03.04.2013 Views

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

manifesta no próximo artigo quando se <strong>de</strong>ixa claro que<br />

o consentimento não é apenas <strong>para</strong> casos <strong>de</strong> indivíduos<br />

isolados, também se aplica a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O art. 125/1988<br />

ve<strong>da</strong> ao médico:<br />

“Promover <strong>pesquisa</strong> médica na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> s<strong>em</strong> o<br />

conhecimento <strong>de</strong>ssa coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e s<strong>em</strong> que o objetivo<br />

seja a proteção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública, respeita<strong>da</strong>s as<br />

características locais”.<br />

Esta prescrição t<strong>em</strong> sua relevância <strong>para</strong> qualquer<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas t<strong>em</strong> implicações específicas <strong>para</strong> <strong>pesquisa</strong>s<br />

envolvendo povos indígenas, como se po<strong>de</strong> verificar<br />

consultando a Resolução nº 304/2000 do Conselho Nacional<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (Brasil, Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 2000).<br />

Nos artigos examinados até este momento, a oposição<br />

principal é aos excessos <strong>de</strong> uma mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> puramente<br />

tecnocientífica. No artigo que segue, o foco <strong>de</strong> atenção é a<br />

mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> comercial-<strong>em</strong>presarial. É ve<strong>da</strong>do, nos termos<br />

do art. 126/1988:<br />

“Obter vantagens pessoais, ter qualquer interesse<br />

comercial ou renunciar à sua in<strong>de</strong>pendência profissional<br />

<strong>em</strong> relação a financiadores <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong> médica <strong>da</strong> qual<br />

participe”.<br />

Se o orgulho do saber po<strong>de</strong> endurecer o coração e<br />

levar o <strong>pesquisa</strong>dor a esquecer que está li<strong>da</strong>ndo com<br />

seres humanos, a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> o dinheiro corromper é<br />

maior ain<strong>da</strong> e o texto citado se mostra consciente disso.<br />

A digni<strong>da</strong><strong>de</strong> do ser humano <strong>pesquisa</strong>do exige que o<br />

<strong>pesquisa</strong>dor não perca sua in<strong>de</strong>pendência não somente<br />

tecnocientífica, mas também <strong>ética</strong>.<br />

A preocupação do art. 30/1984 que <strong>pesquisa</strong>s <strong>em</strong> seres<br />

humanos sejam submeti<strong>da</strong>s a controle social reaparece no<br />

art. 127/1988, que ve<strong>da</strong> ao médico:<br />

“Realizar <strong>pesquisa</strong> médica <strong>em</strong> ser humano s<strong>em</strong> submeter<br />

o protocolo à aprovação e acompanhamento <strong>de</strong> comissão<br />

isenta <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>pendência <strong>em</strong> relação ao <strong>pesquisa</strong>dor”.<br />

Seria muito fácil ver esta proibição como simplesmente<br />

uma exigência burocrática, cuja única finali<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />

complicar a vi<strong>da</strong> do <strong>pesquisa</strong>dor. Tal ponto <strong>de</strong> vista seria,<br />

porém, equivocado. Em primeiro lugar, a elaboração do<br />

protocolo t<strong>em</strong> como objetivo garantir a serie<strong>da</strong><strong>de</strong> científica<br />

do projeto <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong> e, <strong>em</strong> segundo lugar, sua serie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>ética</strong>. Se o projeto não t<strong>em</strong> consistência científica, já é um<br />

perigo <strong>para</strong> os sujeitos <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong> e, conseqüent<strong>em</strong>ente,<br />

é antiético. Uma vez garanti<strong>da</strong> a serie<strong>da</strong><strong>de</strong> científica<br />

140<br />

do projeto por meio <strong>de</strong> um protocolo b<strong>em</strong> elaborado, o<br />

comitê <strong>de</strong> <strong>ética</strong> t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> julgar sua consistência<br />

<strong>ética</strong> e aju<strong>da</strong>r o <strong>pesquisa</strong>dor, na medi<strong>da</strong> do necessário, a<br />

prosseguir com seu estudo tranqüilo na consciência <strong>da</strong> sua<br />

cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> e sua etici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Um artigo que suscita certo <strong>de</strong>bate é o art. 128/1988<br />

que contém a proibição <strong>de</strong>:<br />

“Realizar <strong>pesquisa</strong> médica <strong>em</strong> voluntários, sadios ou<br />

não, que tenham direta ou indiretamente <strong>de</strong>pendência ou<br />

subordinação relativamente ao <strong>pesquisa</strong>dor”.<br />

A intenção do artigo é claro: quer proteger populações<br />

vulneráveis e evitar que sejam constrangidos estu<strong>da</strong>ntes ou<br />

funcionários, que estejam <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência do<br />

<strong>pesquisa</strong>dor, seja como professor, seja como <strong>em</strong>pregador.<br />

S<strong>em</strong> negar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger os vulneráveis, alguns<br />

argumentam que estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> medicina, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

não são tão vulneráveis assim, pelo contrário, por causa<br />

dos seus conhecimentos, eles têm mais condições que os<br />

outros <strong>de</strong> <strong>da</strong>r um consentimento livre e esclarecido. É um<br />

<strong>de</strong>bate que continua.<br />

Voltando <strong>para</strong> a questão <strong>da</strong> <strong>pesquisa</strong> terapêutica, o<br />

princípio <strong>da</strong> beneficência e seu gêmeo a não-maleficência<br />

mais uma vez estabelec<strong>em</strong> sua superiori<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dá-se a<br />

enten<strong>de</strong>r que o paciente po<strong>de</strong> participar <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong>s, <strong>em</strong><br />

certas circunstâncias, mas o art. 129/1988 não admite:<br />

“Executar ou participar <strong>de</strong> <strong>pesquisa</strong> médica <strong>em</strong> que haja<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> usar terapêutica<br />

consagra<strong>da</strong> e, com isso, prejudicar o paciente”.<br />

O b<strong>em</strong> do paciente t<strong>em</strong> precedência sobre os interesses<br />

<strong>da</strong> ciência. Se há risco <strong>de</strong> prejudicar o paciente, não se<br />

po<strong>de</strong> abandonar terapêutica consagra<strong>da</strong>, mesmo se isso<br />

acaba estragando a experiência <strong>em</strong> an<strong>da</strong>mento. O b<strong>em</strong> do<br />

ser humano t<strong>em</strong> precedência sobre os interesses <strong>da</strong> ciência<br />

e a compaixão pelo doente mais que a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<br />

conhecimentos.<br />

Se isso for ver<strong>da</strong><strong>de</strong> no caso do paciente comum, <strong>para</strong> o<br />

Código, no caso do paciente crônico ou terminal, o é mais<br />

ain<strong>da</strong>. O art. 130/1988 não admite:<br />

“Realizar experiências com novos tratamentos clínicos<br />

ou cirúrgicos <strong>em</strong> pacientes com afecção incurável ou<br />

terminal s<strong>em</strong> que haja esperança razoável <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>para</strong> o mesmo, não lhe impondo sofrimentos adicionais”.<br />

O Código não proíbe tratamentos experimentais que<br />

possam beneficiar o doente crônico ou terminal. O que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!