03.04.2013 Views

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

priori, razão pela qual se quisermos evitar prima facie<br />

o relativismo moral ter<strong>em</strong>os que reconstruir alguma<br />

forma <strong>de</strong> “universali<strong>da</strong><strong>de</strong>” a posteriori, isto é, por<br />

consenso, o que implica “iniciar o <strong>de</strong>bate, livre <strong>de</strong><br />

qualquer preconceito e <strong>de</strong> qualquer posição moral a<br />

priori” 7 . Interdisciplinar; porque, no momento <strong>em</strong><br />

que se confrontam os vários pontos <strong>de</strong> vista legítimos<br />

<strong>em</strong> vista <strong>de</strong> um acordo, ca<strong>da</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>ve<br />

reconhecer sua parciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, logo a importância dos<br />

outros pontos <strong>de</strong> vista “compl<strong>em</strong>entares”. De fato, a<br />

experiência mostra que “homens e mulheres, reunidos<br />

ao redor <strong>de</strong> uma mesa, consegu<strong>em</strong> se enten<strong>de</strong>r, apesar<br />

<strong>da</strong>s filosofias ou <strong>da</strong>s crenças religiosas diferentes”. 8 Por<br />

fim, transdisciplinar porque a “universali<strong>da</strong><strong>de</strong>” será<br />

obti<strong>da</strong> graças ao esforço <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> m<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> seu<br />

campo específico <strong>em</strong> busca do acordo.<br />

Esta é, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, uma situação i<strong>de</strong>al que n<strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>pre se realiza na prática, visto que não existe nenhuma<br />

garantia a priori que se chegue a um acordo. Entretanto,<br />

como afirma Atlan, o compromisso é possível a<br />

posteriori porque é muito mais fácil o acordo sobre<br />

qual <strong>de</strong>veria ser a conduta mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> do que sobre<br />

crenças e princípios gerais, e isso porque, no processo<br />

<strong>de</strong> argumentação existiria uma “sub<strong>de</strong>terminação<br />

<strong>da</strong>s teorias pelos fatos ou uma sub<strong>de</strong>terminação dos<br />

mo<strong>de</strong>los pelas observações”, razão pela qual “quanto<br />

mais uma questão é específica tanto mais se reduz o<br />

número <strong>de</strong> respostas possíveis”. 9<br />

CONCLUSÃO<br />

Historicamente, os Comitês <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa<br />

nasc<strong>em</strong> como resposta <strong>da</strong> cultura cont<strong>em</strong>porânea às<br />

implicações morais <strong>da</strong>s tecnociências biomédicas,<br />

<strong>de</strong>pois que foi <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>do que é possível, “<strong>em</strong><br />

1 KANT, I. s/d. Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> metafísica dos costumes. Rio <strong>de</strong> janeiro: Ediouro, p. 79.<br />

2 ATLAN. H. 1997. Les niveaux <strong>de</strong> l’éthique. In: Une même éthique pour tous?<br />

(org. J-P. Changeux).<br />

Pais: Ed Odile Jacob, pp 89-106, p.l02.<br />

3 CHANGEUX, J.P. 1997 .Le débat éthique <strong>da</strong>ns une société pluralista. In: ID. Op.<br />

Cit., pp. 9-40, p. 13.<br />

4 ATLAN. H. 1997. Les niveaux <strong>de</strong> l’éthique. In: Une même éthique pour tous?<br />

(org. J-P. Changeux).<br />

Pais: Ed Odile Jacob, pp 89-106, p.91.<br />

In: Carneiro, F. (Org.). A Morali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Atos Científicos – questões<br />

<strong>em</strong>ergentes dos Comitês <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa, Rio <strong>de</strong> Janeiro, FIO-<br />

CRUZ, 1999.<br />

CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

nome” <strong>da</strong> Pesquisa e do Progresso do Conhecimento,<br />

cometer crimes hediondos contra a Humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

contra os mais el<strong>em</strong>entares direitos do ci<strong>da</strong>dão que<br />

regulam uma convivência civiliza<strong>da</strong> nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

cont<strong>em</strong>porâneas.<br />

Atualmente, a <strong>pesquisa</strong> biotecnocientífica que envolve<br />

seres humanos po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>da</strong> por dois aspectos<br />

principais: a) pela evolução acelera<strong>da</strong> (ou exponência)<br />

<strong>de</strong> seu conhecimento e pela importância crescente <strong>da</strong>s<br />

tecnologias que <strong>de</strong>le surg<strong>em</strong> na <strong>de</strong>terminação do b<strong>em</strong>estar<br />

humano; b) pela incr<strong>em</strong>entação quantitativa e<br />

qualitativa <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e dos <strong>de</strong>sejos dos ci<strong>da</strong>dãos<br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar, o que solicita a <strong>pesquisa</strong> a<br />

procurar s<strong>em</strong>pre novos patamares <strong>de</strong> intervenção.<br />

A combinação <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos t<strong>em</strong> transformado<br />

profun<strong>da</strong>mente as relações entre o mundo dos<br />

<strong>pesquisa</strong>dores e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, isto é, a percepção<br />

pública dos fatos <strong>da</strong> biotecnociência, oscilando entre o<br />

fascínio, muitas vezes incondicional, perante as novas<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar, e o espanto, muitas vezes<br />

<strong>de</strong>scontrolado, frente aos possíveis abusos <strong>em</strong> termos<br />

<strong>de</strong> direitos humanos.<br />

O futuro <strong>de</strong>ssas relações é dificilmente previsível,<br />

mas po<strong>de</strong>-se supor que esta oscilação entre fascínio<br />

e espanto, típico <strong>da</strong>quilo que a est<strong>ética</strong> chama <strong>de</strong><br />

percepção do sublime, constitui um primeiro indício<br />

<strong>de</strong> que, mesmo que os <strong>pesquisa</strong>dores continu<strong>em</strong><br />

trabalhando <strong>em</strong> algum ersatz <strong>da</strong> Torre <strong>de</strong> Marfim,<br />

eles <strong>de</strong>verão ca<strong>da</strong> vez mais prestar conta à socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> suas <strong>pesquisa</strong>s. Isso gera inevitavelmente conflitos<br />

<strong>de</strong> interesses e <strong>de</strong> valores entre os vários atores. Mas<br />

na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong> que tais conflitos possam ser resolvidos<br />

pragmaticamente pela <strong>ética</strong> e pelo direito.<br />

5 FOSTER, C. 1998. Research ethics commitie. In: Encyclopedia of Applied<br />

Ethics (Ruth Chadwick org.),<br />

3: 845-852, p.847.<br />

6 l<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 84.9.<br />

7 CHANGEUX, J.P. & RICOEUR, P. 1998. Ce qui nous fait penser. La nature et<br />

la règle. Paris, Ed.<br />

Odile Jacob, p. 228.<br />

8 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 228.<br />

9 ATLAN, H. 1997, Op. Cit., pp. 104-105.<br />

59

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!