17.04.2013 Views

Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...

Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...

Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Enfatizou-se a <strong>de</strong>scoberta precoce <strong>de</strong> casos novos “<strong>de</strong> modo a se evitar a propagação da<br />

infecção à comunida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> modo a dar-se ao doente o benefício do tratamento”. Ressaltavase<br />

o exame dos comunicantes, e o exame periódico das crianças em ida<strong>de</strong> escolar “cuja<br />

recepti<strong>vida</strong><strong>de</strong> à lepra é indiscutível”. Há avanços na classificação, mas ainda mantida em dois<br />

tipos: lepromatosa e tuberculói<strong>de</strong> ou nervosa 14 . Os leprologistas brasileiros e sulamericanos<br />

propunham o acréscimo do tipo in<strong>de</strong>terminado aos dois tipos <strong>de</strong> “lepra”, a chamada<br />

“Classificação Sul-Americana” proposta por Eduardo Rabello (1905-1989), que não foi<br />

contemplada. (MACIEL, 2007). O terceiro tipo aten<strong>de</strong>ria aos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sem<br />

acesso a exames laboratoriais com biópsias para comprovação <strong>de</strong> diagnóstico.<br />

DUCATTI (2009) relaciona a manutenção do isolamento ao avanço do capitalismo, e a uma<br />

política eugenista adotada especialmente no Brasil:<br />

“O Mycobactenum Leprae tem uma estrutura real e concreta, cujo esforço<br />

científico que permitiu sua observação nos finais do século XIX é, antes <strong>de</strong><br />

mais, um esforço <strong>de</strong> sujeitos históricos i<strong>de</strong>ologicamente imbuídos da tentativa<br />

<strong>de</strong> solucionar uma problemática que afetava interesses <strong>de</strong> setores <strong>de</strong> classes<br />

que convinham ao capital; isto é, longe <strong>de</strong> ser uma aspiração universal à<br />

sobrevivência da humanida<strong>de</strong>, é necessário que se garanta, através da saú<strong>de</strong><br />

pública, uma classe trabalhadora minimamente saudável para po<strong>de</strong>r ven<strong>de</strong>r sua<br />

força <strong>de</strong> trabalho e, ao mesmo tempo, evitar o contágio às classes dominantes.<br />

Acresce-se que, politicamente, a classe que ven<strong>de</strong> sua força <strong>de</strong> trabalho, em<br />

condições <strong>de</strong> <strong>vida</strong> precária, po<strong>de</strong> ser um óbice ao capital. Enfim, o que levou o<br />

Mycobacterium leprae a ser observado pelo/a cientista não foi a motivação<br />

tangida pelo espírito científico puro. A hanseníase, no século XIX, ameaçava o<br />

império britânico. Na realida<strong>de</strong>, todos/as os/as europeus/éias que habitavam os<br />

pontos mais remotos do império (especialmente Ásia e África) estavam<br />

potencialmente em perigo. Todos/as os/as cidadãos/as, crianças, jovens e<br />

velhos/as, <strong>de</strong> todas as classes sociais, estavam sob a ameaça da hanseníase.<br />

Todos/as encontravam-se aflitos/as diante do medo daquilo que eles<br />

consi<strong>de</strong>ravam uma "<strong>de</strong>generação racial", causada pela figura da hanseníase. No<br />

imaginário coletivo do senso comum dos/as cidadãos/as britânicos/as,<br />

espraiou-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que nos ares das colónias corria-se o risco <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolver a hanseníase. Po<strong>de</strong>ríamos indagar se esse temor não seria as bases<br />

irracionais para o <strong>de</strong>senvolvimento, sim, <strong>de</strong> teorias racistas.” (DUCATTI,<br />

2009, p.71).<br />

Até o final da primeira meta<strong>de</strong> do século XX não havia tratamento específico para a doença e<br />

as várias tentativas eram ineficazes (SANTOS, 2008; SANTOS, 2006a). A primeira droga<br />

utilizada, ainda <strong>de</strong> maneira ineficaz (DUCATTI, 2009) foi a chaulmoogra (Taraktogenos<br />

14 A forma lepromatosa era a forma maligna da doença, com abundância <strong>de</strong> bacilos, além <strong>de</strong> lesões na pele,<br />

alteração da sensibilida<strong>de</strong> periférica às manchas, tipos <strong>de</strong> atrofias ou sequelas <strong>de</strong> paralisias; a tuberculói<strong>de</strong> ou<br />

nervosa representava os casos benignos da lepra, <strong>de</strong> bom prognóstico, com “relativa resistência à infecção”,<br />

mesmo que contivessem estes distúrbios, ou alguma mancha na pele que não fosse <strong>de</strong> origem leprótica.<br />

45

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!