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Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...

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confinamento <strong>de</strong>stes pacientes em instituições totais, on<strong>de</strong> o dinheiro, comércio e regras<br />

sociais eram rigidamente controlados pelo Estado e, portanto, a <strong>vida</strong> do doente era<br />

absolutamente monitorizada; C) a segregação <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas que jamais conseguiram<br />

se reintegrar, com preconceitos tão arraigados que mesmo hoje o <strong>de</strong>sconhecimento ainda leva<br />

à discriminação por parte dos “sadios” e dos próprios doentes, um estigma que se exten<strong>de</strong><br />

para seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes; D) a culpa, ligada especialmente aos conceitos cristãos <strong>de</strong> castigo e<br />

punição divina, que se iniciaram antes do Estado assumir estes doentes, mas que este mesmo<br />

Estado não procurou combater, visto que o papel da Igreja, especialmente a Católica, sempre<br />

foi complementar às ações do po<strong>de</strong>r público para estes doentes, os “leprosos” <strong>de</strong> Cristo; E) a<br />

piora das condições clínicas, pois as instituições não dispunham <strong>de</strong> terapêutica eficaz nas<br />

primeiras décadas, e mesmo a <strong>de</strong>scoberta da eficácia das sulfonas não foi capaz <strong>de</strong> reduzir as<br />

graves sequelas da doença, dada a rápida resistência do bacilo à monoterapia, e os Leprosários<br />

eram locais <strong>de</strong> isolamento, não <strong>de</strong> cura, contribuindo para o adoecimento físico e psíquico <strong>de</strong><br />

seus internos; F) finalmente, o abandono, que ocorreu com o fim do isolamento compulsório,<br />

já que os Leprosários <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser a gran<strong>de</strong> preocupação do po<strong>de</strong>r público, voltando-se<br />

para o diagnóstico e tratamento precoce <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> hanseníase, ignorando aqueles que,<br />

após segregados, per<strong>de</strong>ram toda a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reinserção na socieda<strong>de</strong>.<br />

Quanto a este último tópico, é importante reforçar que os pacientes per<strong>de</strong>m o suporte do<br />

Leprosário, mas a maioria não tem “para on<strong>de</strong> voltar”, ou muitas vezes já reconstituiu laços<br />

familiares e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s, e permanece no local on<strong>de</strong> viveu. Isto ocorre, porém, sem a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustento financeiro, sem condições para a reinserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, e<br />

a pessoa passa a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pensões e benefícios, via <strong>de</strong> regra insuficientes para suprir suas<br />

necessida<strong>de</strong>s. Especialmente porque hoje estes pacientes são idosos em sua maioria, que<br />

per<strong>de</strong>ram sua autonomia precocemente, e suas <strong>de</strong>mandas são muito maiores do que os<br />

benefícios possam cobrir.<br />

Assim, esta reconstituição histórica traz subsídios para o entendimento <strong>de</strong> como uma doença<br />

caracterizada pelo preconceito, pela segregação e por <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>s visíveis que expõem o<br />

paciente <strong>de</strong> maneira explícita, po<strong>de</strong> afetar <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>finitiva toda a trajetória <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> pacientes, servindo como base para uma reflexão acerca do papel do estado frente<br />

a doenças estigmatizantes.<br />

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