o economista
o economista
o economista
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O sábado continuava a passar normalmente, sem grandes<br />
sobressaltos. Entretanto, lá para o meio da tarde, um<br />
grupo de pessoas, constituído pela vizinha do quimbanda,<br />
o marido desta, e alguns familiares de ambas as partes,<br />
irrompeu pela casa do quimbandeiro, no mesmo instante em<br />
que uma viatura acabava de estacionar junto à sua porta.<br />
Todos quantos se encontravam no quintal, ficaram<br />
estupefactos, ao verem aquele pelotão vir intrepidamente<br />
engravidar, sem apelo nem aviso, o quartito do<br />
quimbandeiro. E o barulho, tomou conta do lugar…<br />
---- Eh! Eh! Vucê também já é quimbanda?! Quimbanda<br />
da ondê??! ---- perguntava a mãe da vizinha ---- Vucê,<br />
não andava na Mulemba?! A ajudar o velho Kaxika?! Vucê,<br />
quer trazer azar na minha filha??! Vucê…<br />
O senhor que havia estacionado o carro lá fora,<br />
seguindo a caravana encabeçada pela velha que naquele<br />
momento estava falando, viu atrás de si todos quantos<br />
estavam no quintal, duplamente estupefactos com o<br />
estupefaciente que se fumava no quartito do quimbandeiro.<br />
Queria dizer algo, desabafar, disparatar, despregar todas<br />
as paredes alheias da casa do quimbandeiro, derramar todo<br />
o seu kikoto, todo o seu rancor orgástico nocturno, na<br />
boca de Zito.<br />
Mas, alguma coisa na expressão do quimbanda refreava<br />
o seu impulso…<br />
O quimbanda, reconhecendo de imediato a pessoa da mãe<br />
da vizinha, pela primeira vez em toda a sua existência,<br />
baixou a cara, de vergonha.<br />
Nos seus trinta anos, passara já por muita<br />
experiência, afrontara brancos e padres, negros e diabos,<br />
patroas adúlteras imaculadas, e patrões cornos e<br />
corneteiros, hetero e homossexuais, bandidos do sandokan,<br />
e pequenos e grandes burgueses, e nunca!… nunca baixara a<br />
sua cara, de medo ou de vergonha. Nunca!<br />
E ali estava ele, envergonhado em todas as moléculas de<br />
todas as células do seu corpo, qual um pobre diabo<br />
107