Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
criada a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra do Distrito Fe<strong>de</strong>ral 34 ,<br />
com vários integrantes da elite carioca. (SANTOS, 2006a; MACIEL, 2007). Em 1929, era<br />
lançado o periódico mensal “Boletim da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Assistência aos Lázaros e Defesa<br />
contra a Lepra”, com ensinamentos para minimizar o estigma social, notícias sobre a luta antileprosa<br />
no país e esclarecimentos a população leiga. A publicação <strong>de</strong>fendia os dispensários<br />
para efetivamente se “vencer esta luta contra o mal <strong>de</strong> Hansen”, mas também apoiava a<br />
construção <strong>de</strong> hospitais para o tratamento, com a condição <strong>de</strong> um tratamento científico com<br />
compaixão e pieda<strong>de</strong> (MACIEL, 2007).<br />
Em fevereiro <strong>de</strong> 1932, Alice Tibiriçá reuniu, na se<strong>de</strong>, os representantes das socieda<strong>de</strong>s para<br />
criar a Fe<strong>de</strong>ração das Socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra, que<br />
seguiu os i<strong>de</strong>ais autônomos <strong>de</strong> ação preconizados por ela, mas gradativamente se alinharia<br />
com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> governista 35 (SANTOS, 2006a). Em 1933 a Socieda<strong>de</strong> passou a ser<br />
alvo <strong>de</strong> uma campanha “difamatória e equivocada” a partir da imprensa paulista e do diretor<br />
do Departamento <strong>de</strong> Profílaxia da Lepra, Francisco <strong>de</strong> Salles Gomes Júnior, que <strong>de</strong>nunciavam<br />
corrupção e <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> verbas das doações. O governo suspen<strong>de</strong>u uma coluna <strong>de</strong> Tibiriçá no<br />
jornal “Correio paulistano”, <strong>de</strong>dicada à causa da lepra e restringiu as verbas da entida<strong>de</strong>.<br />
Deste episódio surgiu o lema que Alice Tibiriçá posteriormente adotaria: “Com o governo, se<br />
preciso; sem o governo, se possível; e até mesmo, contra o governo, se assim for necessário”<br />
(CURI, 2002). Porém, este foi o momento em que a direção da Socieda<strong>de</strong> encontrou apoio no<br />
governo fe<strong>de</strong>ral e principalmente da Inspetoria <strong>de</strong> Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas.<br />
(MACIEL, 2007). Percebe-se que a dicotomia entre os “humanitários” especialmente das<br />
Socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Assistência incomodava o estado <strong>de</strong> São Paulo, que tinha uma visão<br />
“isolacionista” quanto à profilaxia da doença. (SANTOS, 2006a)<br />
34 Na Capital Fe<strong>de</strong>ral (Rio <strong>de</strong> Janeiro), o trabalho filantrópico era <strong>de</strong>senvolvido com apoio do engenheiro e<br />
empresário Guilherme Guinle, mas o foco era mais científico, criando o <strong>Centro</strong> Internacional <strong>de</strong> Leprologia,<br />
sediado no Instituto Oswaldo Cruz (SANTOS, 2006a).<br />
35 A estreita proximida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com os leprologistas criaram uma ligação entre a Socieda<strong>de</strong> e os<br />
dirigentes do Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, em prol <strong>de</strong> uma açào comum. Alice Tibiriçá era recebida pelos<br />
Inspetores <strong>de</strong> Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas, participava <strong>de</strong> concursos, como o da escolha do melhor<br />
cartaz <strong>de</strong> propaganda anti-leprosa para educação sanitária e visitava hospitais como o <strong>de</strong> Curupaity, em<br />
Jacarepaguá. (MACIEL, 2007). É interessante notar que as Socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Assistência se referiam sempre a<br />
doença como o “mal <strong>de</strong> Hansen”, evitando a terminologia “lepra”.<br />
111