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o economista

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Mesmo sendo época de cacimbo, com o frio a apertar<br />

por dentro e mais ainda lá fora, mana Maria tinha de<br />

arrancar muito cedo o seu corpo e o do bebé, das<br />

quenturas da cama, andar à pé até ao mercado do Tunga<br />

Ngó, aonde apanhava em conjunto com outras senhoras<br />

peixeiras, um candongueiro que as levava até à praia da<br />

Corimba, à Ilha de Luanda, ou até ao porto pesqueiro,<br />

conforme fosse o sítio onde estivesse a sair mais peixe.<br />

Adquirido o peixe, muitas eram as senhoras que<br />

vinham já vendendo a partir mesmo da Baixa, vindo à pé<br />

até ao subúrbio, mas mana Maria não possuindo traquejo<br />

para atravessar as muitas e grandes estradas e avenidas<br />

que se lhe atravessavam, preferia vir de carro até ao<br />

musseque e daqui começar a zunga, indo de bairro em<br />

bairro até acabar a banheira de peixe.<br />

Tal como as zungueiras vendedoras de peixe,<br />

muitos, muitíssimos eram os que zungavam já desde<br />

manhãzinha, os mais diversos produtos como sabão, omo,<br />

lixívia e palha-de-aço. Eram pessoas das mais diversas<br />

idades, mas maioritariamente jovens, a quem as mais<br />

básicas necessidades humanas como alimentação, vestuário<br />

e saúde, falaram mais alto que as promessas alardeadas e<br />

até propagadas em camisolas e cartazes e discursos, de se<br />

lhes dar escola, emprego, ao menos algo que lhes<br />

dignificasse como donos de tantos poços de petróleo...<br />

Durante as suas vendas, muitas eram as vezes em<br />

que mana Maria era chamada a vender uma ou duas simples<br />

sardinhas para uma casa com mais de dez, doze bocas.<br />

Perguntando-se a si mesma se tal quantidade bastasse,<br />

mana Maria ficava depois a saber que não compravam mais<br />

por não possuírem possibilidades para mais. Ás vezes, a<br />

essas famílias ela dava um pouco mais de esquebras, mas<br />

saia estupefacta com o que ia por detrás daquilo que<br />

aparentemente lhe dava a entender que fossem famílias sem<br />

problemas, lares sem dificuldades. ―Também fazem kilapi<br />

de lambula?!‖ —— interrogava-se ela. No fundo, era a vida<br />

que estava mal para todos...<br />

Outras vezes, depois de tanto zungar, ela fazia<br />

pequenas paragens sob a sombra duma árvore qualquer que<br />

lhe aparecesse no percurso, para descansar um bocado<br />

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