Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
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Entre os Séculos XII e XV estão registradas as maiores barbáries aos “leprosos”. Contribuem<br />
para isto o <strong>de</strong>sconhecimento acerca das causas das doenças, e o rótulo <strong>de</strong> punição divina. Em<br />
1253 todos os internos do Leprosário São Lázaro, <strong>de</strong> Jerusalém, são mortos pelos sarracenos.<br />
Entre 1231-1322, são acusados <strong>de</strong> ter envenenado os poços e o rei da França apreen<strong>de</strong> os bens<br />
dos Leprosários. Em 1321 Filipe V (1316-1322), o Longo, con<strong>de</strong>na a fogueira milhares <strong>de</strong><br />
hansenianos sob a acusação <strong>de</strong> que teriam envenenado as fontes <strong>de</strong> água. Também Eduardo I<br />
(1239-1307), em 1272, con<strong>de</strong>na os leprosos à morte, sendo enterrados vivos após assistir a<br />
sua própria missa <strong>de</strong> réquiem. (DUCATTI, 2009; CARVALHO, 2006)<br />
Em 1342, Clemente VI assume seu pontificado, em uma época <strong>de</strong> terror sanitário ocasionado<br />
pela Peste. Na epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> 1348-1352 leprosos e ju<strong>de</strong>us eram queimados vivos, consi<strong>de</strong>rados<br />
os gran<strong>de</strong>s culpados pela doença fatal. Em 1380 o rei Carlos VI, o bem-amado, con<strong>de</strong>na os<br />
hansenianos à fogueira, novamente sob a alegação <strong>de</strong> que teriam contaminado os mananciais.<br />
No ano <strong>de</strong> 1474 a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lyon expulsa todos os “leprosos, porcos e prostitutas”.<br />
(CARVALHO, 2006)<br />
Já em 1484 Inocêncio VIII emite a bula Summis <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rantes, noemando inquisitores que<br />
con<strong>de</strong>navam inocentes a morte sob a acusacao <strong>de</strong> produzirem a lepra através da bruxaria. Este<br />
é mais um símbolo enviesado da religião sobre a doença: a Igreja inquisitora atribuía a<br />
supostas bruxas o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> provocar “lepra” nas pessoas, e elas eram queimadas vivas pelos<br />
inquisitores, ou mortas pelas intermináveis torturas praticadas em nome da fé. (DUCATTI,<br />
2009; CARVALHO, 2006)<br />
É importante ressaltar ainda que o diagnóstico inicial da “lepra” na Ida<strong>de</strong> Média não era feito<br />
por médicos, tampouco pelos Sacerdotes, mas pela população (DUCATTI 2009). Assim,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIII ou XIV os leprosos podiam ser <strong>de</strong>nunciados e <strong>de</strong>veriam comparecer<br />
perante o júri que os sentenciaria para a condição <strong>de</strong> “culpado” (MACIEL, 2007). BROWNE<br />
(1985) lembra, porém que a Igreja era o único Juiz que <strong>de</strong>finia o diagnóstico <strong>de</strong>finitivo, e<br />
também os cuidados a serem dispensados.<br />
Além disto, especialmente nos séculos XIII e XIV os “médicos” consi<strong>de</strong>ravam que a “lepra”<br />
era incurável, lembrando-se que o i<strong>de</strong>ário da medicina científica somente surgiria no século<br />
XX em 1910 com Flexner. Até então, bruxarias, magia, punição divina e alinhamento dos<br />
astros eram também relacionados à etiologia das doenças. Em linhas gerais, seu raciocínio<br />
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