o economista

cuja raça não sabia, estavam ali. Senhoras e moças com
caras de santas e de prostitutas, senhores e moços com
caras de cornos e de adúlteros, estavam todos ali. Um
perfume vindo não sabia de que axila, penetrava docemente
todos os orifícios do seu corpo cansado e inerte, no
umbral da sua porta.
E ficou durante algum tempo a olhar parvamente, as
pessoas que estupidamente o olhavam. Mas o que estava
vendo, não eram aquelas pessoas…
Após se ter preparado, foi para junto do velho. Logo,
pôs as mãos no que havia por se fazer, mas via-se que o
seu pensamento não estava naquilo. O humor não era o
habitual, o que não tardou a despertar a atenção das
pessoas que não estavam ali pela primeira vez, e mormente
a do velho.
---- Não dormiste bem, mano Zito?… ---- perguntou em
quimbundo o velho.
---- Dormi---- respondeu Zito, secamente.
O velho, cabisbaixo, engoliu em seco a resposta e não
disse mais nada. Entendeu tudo. Estava derrotado. Zito
era mais forte do que calculara…
Até ao meio desse dia, continuaram a trabalhar
normalmente, mas cada um aparentemente indiferente ao
estado de espírito do outro. Fora das três dimensões, é
que discutiam, se flagelavam, se xingavam…
Zito jamais saberia o que se passara na noite
anterior, junto ao cemitério, se não fosse
‗kanzuela‘(pessoa que fala no momento em que vem ao
mundo). O seu espírito era bastante forte, e em sonhos
esclarecia-lhe todos quantos pretendessem roubar-lhe a
vida.
E nessa noite sonhara deveras imenso. Conhecia muito
bem a gramática dos sonhos. A sua sintaxe e a sua
morfologia. Não havia miragens: Kaxika queria a sua vida…
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