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capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

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CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

do seu <strong>de</strong>senvolvimento: a conquista dos sábios,<br />

<strong>da</strong> inteligência dos homens que produz<strong>em</strong> saber, <strong>da</strong><br />

aquisição do sentimento <strong>da</strong> humil<strong>da</strong><strong>de</strong>; a conquista <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> consciência coletiva, a partir do <strong>de</strong>spertar<br />

e progressiva intensificação do sentido <strong>da</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

humana; a conquista do governo, <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong><br />

governo, por meio <strong>da</strong> exigência <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração <strong>ética</strong><br />

<strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisões políticas; a conquista do po<strong>de</strong>r, numa<br />

visão prospectiva fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> no crescente processo<br />

<strong>de</strong> globalização <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas, por meio<br />

<strong>de</strong> uma expansão s<strong>em</strong> fronteiras uniformizadora dos<br />

comportamentos, <strong>da</strong>s políticas e <strong>da</strong>s leis.<br />

A conquista dos sábios<br />

A <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> conquista dos sábios evoca a percepção,<br />

por parte dos homens <strong>de</strong> ciência, <strong>da</strong> radical insuficiência<br />

do conhecimento científico <strong>para</strong> a realização do b<strong>em</strong>estar<br />

do hom<strong>em</strong>, <strong>para</strong> sua sustentação e promoção.<br />

Paradoxalmente, é o próprio <strong>de</strong>senvolvimento<br />

científico, inédito e vertiginoso, sobretudo a partir <strong>da</strong><br />

Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, que origina sentimentos <strong>de</strong><br />

insatisfação e <strong>de</strong> angústia, não tanto pelos fracassos<br />

verificados mas pelas probl<strong>em</strong>áticas conseqüências<br />

<strong>da</strong>s realizações consegui<strong>da</strong>s. Podíamos evocar aqui<br />

as implicações nefastas, seja <strong>de</strong> uma procura <strong>de</strong><br />

conhecimento, s<strong>em</strong> limitações, <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, pelos médicos nazis (e não só) por meio do<br />

recurso sist<strong>em</strong>ático e <strong>de</strong>sregrado à experimentação<br />

humana; seja ain<strong>da</strong> do próprio conhecimento alcançado,<br />

como no caso <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong> energia atômica por um<br />

grupo <strong>de</strong> físicos internacionais. Os ex<strong>em</strong>plos reportamse,<br />

aliás, a vários domínios científicos. A nós interessa<br />

restringir-nos ao <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, cujo alucinante<br />

<strong>de</strong>senvolvimento que se seguiu à <strong>de</strong>scoberta do DNA<br />

por Crick e Watson <strong>em</strong> 1953 está – como sab<strong>em</strong>os – na<br />

gênese <strong>da</strong> bio<strong>ética</strong>.<br />

Em termos genéricos e algo simplificado, é<br />

a explosão <strong>de</strong> uma biotecnologia atuante sobre<br />

to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e ameaçadora <strong>para</strong> o seu<br />

equilíbrio sustentado que, <strong>em</strong> 1970, motiva Potter,<br />

um especialista <strong>em</strong> cancerologia, à proposta <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> uma nova disciplina, <strong>de</strong> uma “ciência <strong>da</strong><br />

sobrevivência” que <strong>de</strong>signa por bio<strong>ética</strong>. Trata-se <strong>de</strong><br />

articular as capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do conhecimento científico<br />

30<br />

com as idéias filosóficas, com o conhecimento dos<br />

valores humanos que orientam o mundo ou, como<br />

posteriormente outros dirão, <strong>de</strong> subordinar o progresso<br />

biotecnológico à finali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos homens. Para Potter, a<br />

“bio<strong>ética</strong>” <strong>de</strong>signa, pois, uma disciplina que recorre<br />

às ciências biológicas <strong>para</strong> melhorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> do ser humano, no sentido <strong>em</strong> que permite ao<br />

hom<strong>em</strong> participar na evolução biológica, preservando<br />

a harmonia universal – explicitará, já <strong>em</strong> 1971, na sua<br />

obra Bioethics, Bridge to the Future.<br />

É também sabido que, alguns meses mais tar<strong>de</strong>,<br />

ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1971, o obstetra e ginecologista Andre<br />

Hellegers v<strong>em</strong> igualmente introduzir o termo<br />

“bio<strong>ética</strong>” com caráter inédito, na <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> The<br />

Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of<br />

Human Reproduction and Bioethics. Distante <strong>da</strong><br />

acepção vinca<strong>da</strong>mente ecológica <strong>de</strong> Potter, a bio<strong>ética</strong><br />

surge agora no contexto mais restrito <strong>da</strong> biomedicina,<br />

como uma <strong>ética</strong> <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> particularmente<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s ao nível do humano (ciências médicas)<br />

– <strong>em</strong> que, aliás, se t<strong>em</strong> <strong>de</strong>senrolado a sua história.<br />

Paralelamente ao <strong>de</strong>bate <strong>em</strong> torno dos primeiros gran<strong>de</strong>s<br />

t<strong>em</strong>as <strong>da</strong> bio<strong>ética</strong> – a exigência <strong>de</strong> consentimento<br />

informado e seus limites, a seleção <strong>de</strong> pacientes <strong>para</strong><br />

a h<strong>em</strong>odiálise e as inquietações sobre as implicações<br />

<strong>para</strong> o hom<strong>em</strong> <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> transplantação –, pon<strong>de</strong>rase,<br />

no domínio específico <strong>da</strong> reprodução, o aumento<br />

<strong>da</strong> prática <strong>da</strong> ins<strong>em</strong>inação artificial e os primeiros<br />

sucessos <strong>da</strong> fertilização in vitro, interrogando-se os<br />

médicos acerca <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> moral <strong>da</strong> sua ação<br />

técnica. De fato, é ain<strong>da</strong> e s<strong>em</strong>pre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

combinar a investigação científica, a prática médica,<br />

com a reflexão sobre o sentido do agir, que impera.<br />

Não é nossa intenção prosseguir a apresentação<br />

<strong>de</strong> fatos do conhecimento comum. Introduzimo-los<br />

apenas com o objetivo <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar o reconhecimento<br />

dos cientistas <strong>da</strong> absoluta incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>, por si só,<br />

construír<strong>em</strong> o progresso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que, por<br />

sua vez, se traduz na aquisição <strong>de</strong> uma postura <strong>de</strong><br />

humil<strong>da</strong><strong>de</strong>. De fato, tanto Potter como Hellegers são<br />

pioneiros na interpretação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do seu<br />

t<strong>em</strong>po (que <strong>em</strong> parte é ain<strong>da</strong> o nosso) e, sob a mesma<br />

<strong>de</strong>signação <strong>de</strong> “bio<strong>ética</strong>”, no seu sentido plural,<br />

protagonizam afinal uma resposta <strong>de</strong> natureza idêntica:

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