o economista

O bairro da Petrangol, era pouco populoso, mas nessa
tarde ninguém quis perder aquele teatro de rua. As duas
mulheres em forte contenda, pareciam disputar os aplausos
do público. Senhoras que acarretavam água, pousavam os
tambores ao chão, para de mãos à cintura, assistirem a
peça.
Aqui e além, uma panela ao fogão, um bebé a chorar,
eram abandonados, para atender-se ao chamado dos assobios
e aplausos vindos de fora.
E as duas rivais continuavam a lutar, cada uma a
reclamar a primazia na assistência, apontando-se os dedos
à cara uma da outra, e a levantarem as suas próprias
saias, para os assobios dos moços, ávidos em comerem ao
menos com os olhos, as suas coxas nuas.
Para um bairro, sem uma única sala de cinema ou de
teatro, onde raramente aparecia o cinema volante, e onde
as pessoas diziam ―vou em Luanda‖, para virem à cidade,
do ponto de vista sociológico, era justo, a presença
daquelas pessoas ali, e justificável a razão de tantas
panelas queimadas, bebés caídos das camas, jantares em
atraso; maridos batendo nas mulheres, arranjando outras
companheiras, mais obedientes, mais submissas,
insusceptíveis de atacarem as suas rivais, e sem aviso
nem recado, provocarem aquela aglomeração de gente, com
poucos escapes para os seus stresses.
Quando o marido da vizinha do quimbanda tomou
conhecimento do ocorrido, ficou extremamente chateado,
deslocando-se logo para o Bairro dos Ossos, a fim de
partir os ossos da primeira mulher, e projectá-la da casa
para fora, com todas as suas imbambas, panelas, trouxas,
e pentes e penicos…
A mulher foi para a casa da mãe, na Mulemba wa xa
Ngola, acompanhada dos seus dois filhos, tendo um dia
depois reunido a família, expondo-a tudo quanto se
passava em sua casa.
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