Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Em 1923 entraria em vigor novo Regulamento Sanitário 29 , que permaneceria vigente até o ano<br />
<strong>de</strong> 1934. Segundo SANTOS (2006a):<br />
“O acordo previa o cumprimento no nível estadual, embora com objetivos <strong>de</strong><br />
supervisionar os serviços preventivos em âmbito nacional (era proibido ferir a<br />
autonomia dos estados). Outra iniciativa importante foi a implementacao <strong>de</strong><br />
censos estaduais, seguido <strong>de</strong> estudo clinico-epi<strong>de</strong>miológico dos casos. O estado<br />
crescera na década <strong>de</strong> 20, proporcionando uma maior intervenção fe<strong>de</strong>ral na<br />
Saú<strong>de</strong> Pública. Em 1927 havia 12 mil doentes recenseados, e poucos<br />
Leprosários para interná-los.”<br />
Os Congressos <strong>de</strong> Higiene ocorridos durante a década <strong>de</strong> 1920 também constituíram um<br />
espaço para se <strong>de</strong>bater o problema da “lepra” no país. A legislação sanitária fe<strong>de</strong>ral e sua<br />
atuação frente às recomendações internacionais foi o tema apresentado sobre lepra no I<br />
Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Higiene <strong>de</strong> 1924, em Belo Horizonte; em 1926 o II Congresso em<br />
São Paulo <strong>de</strong>bateu o tema do isolamento domiciliar, e no III Congresso em Recife foram<br />
abordadas Educação Sanitária, Epi<strong>de</strong>miologia e Profilaxia no âmbito estadual (CUNHA,<br />
2005). A pesquisa brasileira avançava, e em março <strong>de</strong> 1927 seria criado um Laboratório <strong>de</strong><br />
Leprologia no Instituto Oswaldo Cruz, por iniciativa <strong>de</strong> seu diretor Professor Carlos Chagas,<br />
on<strong>de</strong> vários técnicos nacionais e estrangeiros estagiariam (MACIEL, 2007).<br />
Segundo MONTEIRO 30 (1995), haviam duas correntes da chamada elite técnica brasileira: os<br />
“isolacionistas”, representados pelos principais políticos e atores sociais do projeto antileproso<br />
implantado em São Paulo e <strong>de</strong>pois em todo Brasil, que comungavam da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />
todos os “leprosos” <strong>de</strong>veriam ser isolados, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da forma, do nível e do grau<br />
infectante; e os “humanitários” que “se caracterizavam pela proximida<strong>de</strong> com o doente e com<br />
a problemática da doença, por recomendarem medidas brandas <strong>de</strong> isolamento e por indicarem<br />
o isolamento domiciliar” e achavam que os leprosarios serviriam somente aos casos<br />
adiantados e somente se houvesse possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cura. (MONTEIRO, 1995; DUCATTI<br />
2009; SANTOS, 2006a).<br />
O cenário para as <strong>políticas</strong> a adotar quanto à “lepra” estava aberto, e três atores seriam<br />
fundamentais para <strong>de</strong>finir a forma <strong>de</strong> profilaxia da doença nas décadas seguintes: o Estado <strong>de</strong><br />
29 Decreto 16300, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1923.<br />
30 MONTEIRO (1995) <strong>de</strong>finiu, na verda<strong>de</strong>, três correntes: aqueles <strong>de</strong> postura humanitária <strong>de</strong>fendiam o<br />
isolamento institucional facultativo, paralelo ao isolamento domiciliar; os isolacionistas se dividiam em dois<br />
grupos: os “isolacionistas compulsórios” <strong>de</strong>fendiam o isolamento a todos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do estágio <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento e do tipo da “lepra”, e quem pu<strong>de</strong>sse, po<strong>de</strong>ria construir casas próprias e outras regalias, mas<br />
sempre no interior dos asilos-colônias, que <strong>de</strong>veriam ser em número suficiente para todos os leprosos do país; os<br />
“isolacionistas radicais” alegavam que era inviável o isolamento domiciliar e ainda sugeriam o isolamento em<br />
ilhas ou cida<strong>de</strong>s especialmente <strong>de</strong>dicadas para este fim, e as zonas <strong>de</strong> exclusão.<br />
109