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o economista

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Apenas a imediata mudança na cor das águas do rio do vale<br />

do Soroca lhe chamara a atenção. De preto, as águas<br />

passaram para vermelho, aumentando o socialismo, a secção<br />

e a velocidade.<br />

Das Fitas nem dava pelo passar da brisa. O seu<br />

corpo tinha de estar em constante e incessante movimento.<br />

Não sabia porque motivo as fábricas tinham deixado de<br />

produzir fitas para as cadeiras dando preferência ao<br />

fabrico de mangueiras, que eram mais caras e ainda por<br />

cima tinham de ser recortadas de ponta a ponta e com todo<br />

o cuidado do mundo.<br />

Nessa altura em que quase não se verificava a<br />

produção de sofás, quatro cadeiras de fitas à volta de<br />

uma mesinha de madeira, tudo feito à duas pancadas, eram<br />

o cartão de visitas para a maior parte dos lares de<br />

Luanda, e não só.<br />

Camiões que viajavam para as províncias, sobretudo<br />

para as do interior, iam ao Das Fitas fazer grandes<br />

carregamentos de cadeiras, há muito encomendadas. A carga<br />

acabava sempre por ser despachada nos mercados paralelos,<br />

para onde até dirigentes e responsáveis do partido e do<br />

estado, iam comprar para colocar nos seus gabinetes,<br />

essas cadeiras que dificilmente partiam, e tal como a<br />

fita com que Das Fitas as encobria, vinha igualmente do<br />

petróleo o dinheiro da sua aquisição.<br />

Por essa e por outras, é que ele tinha de<br />

locomover braços, pernas, olhos, filhos, mulheres, tudo<br />

muito depressa e inteligentemente planeado, antes que<br />

aparecesse por lá um zongolador qualquer de olhos<br />

rasgados sabia-se lá em que Ásia, a se embebedar nele da<br />

―imperialista‖ ideia de inventar uma máquina de cortar<br />

mangueiras, de enfitar cadeiras, de lhe cortar os braços,<br />

a boca e a comida para as onze bocas, incluída a sua, que<br />

tinha todos os santos dias da semana, do mês e do ano, de<br />

alimentar, quando não aparecesse pela cubata adentro um<br />

visitante qualquer não solicitado, que «esses do mato<br />

visitam muito os outros sem se importarem pelas<br />

consequências logísticas e financeiras que tais<br />

veleidades acarretam»...<br />

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