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o economista

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O ―Mestre Coelho‖, como ele lhe tratava, tinha vindo<br />

desterrado de Portugal ainda muito jovem, e aqui passara<br />

por muitas e profundas experiências, muitas e imensas<br />

dores, antes de estabelecer-se como comerciante e passar<br />

os derradeiros dias da sua vida numa onda mais ou menos<br />

cor-de-rosa.<br />

Com Zito, não tinha receios nenhuns de se abrir.<br />

Chamava-o de ―meu filho‖, e por incrível que pareça, até<br />

juntos bebiam vinho e fumavam liamba. Era um biaco<br />

cacimbado, que dizia ser perito em ―espertezas de negro‖,<br />

mas na verdade, em espertezas de branco é que era mil<br />

vezes Nobel.<br />

Contara a Zito como havia acumulado e economizado,<br />

para puder chegar até onde havia chegado, e não se<br />

cansava de lhe repetir: ―acumular, economizar sempre,<br />

rapaz!‖<br />

Quando despertou do sonho e se achou sozinho no<br />

quarto, chegou à conclusão que estivera a sonhar. E<br />

passou as noites seguintes a ler até altas horas, para<br />

evitar o sonhar aqueles sonhos do diabo. Mas isso às<br />

vezes lhe tornava o sono mais tranquilo, o que não<br />

impedia que lhe apertassem a garganta e lhe asfixiassem,<br />

por feiticeiros e bruxos vindos do Catambor, do Bom-<br />

Escape, e do resto à parte, para bungular no seu quintal.<br />

Em todo o lado, a sua alma estava sendo praguejada. O<br />

seu nome era levado às igrejas da Muxima, Santa Ana,<br />

Nazaré; entrava aos ouvidos de santos e de quimbandeiros,<br />

nos livros de Deus, e nos de Diabo.<br />

Porém, por mais absurdo que fosse, a vida sabia<br />

absolver os seus inocentes. Zito, não tinha pecados… E<br />

ali estava ele. Cheio de força e de vontade de viver. Os<br />

sonhos não constituíam obstáculos. Eram os efeitos da<br />

alma que se purga.<br />

Possuidor daquele seu ar de franqueza, a mímica<br />

cativante e arrebatadora, a personalidade no trajar, que<br />

obstáculos o intimidariam? Não via esse preconceito snobe<br />

que tantos incultos enxergavam, em dialogar, em<br />

cumprimentar ou fazer um adeus a quem quer que fosse,<br />

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