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capacitação para comitês de ética em pesquisa - BVS Ministério da ...

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CAPACITAÇÃO PARA COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA<br />

rapi<strong>da</strong>mente fiz<strong>em</strong>os referência: o <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong><br />

fóruns pluridisciplinares <strong>de</strong> reflexão e <strong>de</strong>bate ca<strong>da</strong> vez<br />

mais alargados e abrangentes.<br />

Essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos nossos dias confirma a partilha<br />

ca<strong>da</strong> vez mais ampla <strong>de</strong> preocupações comuns às<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s tecnologicamente <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e que se<br />

reportam às conseqüências do recurso generalizado<br />

<strong>da</strong>s biotecnologias <strong>para</strong> a sobrevivência do hom<strong>em</strong> e<br />

<strong>para</strong> a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> moral. Por outro<br />

lado, exprime também o forte <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> alcançar<br />

um consenso, quer na fun<strong>da</strong>mentação teórica <strong>da</strong> ação,<br />

quer na prática efetiva, o que <strong>de</strong>verá reverter a favor<br />

<strong>da</strong> credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s instituições e respectivos países<br />

e, principalmente, <strong>de</strong> vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> própria bio<strong>ética</strong>,<br />

enquanto esta <strong>de</strong>fine o comportamento que o hom<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>ve ter <strong>em</strong> relação à vi<strong>da</strong>, reconheci<strong>da</strong> como valor.<br />

Suprimir-se-iam, <strong>de</strong>sse modo, práticas que reputamos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>srespeitadoras e abusivas <strong>da</strong>s regras <strong>de</strong> uma vi<strong>da</strong><br />

social partilha<strong>da</strong>, entre as quais referimos, a título<br />

meramente ex<strong>em</strong>plificativo, a do <strong>de</strong>signado “turismo<br />

bioético”, freqüent<strong>em</strong>ente ditado por interesses<br />

egoístas e suportado por interesses economicistas, não<br />

dignificando nenhum dos intervenientes.<br />

Verifica-se, pois, uma progressão natural no<br />

sentido <strong>de</strong> uma “harmonização internacional”, na<br />

uniformização ou apenas aproximação <strong>da</strong>s normas<br />

ético-jurídicas vigentes <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> país, ou ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong><br />

uma “bio<strong>ética</strong> global”, na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> um “ethos<br />

mundial” como espaço excelente <strong>para</strong> construção <strong>de</strong><br />

uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> universal, <strong>de</strong> uma nova humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

É Hans Küng que, (1996), <strong>em</strong> sua obra Projekt<br />

Weltethos, apresenta o estabelecimento <strong>de</strong> um “ethos<br />

mundial” como seu objetivo programático, na medi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> que – segundo afirma – este constitui hoje a<br />

única via que garante a sobrevivência do hom<strong>em</strong>.<br />

O <strong>de</strong>linear <strong>de</strong> uma plataforma comum <strong>de</strong> diálogo e<br />

<strong>de</strong> entendimento entre todos os povos, por meio do<br />

<strong>de</strong>staque dos pontos <strong>de</strong> convergência, s<strong>em</strong> anular as<br />

diferenças, concorrerá <strong>para</strong> um ambiente (planetário)<br />

<strong>de</strong> paz, tolerância e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> propício <strong>para</strong><br />

a subsistência do hom<strong>em</strong> e seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A “recensão crítica” <strong>de</strong>ssa obra por Potter (1994),<br />

constituiu oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>para</strong> que este relançasse sua<br />

conceptualização alarga<strong>da</strong> <strong>de</strong> bio<strong>ética</strong>, agora sob a<br />

40<br />

<strong>de</strong>signação <strong>de</strong> “bio<strong>ética</strong> global”. Simultaneamente,<br />

insiste na idéia <strong>de</strong> uma bio<strong>ética</strong> comum construí<strong>da</strong> a<br />

partir do muito que todos os homens, por natureza,<br />

partilham. A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> edificação <strong>de</strong> uma<br />

plataforma <strong>de</strong> valores comuns constituirá condição<br />

<strong>para</strong> um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro diálogo e garantia <strong>de</strong> uma sóli<strong>da</strong><br />

convergência, na comunhão <strong>de</strong> uma mesma linguag<strong>em</strong><br />

e dos mesmos objetivos.<br />

Porém, e à s<strong>em</strong>elhança do que fiz<strong>em</strong>os<br />

relativamente às anteriores conquistas, também aqui<br />

importa apontar o que se nos afigura como perigos<br />

ou apenas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ameaçam subtrair o valor<br />

dos triunfos alcançados. Apresentar<strong>em</strong>os três <strong>de</strong><br />

natureza distinta. Primeiramente, a <strong>de</strong> a tradição que<br />

sustenta essa <strong>ética</strong> ou bio<strong>ética</strong> que se quer universal<br />

ser <strong>de</strong> inspiração cristã e <strong>de</strong> exigência racional –<br />

características <strong>da</strong> moral oci<strong>de</strong>ntal. Sua universalização<br />

enfrentará necessariamente os mesmos probl<strong>em</strong>as que<br />

a <strong>da</strong> Declaração dos Direitos do Hom<strong>em</strong>, que continua<br />

a gerar <strong>de</strong>sconfianças <strong>em</strong> povos com uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

muito diversa <strong>da</strong> dos do mundo oci<strong>de</strong>ntal e a cuja<br />

aceitação formal não correspon<strong>de</strong> o cumprimento<br />

na prática. Dissocia<strong>da</strong> dos valores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> que surge e se <strong>de</strong>senvolve, a bio<strong>ética</strong> carecerá <strong>de</strong><br />

conteúdo ou significação, prevalecendo apenas como<br />

um enunciado formal <strong>de</strong>sligado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Uma segun<strong>da</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> é a <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong><br />

“bio<strong>ética</strong> global” que só po<strong>de</strong>rá fazer apelo à natureza<br />

racional <strong>de</strong> todos os homens, à condição biológica <strong>de</strong><br />

todos os seres ou ao fator necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, cujo valor moral<br />

é duvidoso. Quanto à aspiração <strong>de</strong> uma fun<strong>da</strong>mentação<br />

universal (monológica), ela t<strong>em</strong> vindo sist<strong>em</strong>aticamente<br />

a ser posta <strong>em</strong> causa pelo pensamento filosófico, não<br />

sendo hoje reconheci<strong>da</strong> como credível. Tratar-se-á,<br />

então, preferencialmente, <strong>de</strong> uma <strong>ética</strong> consensual e <strong>da</strong><br />

convicção (dialógica) que, como tal, tão pouco aspira à<br />

universali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Por fim, refira-se o perigo <strong>da</strong> bio<strong>ética</strong> se vier a assumir<br />

efetivamente como po<strong>de</strong>r, no sentido restrito do termo,<br />

como autori<strong>da</strong><strong>de</strong> dominadora, e não no sentido amplo<br />

que aqui t<strong>em</strong>os querido evocar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, como força<br />

<strong>de</strong> convergência e <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança. O po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> bio<strong>ética</strong> v<strong>em</strong>lhe<br />

não <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> comando que se imponha <strong>de</strong><br />

fora <strong>para</strong> <strong>de</strong>ntro, mas <strong>de</strong> um postura <strong>de</strong> orientação <strong>em</strong>

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