o economista

Sentados no mesmo banco, num dos cantos do quintal
estavam o kota Café, o Capriquito, o Lúmpen, e o
Estudioso.
—— O meio não quer dizer nada, kota Café. —— dizia
o Estudioso —— A esta hora estamos a chupar aqui o nosso
kapuka, na cidade o filho do ministro está a injectar
droga no sangue. Por quê que nós e eles fazemos isto? O
que é que existe de comum, o que é que há subjacente ao
impulso que nos leva, eles e nós, a nos agarrarmos ao
kapuka, à cocaína, ao kimbombo, à liamba, à tudo o que é
droga? O que é?...
Ninguém ousou responder, e o Estudioso prosseguiu:
—— Tenho mulher, três filhos e uma mãe já velha
para sustentar. Tinha perto de mil e quinhentos livros na
minha biblioteca, que às vezes quando a fome obrigava,
tinha de tirar uns tantos para vender e comprar comida,
vejam!, para comprar comida! Isso é vida? Isto é viver?
Os filhos dos endinheirados drogam-se para esquecerem-se
de quê? Para terem coragem de enfrentarem o quê? O
inimigo? A vida? Qual inimigo? Qual vida, se tudo lhes
corre às mil maravilhas?
E ninguém se atrevia a interromper. O Estudioso,
com os kalundús em crescendo, continuou:
—— Meus irmãos, será que as consequências da
guerra atingem esses filhos das putas da superestrutura
do mesmo modo como atingem a nós?
—— Nunca mais! —— respondeu o kota Café.—— Até o
lixo, o lixo que eles produzem é mais sofisticado que o
nosso lixo aqui do musseque. Num contentor de lixo da
cidade, você pode encontrar maçã, chouriço, computador,
telefone, televisor, gravador, fralda descartável, roupa,
dinheiro. Aqui na buala, quem? Onde é que vais apanhar
isso? Aqui só apanhas lata podre, cocó de galinha e
farrapos!
—— É verdade!—— apoiava o Capriquito, enquanto os
demais riam.—— Um dia eu estava mais os meus avilos na
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