Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A cura para a doença extinguiria a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> isolar os reservatórios humanos do bacilo,<br />
mas o isolamento já havia se mostrado ineficaz, tanto em outros países <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época<br />
medieval, quanto no Brasil, on<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> casos não se reduziu com a prática<br />
segregacionista.<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> o tratamento ambulatorial ser indicado para novos casos a partir da década <strong>de</strong><br />
60, os pacientes internados nos Hospitais-colônia somente seriam plenamente “libertados das<br />
correntes” na década <strong>de</strong> 80, medida tardia que levará os doentes a acionar o estado em busca<br />
<strong>de</strong> reparação pelo dano causado. Em 2007, o Estado brasileiro reconhece seu erro, e através<br />
da Lei Fe<strong>de</strong>ral 11.520/2007 69 e Medida Provisória n o 373 70 estabelece o pagamento <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>nizações aos ex-internos, fato que somente em 2009 começaria a se traduzir na prática.<br />
Este é o reconhecimento por parte do Estado <strong>de</strong> que sua abordagem em relação aos<br />
hansenianos foi equivocada. Segundo Artur Custódio – presi<strong>de</strong>nte do MORHAN nacional:<br />
“A importância para o Morhan, na verda<strong>de</strong>, é o reconhecimento histórico da<br />
dí<strong>vida</strong> que o Governo Brasileiro tem com estas pessoas que foram isoladas...<br />
separadas né? O Brasil isolou eh... mais do que era necessário, né? (...) Um<br />
chegou a me dizer que, olha Arthur, eu provavelmente nem sei como é que eu<br />
vou utilizar este dinheiro, mas só <strong>de</strong> saber que alguém reconheceu que errou<br />
comigo, isso é muito importante.”<br />
(Arthur Souza – Coor<strong>de</strong>nador Nacional do Morhan In: Instituto J Andra<strong>de</strong>,<br />
S/D)<br />
Ainda hoje estes pacientes sofrem com o estigma proporcionado pelo isolamento e pela<br />
simbologia que impregna a doença – apontada pela Bíblia Cristã como castigo divino,<br />
relacionada ao pecado pela Igreja Católica, e punida com a morte pela Europa Medieval. O<br />
estigma é tema recorrente em hansenologia, e nem mesmo a mudança do nome da doença foi<br />
capaz <strong>de</strong> estancá-lo, já que gerou ainda mais confusão em uma população leiga e<br />
<strong>de</strong>sinformada.<br />
A forma como o Estado lidou com a doença serve como exemplo <strong>de</strong> uma política baseada em<br />
medidas discriminatórias <strong>de</strong> cunho eugenista, visando a “proteção dos sãos”, que além <strong>de</strong> não<br />
surtir efeitos, gerou novos problemas para os pacientes.<br />
As conseqüências diretas das <strong>políticas</strong> adotadas foram: A) a dissolução <strong>de</strong> laços familiares à<br />
época do isolamento, com a ruptura <strong>de</strong> núcleos familiares <strong>de</strong> maneira trágica; B) o<br />
69 Lei 11.520/2007. Dispõe sobre a conceção <strong>de</strong> pensão especial às pessoas atingidas pela hanseníase que foram<br />
submetidas a isolamento e internação compulsórios.<br />
70 Medida Provisória n o 373, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2007. Dispõe sobre a conceção <strong>de</strong> pensão especial às pessoas<br />
atingidas pela hanseníase que foram submetidas a isolamento e internação compulsórios.<br />
158