o economista
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—— Em parte sim, mas essa mudança de que me estou<br />
a referir, não é apenas a da classe no poder, é uma<br />
mudança mais abrangente, mais radical...—— disse o<br />
Estudioso.<br />
—— Bom, —— interrompeu o Intelectual —— eu também<br />
estou a ver onde você quer chegar, até porque os nossos<br />
pontos coincidem, se bem que noto uma pequena confusão na<br />
apresentação ou exposição das tuas ideias. O que eu<br />
estava a querer dizer, é o seguinte: Se um dia houver<br />
eleições em Angola, não pensem que os que lá estão<br />
deixarão de ser gatunos e corruptos ou que os que querem<br />
lá também estar, deixarão de ser tribalistas e<br />
sangrentos, só porque mudou o sistema político do país,<br />
nunca mais! A mentalidade e a personalidade dos homens<br />
não muda da noite para o dia, e enquanto se espera que<br />
eles mudem, o povo vai sofrendo, continuando a sofrer, de<br />
barriga vazia, boca fechada e com a felicidade<br />
constantemente adiada...<br />
—— E então o que é que se deve fazer? —— perguntou<br />
o kota Café.<br />
—— É não deixar esses canalhas tomarem o poder! ——<br />
disse o Intelectual.<br />
Aflitas com a burla de que haviam sido alvo, as<br />
duas kimbetas de Das Fitas, encontravam-se ainda às<br />
voltas, a rodear pelo enorme mercado do Roque Santeiro,<br />
na esperança de acharem e surpreenderem as duas<br />
burladoras, mas foi tudo em vão.<br />
De regresso à casa, vieram todo o caminho a<br />
murmurarem-se e a lançarem blasfémias e pragas e<br />
promessas, com profundos muxoxos e favas a fazerem de<br />
pontuação e de acentuação, conforme fosse a carga<br />
explosiva de cada vocábulo. Ao se lhes cruzar alguma<br />
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