o economista
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Lhe havia dito certa vez o Coelho, o Mestre Coelho,<br />
no auge de uma puxada de liamba, que enterrara a mãe, no<br />
quintal da loja. Que não temia, nem a fantasmas, nem a<br />
infernos. Que a única coisa digna de ser temida neste<br />
mundo, era o medo. Zito temia o medo. Tinha dele até um<br />
reflexo condicionado muito apurado, a fim de não o fugir<br />
e puder enfrentá-lo de peito aberto. Porém, tinha por<br />
natureza não pôr em demasiado risco a sua vida.<br />
À tarde, feita a interrupção dos tratamentos para<br />
almoçarem, Zito, de chofre, declarou ao velho que não<br />
almoçava, e que iria embora dali no dia seguinte.<br />
Mostrando despeito na voz, nos gestos, e no olhar, Kaxika<br />
ainda queria saber a razão daquela tão abrupta decisão.<br />
Zito nada argumentou. O rosto do velho, mais que um<br />
facto, era um ícone. Não precisou de lê-lo.<br />
Saiu e apenas regressou à noite. De manhã muito cedo,<br />
pegou no garrafão, em todos os demais haveres, e sem<br />
precisar das pernas, mudou-se para o Bairro dos Ossos.<br />
O novo bairro não era muito diferente do musseque da<br />
Mulemba wa xa Ngola. As casas e os ambientes eram<br />
idênticos.<br />
Os quase doze meses passados junto do velho, poucos<br />
ingressos deram ao seu garrafão, mas em contrapartida,<br />
trouxera de lá alguns conhecimentos e muita experiência.<br />
E após uma semana de tanto pensar, ponderar, e alambicar,<br />
encontrou finalmente, o seu ganha-pão.<br />
Quimbandeiro… Então? Não era o mesmo Zito, quem na<br />
Mulemba ajudara o velho Kaxika?…<br />
Não havia tempo a perder. Comprou todas as bugigangas<br />
necessárias ao seu trabalho: espelhos, balaios, miçangas,<br />
panelas de barro, ocusso, pemba. Arranjou farrapos<br />
vermelhos, brancos, pretos, e cordas e paus e peles e<br />
unhas e penas. Comprou pregos, parafusos, porcas e<br />
anilhas e o resto à parte. Ossos, não precisava comprar.<br />
Era o que havia de mais, por aquelas bandas. E teria<br />
graça alguma, chamarem de Bairro dos Ossos, a um bairro<br />
que os não tivesse?…<br />
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