o economista

Já na área do Sambizanga, o funil de aproximação
ao mercado do Roque era tão fechado que o motorista
preferiu, tal como muitos outros, embrenhar-se pelas
ruelas e becos do bairro. Aqui também, crianças e jovens,
moradores, colocavam barricadas de pedras, tambores, e
quem quisesse passar com a sua viatura, tinha de pagar
portagem.
Dentro do táxi alguns passageiros, já aborrecidos,
murmuravam, tendo um deles explodido:
—— Tirem lá essa merda dos tamborões do caminho! —
— gritou ele da janela, para os jovens.
—— Kota, —— dizia o motorista —— esses miúdos
daqui são mbora frustrados, deixa só eu falar com eles...
O motorista fez um sinal chamando os que se
encontravam de pé junto à barricada. Dois deles,
corporalmente bem constituídos e com franzidos nas
testas, aproximaram-se da janela do motorista.
—— É pá, agora ainda não tenho nada, mas quando eu
voltar vos deixo uma fesada...
—— Quando vortar, num dá kota, nós também estamo
aqui bem fobado, ainda num pancamos nada... —— disse um
deles.
O motorista tirou do cinzeiro uma nota de cinco
mil novos kwanzas e pô-la no bolso da camisa do rapaz.
Este e o outro, já sorridentes, foram afastar os
tambores, deixando a viatura passar. Um arzinho de ânimo
foi respirado pelos ocupantes do táxi.
—— Este é um país da porcaria! —— exclamou uma
senhora com ares de ter queimado muita pestana à estudar.
—— Miúdos que deveriam a esta hora estar sentados na
cadeira da escola, ou nas bibliotecas a pesquisar, que
deveriam estar em casa a ler um livro, estão aqui a
pedintarem uns míseros dinheiros, para matarem a fome.
Que país é este?
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