o economista

—— O que é?! —— Agostinho Neto apanhar sova em
Kinshasa? —— indagou o Lúmpen.
—— Isso se calhar nem vem registado em nenhum
documento do movimento, mas qualquer militante dessa
época teve conhecimento disso, mas como pensam que isto
talvez manche a figura do Presidente, então eles ocultam
tacitamente tudo quanto é ou pensam que é ou tenha sido
uma nódoa para o historial do movimento.
—— O que o kota está a dizer, é semelhante ao que
se passou na União Soviética. Agora que estão a falar de
glaznost, perestroika, perestroika, é que está vindo ao
de cima muita casca de jinguba, muito lixo atirado lá no
mar alto deles.—— dizia o Estudioso, sob o olhar
silencioso e pasmado do Lúmpen e de muitos outros
clientes. —— Existe uma fotografia tirada na Praça
Vermelha, junto ao Kremlin, onde aparecia para além de
Lénine, muitos outros dirigentes como Stalin e tantos
outros que à medida que iam cagando fora do bacio, iam
sendo suprimidos daquela fotografia...
—— Qualquer dia a fotografia ficava sem ninguém! —
— acrescentou o kota Café.
—— Éh! Lá isso é verdade!—— prosseguia o Estudioso
—— Mas os factos não deixam de o ser, quando os seus
suportes são suprimidos ou destruídos. É verdade que
quando morre um mais-velho, é mais uma biblioteca que
também se fecha, mas mesmo que ele nunca em toda a sua
vida tivesse aberto a boca para dizer ―kizua ó xi ietu ió
ndo biluka‖, ou coisa parecida, ele teria chegado a essa
conclusão pelos factos que se lhe davam a constatar.
Porque tudo tem as suas leis, e as leis da vida não são
como as leis humanas, que são feitas mais ou menos de
acordo com as suas necessidades de determinado tempo, de
determinado grupo ou classe social no poder...
Nessa altura, a maior parte dos clientes
encontrava-se mais atenta à prosápia do Estudioso, que
prosseguia dizendo:
—— Eu, por exemplo, fiz tudo quanto me foi
possível para não ir à tropa. Numa situação que eu acho
21