pluralismo<br />

necessário <strong>para</strong> a aceitação <strong>de</strong> to<strong>da</strong> crença que não seja a<br />

nossa 8 , haver<strong>em</strong>os <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar autônomo também aquele<br />

que aparent<strong>em</strong>ente opta pela obediência a <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s<br />

regras, não lhe negando (a esse indivíduo) a condição <strong>de</strong><br />

etici<strong>da</strong><strong>de</strong> (situação do terceiro ex<strong>em</strong>plo, por nós citado <strong>em</strong><br />

capítulo anterior).<br />

A percepção do conflito psíquico, entretanto, e a coerência<br />

são <strong>para</strong> nós as características fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> <strong>ética</strong>.<br />

Essa tolerância à frustração, que KLEIN 9 recomen<strong>da</strong><br />

<strong>para</strong> a estruturação do ego, estimulando ca<strong>da</strong> pessoa a<br />

procurar os próprios caminhos <strong>para</strong> o seu crescimento,<br />

não contra-indica, logicamente, que, ao tratar-se do agir<br />

humano, não se procure o estabelecimento <strong>de</strong> regras que<br />

estejam, tanto quanto possível, próximas do sentir e do<br />

pensar <strong>da</strong> média <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Com isso, fica claro que, <strong>para</strong> nós, a ÉTICA SOCIAL,<br />

cuja conotação, aí sim, passa a superpor-se à <strong>de</strong> MORAL,<br />

é o resultado <strong>da</strong> interação dos subjetivismos individuais,<br />

buscando um ajuste com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> necessária, que é o<br />

convívio social.<br />

É certo, porém, que, quanto mais evoluí<strong>da</strong> for a<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ela se preocupará menos com a <strong>ética</strong> social,<br />

permitindo que ca<strong>da</strong> indivíduo possa agir <strong>de</strong> acordo com<br />

sua <strong>ética</strong> pessoal.<br />

Se a etici<strong>da</strong><strong>de</strong> é inicialmente uma condição individual,<br />

<strong>em</strong>bora ajustando-se e interagindo com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social,<br />

é evi<strong>de</strong>nte que a ÉTICA PROFISSIONAL, váli<strong>da</strong> <strong>para</strong><br />

categorias <strong>de</strong> pessoas que exerc<strong>em</strong> a mesma profissão,<br />

é tão-somente um resultado <strong>da</strong> integração <strong>de</strong> todos os<br />

fatores que tentamos analisar.<br />

Diz<strong>em</strong>os ain<strong>da</strong> que, <strong>para</strong> que alguém possa elaborar<br />

conceitos éticos referentes a <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> profissão, há o<br />

requisito <strong>de</strong> etici<strong>da</strong><strong>de</strong> anterior, antece<strong>de</strong>ndo, portanto, a<br />

<strong>ética</strong>, a to<strong>da</strong> profissão.<br />

A enorme diferença entre <strong>ética</strong> e moral, <strong>para</strong> nós, é que<br />

<strong>para</strong> que a moral funcione ela <strong>de</strong>ve ser imposta; a <strong>ética</strong>, <strong>para</strong><br />

ser atuante, <strong>de</strong>ve ser apreendi<strong>da</strong> pelo indivíduo, vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu<br />

interior. A moral é imposta, a <strong>ética</strong> é senti<strong>da</strong> e percebi<strong>da</strong>.<br />

Um indivíduo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado ético quando ele possui<br />

uma personali<strong>da</strong><strong>de</strong> b<strong>em</strong> integra<strong>da</strong>, ou seja, quando t<strong>em</strong> uma<br />

maturi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong>ocional que lhe permite li<strong>da</strong>r com as <strong>em</strong>oções<br />

conflitantes, uma força <strong>de</strong> caráter, um equilíbrio <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> interior<br />

e um bom grau <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do mundo.<br />

17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!