o economista
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Aqui, ficava a ler, a olhar, a ver, a ser visto e<br />
tido como um grande amante dos livros, e não só. Certo<br />
dia, passava por ele um trio de lindas moças, e ficou<br />
diametralmente siderado ao ouvir uma delas dizer ―nesta<br />
casa, só moram já grandes muadiés‖…<br />
Para amortizar o êxtase, resolveu vir para dentro<br />
arrumar-se na sumptuosidade do seu catre. E aqui ficou<br />
durante muito tempo a meditar sobre a sua vida. A partir<br />
desse dia, começou a dedicar-se mais à leitura e a<br />
transportar consigo o volumoso livro, para onde quer que<br />
fosse.<br />
E passou a sonhar muito. Às vezes sonhava que estava a<br />
voar, a voar sobre o livro. Mas, eram sonhos difíceis.<br />
Houve um, em que havia fantasmas de todas as cores e<br />
idades, armados com diabólicos garfos, a lhe impedirem a<br />
aterragem. Outras vezes, acontecia conseguir identificar<br />
muitos desses fantasmas: patrões brancos, de quem em<br />
tempos idos fora criado, caxico, hoje deste, amanhã<br />
daquele, sempre a furtar-lhes; gente de todos os bairros<br />
por onde já passara e lhes tivesse pago patavina de<br />
dívida, e até o Coelho, o Sô Coelho, a quem nunca tivera<br />
roubado ou furtado, por ser ele quem lhe havia ensinado<br />
tantas e tantas artes, e sobretudo a de como ser rico…<br />
todos apareciam nos sonhos, a empurrá-lo para os céus. E<br />
no meio daquele do sonho, interrogou-se:<br />
―---- Será que vou para o Céu, ou será que vou para o<br />
Inferno?… Será que estou morto?…‖<br />
E quando viu continuar a desfilar ante os seus olhos<br />
todo o seu passado de sacristão, engraxador,<br />
cadiengueiro, ardina, batoteiro, monangambé, ajudante de<br />
quimbanguleiro, e ajudante de mecânico, aí, concluiu que<br />
estava morto e à caminho do Inferno.<br />
Era o que lhe havia ensinado o Coelho, o Sô Coelho,<br />
um comerciante para quem havia trabalhado, no musseque<br />
Sambizanga, e dele apreendido grande parte da sua<br />
filosofia de vida.<br />
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