o economista

demais, por onde já tivesse deixado idênticas
complicações.
No Catambor, arrumou devidamente as suas imbambas sob
um silêncio sepulcral tal, que ninguém deu-se ao azar de
testemunhar.
Na madrugada da manhã seguinte, já de combina com uma
carrinha, mudou-se para o bairro da Mabor, onde semanas
antes havia já feito contactos, levando consigo as
escassas e antiquadas mobílias de que se prezava
proprietário, isto é: o seu catre de molas aguadas, o
papelão que fazia a vez de colchão, a raspadeira, o pau
de dentes, o caducado armário pertencente à ―bruxa da
dona da casa‖, e trazia como amortizador das muitas
rendas que duas vezes lhe havia pago… a velha banheira de
esmalte, o bacio de esmalte, a toalha, a velha toalha de
rosto, mais que ruçada de tanto lhe limpar os gostos e
desgostos da vida; os sapatos à perce, as sapatilhas, as
calças, as camisolas, coisas todas meio-suas, meioalheias,
mas totalmente suas na elegância da rua.
Mudou com tudo isso e mais algo que constituía o
zénite da sua personalidade: um garrafão, banco
subterrâneo das suas economias…
Catambor e Mabor, rimavam. Mas, talvez nem soubesse
que rimassem, nem que houvera metempsicose entre os dois
bairros…
No início era tudo muito bonito. Passeou o bairro
inteiro com o pente fino das suas pernas, fazendo um
estudo minucioso do mesmo, até no mais insignificante dos
pormenores. Após tê-lo dissecado, concluiu que o bairro
era agradável para se residir. Era calmo e com gente
muito simpática.
Na nova casa, Zito encontrou alguns livros que soube
depois terem pertencido ao anterior ocupante. Sempre que
voltasse das suas procuras de emprego, pegava no mais
volumoso dos livros e vinha postar-se no umbral da porta
da rua, enterrando nele os olhos.
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