o economista

duas, antes de lhe abrirem a porta, com moléculas de um
agradável cheiro logo lhe agredindo o olfacto. E de
cheiros assim, quem não gostava?
Reflectiu no tempo que passara a pedir uma, duas,
muitas licenças, enquanto do lado de dentro saía um
barulho de tampas e panelas e… zás! Não estando nem
panela nem nada sobre o fogão, concluiu que ―essa
malanginha de merda deve mazé esconder as panelas‖.
Não se fez cadavérico ante aquilo, mas arcanjo ante o
companheiro doente.
----Pois é, Juca. Todos miza lá estão tristes…
----Ai-é?!… Isso passa já. Amanhã vou já trabalhar…
----Oxalá, Juca, oxalá. Pensa só no teu pão de cada
dia, mô camba…
Ená! Dir-se-ia estar mais doente que o colega! O
coração torrenciava-lhe de lágrimas, e a voz só por pouco
não desfalecia!
Apesar de tudo, a mulher do colega não parava de
flagelá-lo com olhadas cépticas e pejorativas, como se
ele não se sentisse realmente consternado pela doença do
marido!
Porém, fazendo vista grossa à tudo aquilo, deliberou
queimar a cadeira de fitas em que se sentava, derretendose
a conversar com o convalescente colega. Mas este,
aliando-se ao carácter e estado de espírito da mulher,
acabou por escabecear, tal como ela. E Zito todo
distraído ali a monologar…
Quando apercebeu-se da situação, não mostrou nem
sequer o mínimo indício de despeito. Antes pelo
contrário, pôs-se igualmente a escabecear. Pareciam três
grandes actores a viverem uma boa farsa.
Mas Juca, não tardou a interromper o desenrolar da
peça. Despertou, e muito delicadamente tocou de leve no
braço do colega.
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