Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
médicos colaboradores (ROTBERG, 1977a). Outras instituições asilares, a partir <strong>de</strong> meados<br />
da década <strong>de</strong> 1960, se transformariam em locais com vocação para a pesquisa científica e<br />
cirurgia <strong>de</strong> reabilitação (MACIEL, 2007).<br />
A en<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> “lepra” no Brasil não <strong>de</strong>cresceu com os Leprosários, e as estatísticas<br />
continuavam apontando o país como o segundo mais endêmico do globo, atrás apenas da<br />
Índia (CURI, 2002). Ela expandiu-se <strong>de</strong> maneira similar a países on<strong>de</strong> os doentes nunca foram<br />
presos e encarcerados. O isolamento compulsório foi con<strong>de</strong>nado “como po<strong>de</strong>ria esperar quem<br />
quer que tivesse estudado cuidadosamente os acontecimentos noruegueses.” (ROTBERG,<br />
1977b). As estatísticas da década <strong>de</strong> 1960 evi<strong>de</strong>nciaram que a en<strong>de</strong>mia crescia a <strong>de</strong>speito do<br />
número <strong>de</strong> isolados. Não foi preciso a invenção dos primeiros medicamentos para que este<br />
fosse abolido. CURI (2002) afirma que “o isolamento frustrou-se por si próprio”. O mesmo<br />
fórum que instituiu o isolamento, questionou sua legitimida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>monstrou sua inutilida<strong>de</strong><br />
(MACIEL, 2007).<br />
Em 1962, a lei <strong>de</strong> 1949 que instituiu o isolamento compulsório dos “leprosos” foi revogada<br />
pelo <strong>de</strong>creto n.º 968. Apesar disto, o <strong>de</strong>creto concedia a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento fora do<br />
isolamento “ainda em regime <strong>de</strong> exceção”, e a internação em Colônias seria seletivo “a juízo<br />
da autorida<strong>de</strong> sanitária”. Ou seja, este <strong>de</strong>creto não se diferenciou substancialmente da lei <strong>de</strong><br />
1949, mas representou a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma profilaxia livre do isolamento. Curiosamente,<br />
este mesmo <strong>de</strong>creto preservava a prática preventorial (CURI, 2002), e a extinção “oficial” do<br />
isolamento <strong>de</strong> 1962 60 não teria o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> lei para modificar práticas:<br />
“O ato não mudou a prática médica, talvez por ser um simples <strong>de</strong>creto e não<br />
lei, por não estabelecer mecanismos <strong>de</strong> fiscalização do cumprimento pelos<br />
Estados, e por transferir do Departamento Nacional <strong>de</strong> Sau<strong>de</strong> Publica<br />
(autorida<strong>de</strong> sanitária) para o Governo Fe<strong>de</strong>ral (geral e inespecífico). Além<br />
disso, o momento político conturbado <strong>de</strong> Jânio Quadros, o isolamento ser<br />
regido por uma Lei (610, <strong>de</strong> 13/01/1949) e colocado como explicitamente<br />
compulsório. Foi o caso <strong>de</strong> São Paulo, que até 1967 – com a entrada <strong>de</strong> Abraão<br />
Rotberg no Departamento <strong>de</strong> Profilaxia da Lepra do estado – manteve o<br />
isolamento até mesmo a pacientes que se submetiam ao tratamento químico.”<br />
(MACIEL 2007)<br />
“Juridicamente este <strong>de</strong>creto não po<strong>de</strong>ria “revogar” a lei <strong>de</strong> 1949 que, segundo a<br />
hierarquia legislativa, necessitava <strong>de</strong> uma outra lei para revogá- la. Embora,<br />
este <strong>de</strong>creto ainda fosse semelhante à lei <strong>de</strong> 1949 ele fornecia algumas brechas<br />
que foram bastante utilizadas na época (...) No entanto, <strong>de</strong>vido a essas<br />
particularida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>creto que não revoga lei, nem todos utilizavam as brechas<br />
60 Decreto n° 968 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1962, assinado pelo Primeiro-Ministro Tancredo Neves.<br />
136