o economista
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Rangel, 20.06.84<br />
R<br />
O ECONOMISTA<br />
asgava o astro-rei, nos seus primeiros<br />
aios, as frestas da casa de madeira, onde<br />
no final de cada dia ia repousar os seus músculos, suas<br />
graças e desgraças.<br />
Tal como tantos outros, havia ocupado uma bela<br />
vivenda nas confusões do 25 de Abril, onde teria<br />
repousado, não fosse as suas acções estarem mormente<br />
submetidas à satisfação da sua ambição maior.<br />
Vendera tanto a vivenda quanto tudo o que lá havia: a<br />
mobília completa e alguma roupa, deixados pelos donos, e<br />
tudo isso sem piedade a truques de amortizações ou outros<br />
estorvos.<br />
Lá fora, os galos não paravam de cantar. Feito o<br />
asseio matinal, aprontou-se muito rapidamente e já cá na<br />
rua, levava mais uma vez e em largos passos, aquela sua<br />
bem vincada personalidade, antítese dos dois pares de<br />
parede da casa alugada no Catambor.<br />
Trabalhava ali na Auto-Reparadora Bom-Escape,<br />
radicalmente à esquerda do caminho que seguia, afinal à<br />
busca de um colega, companhia de todos os dias.<br />
O percurso que o levava à casa do colega, fazia-o<br />
sempre com as mais largas passadas, já o mesmo não<br />
acontecendo quando de lá saía. E, não fosse o muito à<br />
esquerda da sua casa, e a necessidade inevitável de lá<br />
sempre cedinho passar, nada mais faria levantar<br />
suspeitas, quiçá até dúvidas, sobre as suas boas<br />
intenções.<br />
Bateu a porta no instante sempre I de encontrar o<br />
colega ainda a lavar-se, e mais não esperou, para lhe<br />
dizer, zangado no rosto e na voz, mas hiperalegre no imo:<br />
---- Então, ainda não estás pronto, homem?<br />
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